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A trotinerte

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A trotinerte

Ideias

2020-01-24 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Já lhe calhou de ver uma trotinerte dois, três, quatro dias parqueada ao calhas, encostada a uma fachada, numa nesga de estacionamento automóvel? Já se interrogou sobre o sentido positivo desta enxertia na mobilidade urbana? E das tarifas de utilização, o que acha? Ah! Tenho uma pergunta mais capciosa: investiria capitais seus num bisegre deste calibre? E a novidade em si mesma, é coisa que mereça aprovação? Resultará da iniciativa privada, e cada uma queima o dinheiro como quer, até falir, ou será uma dessas ideias luminosas que determinadas pessoas têm, que vingam sem desembolsarem do seu?
Qual será a cidade mais trotinerte do País? Em Braga há as alaranjadas, as esverdeadas, as cinzentas: serão de companhias concorrentes e custo combinado? Serão equipamentos de robustez ou fiabilidade distinta, de diferente autonomia? Quem deveria ter-nos feito chegar um esclarecimento, um manual? Precisaremos de seguro, e com que coberturas? Poderemos ser multados por autoritário agente? Qual o grau de alcoolemia passável? A trotipraga estará para durar?
A cidadania faz-se de todas as perguntas, apela à totalidade dos escrutínios. A cargo de quem estiveram os trabalhos de preparação das praças destinadas aos veículos? Terão sido suportados pela edilidade? E se privados são os equipamentos, pagarão eles taxas de ocupação do espaço público? Ou estarão livres de encargos, por via do vanguardismo?
Digamos que a mobilidade do futuro não prescinde das trotinetes, veículos mais cómodos, transportáveis e arrumáveis do que uma bicicleta, móvel que a um bracarense possa permitir chegar à estação da CP ou à Central de Camionagem num quinto do tempo que uma pessoa levaria a pé, num tempo similar ao que a mesmíssima pessoa gastaria para vencer a distância de automóvel, considerando os estacionamentos, os semáforos, os sentidos proibidos. Quem o desdenha? Mas se a trotinete é uma solução antecipável da mobilidade do futuro, um recurso do dia-a-dia para as deslocações casa-trabalho, para incursões ao supermercado de mochila às costas, o que são os equipamentos de aluguer que pululam nos nossos passeios? Poluição? Armas de arremesso? Serão as trotinetes tão-só um item cintilante em relatório anual de actividades, uma provazinha de modernismo flamejante?
O progresso exige eficiência, e a economia de tempo é um parâmetro a levar em conta. A economia de energia, a utilização de energias limpas é um imperativo inquestionável. Ora, se é à boleia desta dupla condição que as trotinetes ganham implantação nas nossas cidades, que mal, pois, lhes cai o epíteto de trotinerte e a carta de oferta de recreio, tipo os burricos do Bom Jesus.
Dependemos do transporte individual, mais do que deveríamos, do automóvel, mais do que o aconselhável, da rodovia muito para lá do que é decente. António Costa, que em pequenino talvez quisesse ser maquinista, acordou há dias para a beleza de um Portugal fabricante de comboios. Que bem que ficávamos na foto! Quem nos impede de sonhar com uma linha de metro ligeiro entre Braga e Guimarães, entre Braga e Esposende? Quão mais não poupávamos o ambiente, quão melhor não desfrutaríamos de uma jornada de praia? Como? A escala previsível de utilização. Que as trotipragas dispensam, presumo.
Talvez a emergência da difusão das trotinetes não tenha partido do mesmo gabinete de trabalho que hoje vai pondo a circular a ideia de que urge revitalizar a ferrovia. Mas, se de duas ideias, uma se aproveita, e a outra se limita a ser um modismo, que nos custa dar-lhe mais meia dúzia de meses?

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