Os bobos
Conta o Leitor
2019-07-18 às 06h00
Maria Natália Silva
AAi, que tempo precioso! Na verdade precisamos de férias. Assim pensava o sr. Braga, no momento em que se despedia dos colegas e deixava o seu escritório no centro da cidade de Braga para as suas merecidas férias. Estar de férias, é fazermos coisas diferentes do que fazemos habitualmente, é enchermos os pulmões de ar fresco, é sorrir à vida, é construirmos pontes, é falarmos com nós próprios e com os outros.
Podemos perguntar, mas será que já não fazemos tudo isto? Talvez, sim, ou talvez não. Contudo, quando temos uma pausa determinada, somos convidados a sermos e a fazermos ainda melhor. Porque estamos mais libertos das responsabilidades do quotidiano e como tal mais imaginativos, mais soltos. O sr. Braga era um pensador, estava constantemente a pensar e a descobrir assuntos que interessassem ao seu jornal. Tinha uma mente muito aberta, sempre à procura de uma boa história, de preferência com um final feliz.
Há pessoas que têm um poder muito grande nas suas mãos. Quando escrevem estão a transmitir sensações boas e a produzir sentimentos de compaixão e fraternidade, também a mudar os corações e a mente daqueles que de algum modo se acercam da leitura, nas suas mais variadas formas.
O sr. Braga era esta pessoa. No caminho para casa choviam-lhe um monte de ideias para poder descansar e carregar baterias para os tempos que ai vinham. Para estas férias já tinha programado ir para a praia da Apúlia. E assim aconteceu. Viajou confortavelmente durante a noite no seu Mini Cooper e em breve se encontrava no alpendre da sua casa na praia. Considerava-se afortunado pois uma tia, bastante abastada, tinha-lhe deixado a casa em herança. Não conseguia conter a sua alegria, pois gostava imenso do mar, mas também pelo facto de ser muito afeiçoado à sua tia Mariinha. Já sentado na sua cadeira, e com o seu chá preferido, verde, na mão, bebia e saboreava cada momento. Sabia que este descanso iria ser muito proveitoso.
No dia seguinte acordou com o barulho das gaivotas no seu alpendre. Mas nada o incomodou. Gostava da presença das mesmas. Reparou que o mar estava calmo e respirava-se o cheiro do mar - a maresia. O céu estava enublado e já se viam ao longe as pessoas a caminharem ao longo da praia.
O sr. Braga tomou o seu pequeno almoço na padaria mais próxima. Devido à sua profissão estava habituado a conhecer os locais mais característicos. Tomou a sua meia de leite, com pão fresco barrado de manteiga. Saboreou cada instante. Entretanto leu o jornal local com as notícias frescas a saírem. Ainda teve tempo de ir à lota ver o peixe que chegava nas mãos dos pescadores.
O dia correu normalmente e calmamente. Descansou, deambulando por aqui e por ali, despreocupadamente. Sorriu a algumas pessoas que passavam e também encontrou um ou outro seu conhecido. Os dias passaram, cada vez se sentia mais vigoroso e fortalecido. Possuía agora uma pele bronzeada e um rosto mais sorridente. Tinha combinado encontrar-se com um pescador, o sr. Alfredo. Estava ansioso por este encontro, pois os pescadores têm muitas histórias para contar.
À hora marcada encontrava-se na esplanada do Café à beira mar. O sr. Alfredo também foi pontual. Encomendaram as suas bebidas refrescantes, pois apesar de ser ainda cedo, o ar estava quente e o sol brilhava intensamente. O sr. Braga já conhecia o sr. Alfredo, mas a verdade é que ainda não tinham falado verdadeiramente, embora o peixe que o sr. Braga preferia era comprado ao sr.Alfredo. A sua história era uma história de amor ao mar, à sua profissão. À semelhança do seu pai, também ela começara bem cedo na faina do mar. Atualmente o seu barco era muito sofisticado, com dois motores, o que facilitava e muito a pesca. Contou que amava a sua profissão e que apesar dos perigos tinha muitas alegrias. O seu único filho, não quisera seguir a mesma profissão, mas admirava o pai. Nos verões costumava ajudá-lo na pesca, o que lhe dava muita alegria.
O sr. Braga perguntou-lhe se havia algum episódio que quisesse mencionar, ao que este respondeu, que sim. No mar há sempre algo de fascinante. Numa bela manhã estando a pescar com dois colegas aperceberam-se que havia algo diferente numa das redes. Numa primeira impressão julgaram ver um vaso, um jarro, algo quebrável. E de facto assim era, pois no interior encontrava-se realmente uma pequena ânfora, de cor terracota e de linhas definidas. O achado foi muito aplaudido por todos e posteriormente entregue ao museu marinho.
E assim se passaram os dias de férias do sr. Braga, da cidade dos Arcebispos. Nessa noite deitou-se mais tarde. O encontro com o sr. Alfredo, e as suas férias a chegarem ao fim deixaram-no um pouco inquieto, mas ao mesmo tempo com muitas ideias na sua mente, chegando mesmo a concluir, que já tinha tema e conteúdo para o seu próximo artigo no jornal para o qual trabalhava. Estava deveras feliz, tinha muitas coisas para contar.
A vida é bela. Tinha adormecido! No dia seguinte dirigiu-se para a sua cidade. As férias chegavam ao fim. Mas na sua bagagem levava muitas recordações e histórias para contar. Com este espirito entrou na cidade, no seu Mini Cooper, e agradeceu ao céu por tantas bênçãos. Haverá algo mais extraordinário do que estas férias para podermos ser mais!
31 Agosto 2022
21 Agosto 2022
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