Os bobos
Escreve quem sabe
2019-10-11 às 06h00
Longe vão os tempos em que os mensageiros eram considerados pessoas de valor e de coragem que transportavam as mensagens como representantes de todo um povo.
Independentemente do conteúdo da mensagem, o destinatário cumpria a obrigação moral de respeitar o mensageiro, uma vez que este era apenas o portador de algo que representava todo um povo ou império.
Havia uma consciência coletiva que impedia qualquer dano moral ou físico ao mensageiro.
Estas palavras que aqui escrevo, retratam o quanto me incomodou o mediatismo negativo que se criou à volta de uma adolescente de 16 anos que teve a força e a coragem (que eu não teria), de representar todo um povo. Povo este que terá os seus dias contados, caso não seja rapidamente alterado o percurso iniciado na revolução industrial, e que está cientificamente provado que é responsável por inúmeras mudanças ambientais.
A ativista sueca Greta Thunberg é para mim um exemplo de coragem e de representação de que as próximas gerações poderão fazer a diferença. Se pensarmos em quantos de nós seriam capazes de assumir um discurso na Cúpula do Clima das Nações Unidas, em Nova York, a 23 de setembro deste ano, concluiremos certamente que poucos de nós o seriamos, independentemente da idade e escolaridade de cada um.
Greta Thunberg não será certamente o ser humano mais perfeito deste planeta, mas é uma adolescente que teve a capacidade de assumir em público as palavras que muitos de nós diariamente dizemos em silêncio. Palavras que precisam de ser urgentemente ouvidas por aqueles que estão à frente das várias nações.
Greta Thunberg não se limitou a escrever mais um “post” no facebook ou de trocar ideias no café ao final do dia. O que a jovem Sueca fez foi percorrer parte do globo para ir pessoalmente transmitir, num clima desconfortável e demasiadamente preso por interesses políticos, a mensagem que a todos nós defende e protege.
O nosso direito à vida e a um mundo melhor e sustentável.
Mas a mensagem de Greta não foi aparentemente clara para alguns, que optaram por dar mais importância e destaque à mensageira do que à mensagem que simboliza uma luta desesperada contra o tempo para a continuação da espécie humana.
Era de esperar que a causa que defende e a curta idade da mesma, a fizessem escapar a um clima de suspeição e de jogos políticos.
Nos dias seguintes às declarações de Greta na ONU, as redes sociais e os meios de comunicação foram literalmente inundados não pelas palavras de alerta proferidas e pela urgência de que os líderes mundiais as assumam, mas sim por questões monetárias que interligavam a mensageira a vários partidos e a grandes fortunas, como instrumento manipulado para outros fins.
Num mundo que carece de mais união e força contra interesses económicos que antecipam finais dignos de filmes de ficção científica sobre o fim do mundo, era de esperar que a sociedade evoluída tivesse mais consciência de que não deveria ser o mensageiro o centro da nossa atenção. O que importa é a mensagem e o conteúdo que é trazido até nós.
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