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Emancipação da mulher: uma luta de classe

O fim da alternância

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Emancipação da mulher: uma luta de classe

Ideias Políticas

2019-03-05 às 06h00

Carlos Almeida Carlos Almeida

Aproxima-se o Dia Internacional da Mulher, data histórica do processo continuo de luta das mulheres pelos seus direitos sociais, laborais e políticos, e um marco incontornável da caminhada de progresso da humanidade.
As semanas que antecedem este 8 de Março ficam marcadas, por um lado, pelas habituais tentativas de distorção do que realmente importa assinalar com a sua comemoração e, por outro, por uma forte campanha mediática em torno dos episódios absolutamente condenáveis associados à figura do juiz Neto de Moura. Não pretendendo debruçar-me em demasia sobre este contexto, não posso, contudo, deixar de fazer algumas considerações.
No primeiro caso, assistimos à crescente comercialização da efeméride, como se de mais um produto de mercado se tratasse, contrariando precisamente tudo aquilo de que se reveste a luta emancipadora da mulher trabalhadora. Sessões de maquilhagem, massagens, shows de strip, workshops de cozinha, um verdadeiro vale tudo no campo do entretenimento. Uma espécie de dia destinado à validação de preconceitos e à perpetuação de um lugar do qual, defenderão alguns, a mulher não deve sair, ainda que, excepcionalmente neste “seu dia”, possa extravasar um pouco “os seus limites”.
No segundo caso, mais do que a agitação mediática, excessiva na minha opinião, produzida na base das declarações absurdas proferidas pelo dito juiz, o que realmente deve preocupar-nos é o facto concreto de o exercício das suas funções ser guiado por um pensamento medieval, do qual resultam acórdãos que põem em causa a dignidade, os direitos e, em última análise, a própria vida das mulheres.
Nesta e noutras matérias é preciso um olhar que vá além da superfície. Até porque, actualmente, a igualdade de género tornou-se parte de tantos discursos de circunstância que assentam bem no quadro político e institucional, mas que em muitos casos não passam disso mesmo, num exemplo claro de oportunismo.
Na verdade, com excepção dos casos de violência doméstica, pelos contornos de gravidade e consequências infelizes que assumem, pouca ou nenhuma visibilidade é dada à luta das mulheres. Outras violências como são o assédio, as diferenças salariais para trabalho igual ou a enorme carga de trabalho não pago às mulheres, o constante desrespeito pelos direitos de maternidade, só muito pontualmente e ao de leve chegam à opinião pública.
Não é possível ignorar, obviamente, e merecem o maior repúdio os casos de violência sobre as mulheres. Aliás, o número de mulheres assassinadas em 2019 é já verdadeiramente preocupante. Contudo reduzir a luta das mulheres à expressão de combate à violência doméstica é ingenuamente redutor e pode ter um efeito perverso, porquanto ignora as suas próprias causas. É certo que os comportamentos agressivos que se abatem sobre as mulheres não olham à classe social ou à condição económica dos envolvidos, mas também é verdade que existem contextos sociais e económicos, em casa ou mesmo no trabalho, propiciadores de relações de submissão e vínculos subalternos, que muitas vezes são a antecâmara de casos de violência. Para que não fiquem dúvidas ou sejam feitas interpretações selectivas, sublinho: é preciso por cobro à violência sobre as mulheres, venha ela de onde vier, sejam quais forem as motivações. O que quero dizer é que a luta das mulheres deve ser entendida numa perspectiva bem mais abrangente, capaz de identificar as causas que colocam a mulher numa condição de inferioridade social. E, nessa medida, não tenhamos ilusões, não basta uma abordagem progressista nos costumes, em torno de causas, justíssimas diga-se, e que são efectivamente pontos de ligação com a luta mais geral pela emancipação da mulher, mas não são condição suficiente para permitir à mulher trabalhadora a igualdade, o fim da exploração, em suma, a libertação do sistema capitalista que a condena a um mero instrumento de produção, descartável e ainda mais barato.
A luta das mulheres deve, por isso, estar profundamente ligada às necessárias transformações sociais indissociáveis da luta contra o capitalismo e as suas formas de opressão e exploração. Essa é, pois, uma luta do nosso tempo, para homens e mulheres verdadeiramente livres e comprometidos com ideais de justiça e igualdade.

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