Braga - Concelho mais Liberal de Portugal
Ideias
2019-02-05 às 06h00
Tinham razão os que me acusavam de não saber falar sobre outra coisa que não os esqueletos no armário que o PS tinha escondido na Câmara Municipal de Braga. Foi, concedo-o hoje, de uma injustiça e imprevidência totais. Como pude, na minha inocência, pensar que as Parcerias Público-Privadas dos campos sintéticos, a eterna fatura da construção do mais caro estádio do Euro 2004 (custo por lugar), as dívidas da Fundação Bracara Augusta, a que se somaram as devoluções de fundos comunitários por projetos mal implementados podiam servir de arma de arremesso? Sobretudo para justificar a suposta inércia da autarquia em resolver problemas estruturais do concelho, como a inexistência de espaços de excelência para receber eventos internacionais (já resolvido pela intervenção de fundo no Fórum Braga), a requalificação dos bairros sociais (que está a ser feita), a renovação da frota dos transportes públicos (em plena marcha) ou a multiplicação de ciclovias no perímetro urbano e suburbano (ainda recentemente robustecida pelo anúncio de mais corredores na variante da Encosta).
Insisti, sem vergonha, na desculpa dessas contas, feitas sem medida, para demonstrar a vertigem de uma gestão que tem de lidar com um orçamento em que dois terços da receita estão consignados a pagamentos de despesa fixa. Hoje percebe-se, com cada vez mais pertinência, que o terço que sobra não chega sequer para fazer face aos tais esqueletos, quanto mais para “fazer obra”.
O problema, porém, não eram os esqueletos, ou melhor, não eram só os esqueletos. Verifica-se que o que existe é muito mais do que isso, é uma verdadeira casa de horrores que encobre, a cada canto, um susto de morte para as contas públicas de Braga.
Quando, em sessão da Assembleia Municipal, pude dizer, olhos nos olhos, ao Presidente da Câmara e às bancadas com assento naquele fórum, que o orçamento para 2019 ainda não era o nosso (PSD) orçamento, vi o escárnio com que muitos dos presentes, do lado da oposição, contemplaram essa afirmação. Julgo ser agora evidente, se não era já à altura, que o que queria dizer é que não pode um grupo parlamentar e um partido, apoiantes da atual maioria, rever-se completamente num instrumento de gestão que coloca as algemas fechadas nos pulsos do executivo municipal deixando a chave partida na ranhura, acompanhada por uma nota, escrita em papel vegetal, dizendo “Agora sejam felizes!”. É isto o orçamento que idealizámos para a cidade, para os bracarenses, para a construção de uma Braga diferente? Com certeza que não. É o orçamento que quem nos precedeu nos autorizou a retocar. Sim, retocar, porque quem escreveu na pedra o que haveria de ser pago anualmente, por várias décadas e sem rebuço ou hesitação, foi o PS. Sozinho. A suprema ironia da gestão financeiramente sustentável que o PS não só apregoava como tentava suportar em leituras transviadas de pareceres técnicos de entidades externas ao município, revela-se no facto de caber à Coligação Juntos por Braga governar os destinos da autarquia com os despojos que (não) sobram dos desmandos do passado.
É o PSD, o CDS, o PPM; é Ricardo Rio e são os seus vereadores os primeiros prejudicados pela insistência de uma ferida aberta, curada com sal (“para grandes males…”), que, de cada vez que parece entrefechar-se, logo choca com outra fatura cortante, reabrindo e parecendo condenada à inevitável gangrena orçamental; E são os bracarenses os principais perdedores de negócios e empreitadas de valor acrescentado duvidoso, mas de sangria orçamental garantida. Perdoem-me a visão grotesca das contas públicas, mas ela não será mais grotesca do que a realidade de viver num concelho em que o governo de todos nós acaba de ver penhoradas as contas que lhe permitem gerir o quotidiano das pessoas, bens e infraestruturas que garantem o cumprimento do contrato social que “assinámos”, na qualidade de cidadãos e (portanto) pagadores de impostos.
É triste ver Braga nas notícias por más notícias, mas é pior a impotência de quem nada pode fazer senão honrar os compromissos que não desejou, não negociou e não validou.
Tudo somado, entre esqueletos e assombrações, o executivo camarário que dirige os destinos do concelho não é uma equipa de vereadores, mas de caça-fantasmas. Valha-nos a satisfação de saber que, nas histórias de encantar, os heróis ganham sempre e a esperança do crer que, nas estórias de contar, também possa vir a ser assim.
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