A responsabilidade de todos
Escreve quem sabe
2018-04-22 às 06h00
Pecamos todos, ou temos pecado todos, [] neste já longo processo de degradação da língua portuguesa, não há inocentes somos todos culpados pelo estado a que ela chegou
(David Borges, 2009).
A perceção das nossas falhas, em termos linguísticos, é essencial para que saibamos ser complacentes com os que erram, porque, um dia, errando nós, esperamos que sejam também eles complacentes connosco.
Quando escrevo, vem-me recorrentemente à cabeça esta frase dos Sermões escolhidos, do padre António Vieira: nos grandes são mais avultados os erros, porque erram com grandeza e ignoram com presunção. Assim, as dúvidas assaltam-me amiúde quando escrevo, pois sou professora de português e atraio sobre mim atenções de alunos, de pais, de colegas e, agora, dos leitores desta página.
Não há frase ou texto que não reveja. As dúvidas ortográficas resolvem-se facilmente com recurso a dicionários e a prontuários, mas há sempre hesitações no que respeita à sintaxe, à coesão textual, à coesão ou à legibilidade da mensagem.
Não me tomem por especialista da língua, incapaz de errar. Apesar de a gramática ser uma área a que dedico o meu estudo, sou uma contínua aprendiza.
Hoje, apresento algumas palavras / expressões que se confundem. Comecemos pelo par: Senão / Se não. Senão significa a não ser, caso contrário e emprega-se em frases como Nada fazia senão chamar por mim.. Por outro lado, se não é utilizado nas orações subordinadas adverbiais condicionais (ex.: Se não chover, poderemos ir ao cinema.).
O par demais/ de mais é dos que mais dúvidas suscita. Demais exprime intensidade e significa muitíssimo, excessivamente, demasiadamente, em demasia. Usa-se para intensificar formas verbais, advérbios ou adjetivos (Ex.: Comi demais; Para quem lê tão pouco, ele lê bem demais.; O bolo é doce demais.). Demais pode, também, ser um pronome ou um determinante demonstrativo, equivalente a outros(as) ou restantes (Ex.: Ficaram apenas três pessoas na sala; os demais saíram no intervalo.; Todos já ouviram falar de Ronaldo e dos demais jogadores da seleção.).
Menos frequente é o uso de demais (ou ademais) como advérbio a significar além disso, aliás, de resto (Ex.: A equitação é um desporto difícil; demais, é muito caro.)
De mais, duas palavras, é uma locução adverbial (formada pela preposição de e pelo advérbio mais). Exprime uma ideia de quantidade e não de intensidade e surge ligada a nomes. (Ex.: Este bolo tem açúcar de mais.).
O par Discriminar / Descriminar também é confundido muitas vezes, por serem palavras parónimas. Discriminar significa estabelecer diferenças, (Ex.: É necessário discriminar o certo do errado.); segregar e marginalizar (Ex.: Não se pode discriminar quem é pobre.); especificar ou descrever algo (Ex.: Vou discriminar todas as compras na fatura.). O nome derivado deste verbo é, pois, discriminação (Ex.: discriminação social, religiosa, racial)
Descriminar significa absolver, inocentar (Ex.: O juiz descriminou o meu vizinho com base no meu testemunho). O nome derivado deste verbo é descriminação (Ex.: descriminação das drogas, do aborto, da eutanásia).
Termino com tão-pouco e tão pouco. Tão-pouco corresponde a também não, nem sequer (Ex.: ele não veio, tão-pouco telefonou.). Por vezes, usa-se para reforçar a negativa precedido de nem (Ex.: ele não veio, nem tão-pouco telefonou.)
Tão pouco corresponde a muito pouco (Ex: Trabalhamos tanto e ganhamos tão pouco.).
19 Março 2024
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