O fim da alternância
Ideias Políticas
2018-11-27 às 06h00
De França chegam-nos imagens da revolta dos chamados “coletes amarelos”. Várias manifestações com milhares de participantes tiveram lugar nas ruas de várias cidades ao longo da última semana, contestando o agravamento do custo de vida, nomeadamente através do aumento dos impostos sobre os combustíveis.
Por cá, para quem acompanhou os protestos dos franceses, foi fácil constatar o apoio de muitos portugueses, fosse através de comentários do tipo “lá fora é que eles lutam a sério”, fosse pela intensa partilha nas redes sociais de imagens de insubordinação e cortes de estrada.
Não menosprezo a justa luta dos franceses por melhores condições de vida e espero, claro, que as forças progressistas saibam organizar, orientar e conduzir essa disponibilidade do povo, sob pena de os movimentos populistas se ocuparem dessa tarefa. Contudo, não posso deixar de referir que me espantam as reações dos portugueses, não todos, mas dos que invejam as lutas noutros países, nem todas, claro. Veja-se a dualidade de opiniões e a falta de sentido crítico dos que não hesitam em elogiar a desobediência dos franceses, mas não perdem tempo para criticar, por exemplo, a luta dos trabalhadores do porto de Setúbal. Perante as imagens dos estivadores num corte de estrada junto ao porto, tentando impedir a violação do seu direito à greve, levantaram-se mil vozes de censura para que “deixassem trabalhar quem quer”, mesmo sabendo que os que “querem” tinham a missão de substituir os trabalhadores precários em luta.
Pior, só mesmo a postura do actual governo do PS. Tomando objectivamente partido no conflito laboral, depois de nunca ter manifestado preocupação para resolver as ilegalidades inerentes à contratação dos estivadores, optou por orquestrar uma operação de substituição ilegal dos trabalhadores em greve para garantir os interesses das multinacionais envolvidas. Vergonhosa actuação de um governo que não mexeu uma palha para pôr termo ao trabalho à jorna, à instabilidade na vida daqueles trabalhadores e das suas famílias, nem para obrigar a empresa a contratar os estivadores para o quadro de efectivos.
Por Braga, foi anunciado, há poucos dias, mais um encerramento de uma empresa histórica do sector da metalurgia. O fecho de portas da Jado Iberia empurrará para o desemprego setenta e quatro trabalhadores, grande parte deles com mais de cinquenta anos de idade.
O sector da metalurgia chegou a empregar milhares de trabalhadores no concelho de Braga, até que começaram os despedimentos, as deslocalizações e os encerramentos de empresas, muitas das quais referências nacionais muito à custa da qualidade e brio profissional dos seus trabalhadores.
Aparentemente, de acordo com a administração, os custos de produção já não permitem os lucros de outros tempos. Vai daí, decidem deslocar a produção para um outro país com factores mais atractivos, nomeadamente o reduzido custo do trabalho.
O fecho da Jado Iberia constitui uma perda enorme para Braga e, acima de tudo, uma injustiça para quem, durante décadas, se dedicou à empresa de corpo e alma, através do seu trabalho, tantas vezes mal pago e pouco reconhecido. São setenta e quatro trabalhadores, novos demais para a reforma, mas numa idade em que é difícil reingressar no mercado de trabalho, que ficam, de repente, sem chão. Sem emprego, sem salário, sem perspectivas.
A pergunta que se impõe é: o governo está disposto a fazer alguma coisa neste caso, ou só intervém para assegurar os interesses das multinacionais e do capital?
19 Março 2024
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