O fim da alternância
Ideias Políticas
2019-03-12 às 06h00
As cidades, as comunidades e as sociedades não se constroem contra as pessoas, contra as instituições, contra o passado, nem em permanente confronto contra tudo e contra todos.
As cidades, as comunidades e as sociedades constroem-se no dialéctica do diálogo, na divergência positiva que alarga horizontes, no dissenso elevado e sempre respeitador da diferença que, pela abrangência de visões dissonantes, acrescenta e ajuda a construir.
Durante muitos anos, mais de dez, ouvi o Dr. Ricardo Rio, actual Presidente da Câmara e, à altura, líder da oposição, ter este discurso, falar da necessidade de construir o futuro de Braga nesta base e sob esta orientação. Falava, sempre, da urgência de uma cidade mais aberta, mais livre, mais respirável, acusando a anterior gestão Municipal de tiques ditatoriais, de falta de cultura democrática e de outras coisas nada simpáticas.
Se em algumas matérias, as críticas eram, mais ou menos, legítimas, noutras, na verdade em muitas delas, as críticas eram desajustadas, sem nenhum sentido, a não ser o que advém do natural “combate” político-partidário.
Ainda assim, fruto, também, do natural desgaste do Partido Socialista após trinta e sete anos ininterruptos de liderança do município, o discurso de Ricardo Rio passou e a direita unida, a coligação “Juntos por Braga”, venceu as eleições de 2013 e voltou a vencê-las, por maior diferença, em 2017.
Hoje, seis anos depois, a coligação não vive os seus melhores dias. São já, dentro de portas, muitas as vozes dissonantes que assumem críticas a Ricardo Rio e à sua gestão, que não se revêem nas erráticas prioridades políticas definidas, na política de pão e circo, que sabem que é necessário fazer mais e melhor e que as desculpas, esfarrapadas, do peso do passado estão mais do que esgotadas.
Sobre o passado, sobre os fantasmas e os esqueletos que terá herdado da anterior gestão, uma argumentação cansada, estafada de Ricardo Rio e do seu executivo, importa dizer uma ou duas coisas.
Ricardo Rio foi, como já disse acima, líder da oposição durante mais de dez anos, pelo que conhecia bem, a fundo, em pleno, a situação económica, financeira e orçamental do Município. Assim, hoje, seis anos após ser eleito Presidente, continuar com o discurso de que o passado e que as decisões do passado entravam o futuro do nosso Concelho é algo que, servindo uma determinada narrativa política, o devia fazer corar de vergonha.
O Concelho de Braga, com o Partido Socialista, teve, invariavelmente, uma política de máximo investimento-máximo desenvolvimento, andando muitas vezes, por isso mesmo, perto dos limites legais do endividamento; não constando que, por uma vez que fosse, tenha deixado de honrar os seus compromissos com os seus credores e prestadores de serviços e de, também integralmente, cumprir com o serviço da dívida, relativamente aos empréstimos que contraiu.
Ricardo Rio não pode, por isso, falar de esqueletos, de fantasmas e de outros problemas mil, quando, na verdade, herdou uma cidade e um concelho que se afirmou como terceira cidade do país e que, em 2013 e já desde há muitos anos, liderava, no panorama nacional, variadíssimos índices de desenvolvimento humano, social e económico.
Ricardo Rio não pode, como várias vezes tem feito, dizer que quer vender o Estádio Municipal, cujos sucessivos empréstimos aprovou e votou, pessoalmente, em sede de Assembleia Municipal, apontando-o, localmente, como um dos maiores problemas do Município, quando, no estrangeiro, usa muitas vezes o mesmo Estádio como uma bandeira do nosso território, como um dos grandes embaixadores do nosso concelho.
Chega. Basta. É tempo de Ricardo Rio governar e de governar bem. De deixar a política das festas e do entretenimento e de, com responsabilidade, agir como a função lhe impõe.
Nos últimos seis anos, retirando a recreação e o lazer e a atracção de investimento, muito por mérito de Carlos Oliveira, Ex. Presidente da InvestBraga, tudo na cidade piorou.
O trânsito e a mobilidade apresentam problemas graves e a Câmara não tem soluções, não tem plano; os jardins e os espaços verdes estão, por falta de investimento e de recursos humanos adequados para cuidar dos mesmos, cada vez piores, cada vez mais descuidados; a iluminação pública apresenta deficiências graves em muitas artérias, ruas e praças da cidade e do concelho.
Se, nos últimos seis anos, as coisas não foram famosas para Ricardo Rio e, naturalmente, para os bracarenses e para a cidade, pior têm sido os tempos mais recentes.
A tentativa de vender, contrariando tudo o que sempre defendeu, a Fábrica Confiança, edifício central e imprescindível, enquanto “hub” de cultura e indústrias criativas, de uma cidade candidata a Capital Europeia da Cultura em 2027; a forma autista, fechada, sem diálogo com os proprietários, nas costas da cidade, sem ouvir ninguém, como se procura construir uma solução para o Eco-Parque Monumental das Sete Fontes; a construção, completamente a despropósito, de um Complexo Desportivo Integrado na zona do Braga Parque, numa área já com grande pressão urbanística e com gravíssimos problemas de trânsito; e, mais recentemente, a instalação, intolerável, de torniquetes na Câmara Municipal de Braga, dizem muito do desnorte do actual Presidente da Câmara e da actual maioria.
Sobre a instalação dos torniquetes, um terrível acto de gestão, um exercício controleiro próprio de outros tempos e de outros regimes, as declarações de Ricardo Rio são tão vergonhosas como inaceitáveis.
Sr. Presidente, deixo-lhe um conselho: se tem dúvidas sobre o zelo, a responsabilidade ou o compromisso de determinados funcionários municipais no exercício das suas funções, abra os respectivos processos disciplinares e, como é da sua responsabilidade, actue. Agora dizer, como o Dr. Ricardo Rio disse, que “se pudesse, em alguns funcionários, punha pulseira eletrónica”, é algo ultrajante, indigno e inaceitável e merece, de todos nós, bracarenses, o mais profundo repúdio político e social.
Fazer o que é fez, lançar lama sobre todos os funcionários do universo municipal é vergonhoso e profundamente lamentável; deixando a nu que, como cada vez mais pessoas vão dizendo, o actual Presidente não tem nível para as funções que desempenha e isso, isso sim, é, ao contrário de outras narrativas que vossa Exª. não se cansa de repetir, muito mau para Braga e para o seu futuro.
19 Março 2024
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