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Estádio de sítio

O fim da alternância

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Ideias Políticas

2019-02-19 às 06h00

Carlos Almeida Carlos Almeida

Confrontada com a penhora das contas bancárias do município, em resultado de uma dívida referente ao estádio municipal, a maioria PSD/CDS na Câmara de Braga optou pela velha tática da fuga para a frente. A carta escondida na manga: o anúncio de um referendo local para saber se o estádio municipal deve, ou não, ser colocado à venda. De uma assentada, desvia as atenções da irresponsabilidade da penhora das contas e até dá a ideia de estar a resolver os problemas financeiros associados à construção e manutenção do novo estádio. A estratégia revela esperteza, mas pouco mais. Na verdade, não resolverá nenhum dos problemas. A dívida, entretanto liquidada ao consórcio de empresas, vai ser, na verdade, convertida em prestações, por conta do recurso a financiamento bancário. Da mesma forma, os custos relacionados com o estádio não desaparecem com a consulta popular. Além do mais, ainda que se legitimasse a vontade de venda, isso não garantiria comprador.

É inegável que a existência daquele equipamento representa um encargo significativo para o município, seja pelo que falta pagar em respeito à sua construção, seja pelas intervenções de que já necessita. E isso é um problema sério do qual não podemos nem devemos fugir. Hoje, quem governa o município deve tomar a iniciativa de procurar soluções. Contudo, quem tomou as decisões deve ser responsabilizado. Não aceito que, agora que a situação assumiu proporções incomportáveis, paire no ar a ideia de que ninguém podia antecipar este cenário. Então, os vereadores do PS, PSD e CDS não sabiam o projecto que estavam a aprovar, ainda que o custo inicial fosse de “apenas” 65 milhões de euros? Não sabiam que o estádio tinha que continuar a ser rentabilizado depois do Euro 2004? Não era expectável, face à megalomania do projecto, que os custos de manutenção fossem elevados? Como pensavam gerar receitas para suportar os custos com o seu funcionamento?

Apesar de o processo de construção do novo estádio ter sido gerido pelo próprio município, a verdade é que em nenhum momento parece ter sido acautelado o interesse público. O projecto confirma-se muito acima das necessidades e das possibilidades da cidade. Às dividas do passado soma-se a necessidade de investir, a curto prazo, nas ancoragens e manutenção estrutural ou nos parques de estacionamento.
Chegados aqui, é praticamente unânime a opinião de que a construção do novo estádio, nos moldes em que foi feita, se transformou num problema a todos os níveis para todas as partes envolvidas. Na verdade, ninguém está, nem pode estar, satisfeito. Desde logo os munícipes, face ao custo final da obra, que pode atingir os 180 milhões de euros. Mas também o arrendatário do equipamento – o SC Braga – e os que lhe dão uso regular – os seus adeptos – perante as condições pouco convidativas em matéria de acessibilidades, conforto e segurança.

Já o disse em tempos: a renda paga pelo clube é extremamente reduzida e devia ser revista. O que estranho é a forma desavergonhada como dirigentes locais do PSD e do CDS têm vindo a criticar esse valor, como se os seus vereadores não tivessem, na devida altura, aprovado o contrato com o SC Braga.
Não sendo essa, no entanto, condição suficiente para rentabilizar o equipamento, como é óbvio, parece-me que se devia encontrar um valor justo, moralizando a política, eliminando crispações indesejáveis entre a cidade e o clube e garantindo que o estádio mantém, pelo menos, a sua função actual. Caso contrário, o cenário complicar-se-á ainda mais.

Seria, por isso, importante que, ao invés de se plantar cenários imaginários, se concentrasse esforços para descobrir como se pode gerar mais receitas, assim como novos usos complementares que se lhe possam atribuir, como outros espectáculos ou actividades comerciais.
No entanto, pelo que temos assistido, pela forma displicente como o assunto tem sido abordado, apenas resultando na mediatização em torno da venda do estádio, parece que a ideia é colocar Braga no topo nacional do índice do ridículo.

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