Os bobos
Voz às Bibliotecas
2019-02-02 às 06h00
Estamos em Fevereiro. Esta crónica esteve para ser sobre o amor, afinal estamos perto do dia de S. Valentim e falar sobre amor é sempre agradável. Mas esta crónica é antes sobre desamor. Estamos em 2019 e poderia falar na evolução da humanidade, no quanto aprendemos a respeitar a diversidade de cada um. Mas o que vou expor é demasiado atroz para conseguir catalogar numa palavra. Por isso, caro leitor, sinta-se avisado para poder escolher não ler. Estamos em fevereiro de 2019 e o tema desta crónica está no título. Muito tristemente.
Há duas semanas fiquei a saber que, na maioria dos Jardins de Infância públicos do país, as crianças a partir dos 3 anos não dormem. E não dormem, não por opção, desenganem-se. Não dormem porque não podem dormir. Não têm espaço nem tempo para isso.
E vou passar a enumerar os argumentos existentes e tentar desmistificá-los. Chamem-me sonhadora ou limitada.
O que não posso é ficar calada perante esta realidade que, com boa vontade e bom senso, pode facilmente ser ultrapassada.
Porque não há uma sala onde o possam fazer. Se reservarem uma sala para os meninos que querem e que precisam de dormir e as restantes crianças e educadoras se dividirem ou agruparem nas salas restantes durante aquelas duas horas, o problema está resolvido. É uma questão de gestão de espaço e de pessoas.
Porque não há funcionários que cheguem. Se organizarem os recursos humanos de forma a estarem uma ou duas funcionárias com as crianças que dormem e as educadoras com as restantes crianças, deixa de haver problema.
Porque não temos catres. São umas camas infantis, em rede, higiénicas, que custam entre 34 e 45 euros. Senhor Ministro da Educação, senhor Primeiro-Ministro, não andem a salvar bancos, façam retorno efetivo da fraude fiscal e já há dinheiro para isto e muito mais. Mas enquanto isto não acontece - sim, sonho com esse dia! -, podem pedir apoios às Juntas de Freguesia, às Câmaras, aos pais, organizar feiras solidárias e procurar mecenas locais.
Porque as crianças têm de ter 5 horas de componente pedagógica. Isto significa que têm de estar em contexto de sala de aula com a educadora de infância 5 horas por dia. Ora digam-me lá, como se eu fosse muito ignorante, o que é que uma criança de 3 anos precisa de aprender nesta idade que não possa aprender aos 4 ou 5 ou 6 anos? 3 horas não poderá ser suficiente, caso a criança precise de dormir? Não estamos todos, pessoal docente e não docente, a trabalhar pelo bem-estar e superior interesse da criança? E se os horários de trabalho tiverem de ser mexidos e ajustados, pois que sejam. Se a componente letiva tiver de iniciar-se não às 13h30 da parte da tarde, mas antes às 14h00 ou às 14h30, onde é que está o problema?
Porque se as crianças se deitarem cedo já dormem o suficiente. Basta uma pesquisa rápida pela internet para perceber que os especialistas defendem que as crianças com 3 anos precisam de dormir 10 a 13 horas diariamente. Ora se há crianças que só precisam de dormir 10h, basta deitarem-se às 21h e acordarem às 7h00 ou deitarem-se às 22h e acordarem às 8h. Estas, sendo assim, já não precisam de dormir a sesta. Mas há as que não fazem este horário noturno de descanso e há as que precisam de 13h.
Se não invertermos esta situação, estamos a comprometer o desenvolvimento neurológico e a saúde destas crianças. Atenção: não estou a defender que a sesta passe a ser obrigatória.
Apenas que nesta idade, as necessidades básicas, como o sono e o descanso, possam ser respeitadas; que sejam criadas as condições necessárias para que cada criança que precisa de dormir a sesta o possa fazer. Porque a flexibilidade curricular têm de começar por aqui. Sim, já sei, a frequência do Pré-escolar não é obrigatória. Mas cada vez são mais os pais que têm de deixar os filhos das 8h30 às 19h00 nos Jardins de Infância.
E se nem as crianças respeitamos, que país somos?
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