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Carta à Leonor: Um apelo ao tempo para a continuação da especialização da formação do docente

Os bobos

Ensino

2018-03-14 às 06h00

Filipe Clemente Filipe Clemente

Querida Leonor
Nesta carta pretendia partilhar a minha visão sobre as necessidades de formação contínua associada aos docentes do ensino superior. Sim, porque eles também têm de continuar a crescer para conseguirem dar respostas às necessidades e exigências dos seus estudantes.
Atualmente os docentes são expostos a uma exigência cada vez maior quanto a funções, tarefas e responsabilidades inerentes ao cargo. Apesar do termo docente se associar ao processo pedagógico/didático a sua afetação de horas à escola/faculdade é bem maior do que o número de aulas presentes numa sala de aula. Para além da preparação de aulas, reajustamento de materiais, afinação dos conteúdos à variabilidade dos discentes e execução do processo avaliativo é ainda requerido aos docentes a sua capacidade para explorarem áreas afetas umbilicalmente ao ensino superior tais como a produção científica, participação em projetos financiados, a orientação de alunos de ciclos pós-graduados (mestrado, douramento, bolseiros) ou, ainda, a burocracia limitadora do processo envolto a todas as outras mencionadas. Evidentemente que, entre as tarefas e funções reportadas, existem outras como ser mãe, pai, avô, avó ou simplesmente um cidadão que pretende explorar a sua existência em outras tarefas rotineiras que não relativas ao conhecimento académico/científico.

Face à cada vez maior escassez de tempo disponível para ser docente urge criar-se um espaço de reflexão sobre a necessidade de se criar especificação de cargos às características individuais de cada docente, bem como, dotá-los de tempo de gestão para aumentarem as suas potencialidades a partir da participação em eventos altamente especializados que os formem para as emergentes necessidades do mercado de trabalho, conhecimento científico e processo formativo.
Evidentemente que um docente ideal, num mundo ideal, é capaz de ser um excelente docente, com elevada produção científica, participação em múltiplos projetos financiados, orientação de dezenas de mestrandos e doutorandos, coordenação de cursos e outras responsabilidade não necessárias de escalpelizar. No entanto, a excelência carece de tempo e investimento pessoal pelo que será provavelmente inesperado encontrar uma percentagem significativa que corresponda a todas estas características, pelo menos, olhando honestamente.

Desta forma, o tempo de investimento para a excelência apenas será possível de se dedicar no caso de o docente se especializar no que consegue dar resposta de forma intrinsecamente empenhada e que aprecia. Evidentemente que, como em qualquer cargo, não pode o docente pensar em apenas fazer o que gosta. Mas naturalmente que se associar a par da docência, apenas a investigação, apenas os projetos ou apenas a via burocrática/diretiva será possível libertar espaço e tempo para se conseguir formar adequadamente para as exigências cada vez mais acentuadas que decorrem do conhecimento científico, tecnológico e académico.
Paralelamente, a capacidade de os docentes continuarem a sua jornada de desenvolvimento visitando por, períodos curtos de tempo, outras realidades confere-lhes uma maior capacidade de serem autocríticos e percecionarem as suas limitações e potencialidades. Este exercício que normalmente é passível de fazer por via da mobilidade ERASMUS é uma excelente oportunidade, se bem aproveitada, para exercer um ato de humildade e reconhecimento de que, em qualquer momento da nossa vida pessoal ou profissional, estamos a tempo de nos expormos ao risco de mudar para melhorar. De facto, a constatação das nossas limitações permitir-nos-á adaptar-nos e potenciar a formação seguinte dos nossos discípulos.

Falando pessoalmente minha querida Leonor, sabes que o pai é novo. No entanto, a cada dia que passa a sua vontade de ser melhor em alguns aspetos torna-se mais premente, principalmente considerando que o ato de aprender e tanto ou mais melhor do que o de ensinar. Quem ensina está assim exposto a uma dupla vantagem: à tentativa de partilhas de conhecimento e a à tentativa de aprendizagem de novos. É ainda um prazer reconhecer que na nossa Escola Superior de Desporto e Lazer, onde impera um corpo docente com muitas valências, os colegas do pai são também eles apaixonados por aprender mais para ensinar e produzir melhor.

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