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Ideias
2017-12-15 às 06h00
Comecei o ano, escrevendo sobre Educação, e, abeirando-nos do final, a esta temática regresso. Os acrónimos que chamo a título referem-se a estudos internacionais, relacionados com as competências de interpretação de texto escrito - o primeiro - e de raciocínio matemático, o segundo. Portugal deu um tombo em gramática e evolui em tabuada. Vá lá, menos mal. Eu arriscaria mais na análise, se soubesse como o estudo foi conduzido.
Pode parecer que desconto desfeitas, mas não ficaria de bem comigo mesmo se não o aludisse. Quero referir-me ao facto de que fui psicólogo, em tempos idos, e que em ambiente escolar procurei dar o meu melhor. Não teria sido suficiente, posto que me correram de escantilhão. Tem para cima de vinte anos o primeiro texto que escrevi - e publiquei - sobre Psicologia e Educação, nele discorrendo sobre Rui Carrington da Costa, insigne bracarense de adopção, que teria sido um dos primeiros psicólogos valorosos do nosso País. Em Braga, entre os que contam sessenta e muitos, encontra-se quem de Carrington da Costa tenha dulcíssima imagem. Aproveito o ensejo para registar que foi uma das personalidades que a Velha Senhora postergou. Para nossa desdita.
Nunca senti que a Educação me levantasse problemas que não fosse possível operacionalizar, e racionalizar em termos de solução. Partilhei intuições com quantos trabalhava; insisti, até ao limite, e para lá dele, em propostas que pudessem ser postas em marcha, que fosse a medo. Devo ter chateado muita gente, talvez de calibre análogo a este secretário-de-estado que vem de se demitir «por motivos pessoais». Não é crime ganhar dinheiro por trabalho realizado, mesmo que muito - o dinheiro. Quanto ao resto, não sei. Que conselhos vergonhosos pode ter dado um consultor que se demite? Fracotes? Nenhuns?
Sei que faço um curto-circuito. Serve, o pensamento fluido que aqui expresso, como demonstração de que, em Portugal, o problema nunca é verdadeiramente de dinheiro - de verbas, para ser mais elegante. O sarilho, mesmo, habitualmente, é o de que, quem perto da massa está, outro cuidado não tem que o de se manter à boca do pipo. Enquanto corre o tinto.
Estamos no sofrível, em compreensão. A Finlândia - da Escandinávia valorosa, segundo o nosso grande Presidente - está ali a roçar o pódio, ocupado pelos temíveis russos, que tudo inquinam no nosso belo mundo. Recordo que já o Sócrates tinha ido fazer um seminário sobre Educação à Finlândia, lembram-se. Terá ele dado um salto à Lapónia, e tirado a Parque Escolar do cestinho das prendas? O Guterres também tinha a paixão pela Educação. É capaz de ter sido uma paixão não correspondida. Acontece. Eu que o diga. O Costa diz que o nosso opressivo deficit é o da Educação. As esquerdas, em bloco, atiram para Salazar e Caetano o nosso atraso educacional. Quarenta e alguns já passaram, e os ilustres do novo regime ainda não foram capazes de dar conta do recado? Não estarão eles, todos, a mangar connosco?
Por recaída, já nestas páginas tenho abordado questões de Educação. Tenho noção de outros saberão mais do que eu. Tenho noção, também, que, neste preciso momento, haverá um, e outro, e outro, profissional empenhado que se sente de cabeça à roda, a pontos de arrancar cabelos, por desejar fazer algo de importante e não encontrar quem o ouça, quem o valide, quem o escore. E é por eles que me atrevo, que de ministros e primeiros-ministros estamos conversados.
É habitual dizer-se que fraca é, entre nós, a sociedade civil. Reivindicamos pouco. Encostamos pouco os titulares de cargos públicos à parede. Não é aceitável que não se consiga mudar uma sociedade no espaço de uma geração. Se não é feito, é porque quem está ao Poder não tem a mínima noção dos passos a dar. Transferimos a esperança a cada década, para estes, para aqueles, e tristes constatamos que continuamos com as maiores taxas de reprovação e abandono escolar, com níveis sofríveis de rendimento. Bato na tecla que já tenho batido: não é mau de todo, o sistema de ensino em Portugal, tanto que, quem vai para fora, faz brilharetes com uma perna às costas. Não somos burros, nem temos maus professores. O problema, realmente, é que há uma parcela não desprezível da população escolar - entre 15% e 20% - que não adere ao modelo nuclear vigente, e tudo o que de seguida vem é apresentado como um remedeio.
Iguais são, os alunos, enquanto cidadãos, mas muito distintos em estrutura interna. Note-se que nem sequer falo de ambiente familiar. Querer que dois alunos radicalmente distintos aprendam o mesmo, e da mesma maneira, é como esperar que um velocista e um maratonista corram as provas um do outro com idênticos níveis de sucesso. É impossível, e o resto é conversa.
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