Os bobos
Voz à Saúde
2019-11-21 às 06h00
No início de cada ano letivo, verifica-se um boom de comportamentos disruptivos nas escolas, comportamentos esses que se vestem de variadíssimas roupagens, desde o atropelo aos mais elementares direitos que a cada um assiste de ser tratado com respeito, ao ato gratuito de agressão física.
A dificuldade no cumprimento de regras, sobretudo nos anos iniciais de ciclo, tem merecido uma reflexão profunda, por parte dos profissionais de educação, perspetivando a definição de planos de ação que contribuam para incutir nos alunos princípios que, à priori, deveriam estar interiorizados, minorando os efeitos que, inevitavelmente, acabam por refletir-se no clima de escola.
Da análise da emergência, tão precoce, de atos de desrespeito, por pessoas e bens, patente, sobretudo, em alunos de uma faixa etária em que é expectável que acatem as diretrizes dos profissionais que os acompanham, conclui-se que a resposta para um “mal” que afeta, em maior ou menor escala, todas as escolas, tem que passar pela concertação de estratégias entre a escola e a família.
No entanto, a escola tem sido esvaziada de poderes e, paralelamente, a família tem vindo a demarcar-se do seu papel, caindo numa permissividade que em nada contribui para que lhe seja reconhecido o estatuto de autoridade que, na família como na escola, sustenta o equilíbrio indispensável ao funcionamento de qualquer estrutura.
Torna-se, assim, em muitas situações, extremamente difícil, e mesmo impossível, concertar estratégias e, sobretudo, implementar qualquer plano de ação, ficando a escola a braços com um problema que, apesar de alimentar alguns órgãos de comunicação social, a continuar a ser subvalorizado, acabará por provocar a derrocada de uma sociedade já de si tão fragilizada.
Há dias li um artigo do investigador Helder Ferraz em que o autor afirma que “Os comportamentos das crianças nas escolas refletem a sociedade que as educa.
É preocupante que as crianças desconheçam os limites da sua liberdade quando esta se sobrepõe à liberdade e ao bem estar dos outros, principalmente no interior do espaço escolar.”
Efetivamente, não só é preocupante como é sintomático de uma doença cuja cura não depende da administração de fármacos – a ausência de competências de natureza pessoal, social e emocional, alicerces para a transformação da sociedade em que vivemos, uma sociedade tão pobre em referências verdadeiramente democráticas, em que a liberdade de cada um seja respeitada; em que o livre arbítrio possa ser exercido sem constrangimentos; em que o direito à participação ativa responsável seja encarado numa perspetiva construtiva e em que o bem comum esteja acima de quaisquer interesses.
Efetivamente, é preocupante, mas não estranho, se analisarmos bem o fosso cavado entre o verdadeiro sentido de se viver em democracia e a prática reiterada de atropelos aos direitos claramente consagrados numa constituição que, nos tempos que correm, tão bem fica na prateleira de qualquer biblioteca.
Talvez esteja na hora de encararmos, com a seriedade que o assunto requer, um problema que, pese embora a eloquência de alguns discursos, reflete, apenas, a imagem de uma sociedade deserta de princípios, e que, infelizmente, se constitui numa referência para uma percentagem significativa dos nossos jovens.
A escola, o bode expiatório de todas as maleitas, abriu as portas, numa demonstração inequívoca de predisposição para encontrar respostas, mas não pode fazê-lo isolada e desprovida de ferramentas, porque ao contrário de um qualquer edifício que, quando desmorona, se pode reconstruir, em educação, se os alicerces não forem seguros, dificilmente se poderá reconstruir o edifício.
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