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Gualdim Pais marca a agenda

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Voz às Bibliotecas

2018-09-27 às 06h00

Victor Pinho Victor Pinho

Aconversa tem-se mantido elevada, por estes dias, em Barcelos. As tricas partidárias, o futebol, os mexericos sobre a vida alheia e a entrada no novo ano escolar, passaram para plano secundário. Nas esplanadas, nas habitações, nas oficinas, nas repartições públicas e bancárias, nas escolas, nas igrejas, nos quartéis e até nos autocarros, não se fala noutra coisa. Afinal, Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários de Portugal, é natural de Barcelos!
Alguns, mais conhecedores do assunto, vão mais longe e afirmam: “Então, andaram enganados estes anos todos! Gualdim Pais é de Marecos-Barcelinhos-Barcelos. Ainda bem que repuseram a verdade histórica!
Falatório à parte, o certo é que a Biblioteca Municipal de Barcelos e o património literário local e nacional ficou mais enriquecido com o livro do barcelense Fernando Pinheiro, intitulado “Gualdim Pais o Fronteiro de Deus: a Vida Heróica do Maior Monge Guerreiro de Portugal”, editado pela Opera Omnia.
Trata-se de uma obra, dedicada a Agostinho Domingues, com 367 páginas, dividida em 4 capítulos, a que o autor chamou livros: o Berço do Herói, Entre a Cruz e a Espada, Cavaleiro do Reino de Portugal, Templário e Peregrino na Terra Santa, Procurador da Ordem do Templo e o Milagre de Gualdim.

Depois de uma exaustiva e pormenorizada consulta de obras de carácter científico, Fernando Pinheiro procura traçar uma biografia romanceada da vida de Gualdim Pais e da sua participação “heróica e decisiva” na fundação da nacionalidade portuguesa, a nação mais velha da Europa. Na construção da narrativa, o autor privilegiou figuras, factos, ideias e locais que marcaram o século XII pensinsular e europeu – mas também o Próximo Oriente.
Sobre o conflito (expansionismo islâmico, reconquista cristã e espírito de cruzada), que durou na Península Ibérica cerca de 800 anos, o autor afirma, em nota prévia, que, agora, é tempo de cada povo viver de acordo com a sua matriz civilizacional, de professar a sua fé religiosa em liberdade e de partilhar as suas diferenças culturais num planeta globalizado.

Não deixa ainda Fernando Pinheiro de lembrar que a vida de Gualdim Pais, antes de ser nomeado procurador da Ordem do Templo, é um “período obscuro”, para o qual têm sido “trazidos a lume” novos dados, particularmente no que concerne à sua naturalidade, que deitam por terra “juízos erróneos” que, ao longo dos séculos, foram sendo “reproduzidos pela tradição”.
Na verdade, foi necessário que, há cerca de quatro anos, no auditório da Biblioteca Municipal, António Afonso, natural de Terras de Bouro, onde foi presidente da Câmara Municipal, mas residente em Barcelos, há mais de trinta anos, proferisse uma conferência para os alunos da Universidade Sénior, onde é professor, para que a naturalidade de Gualdim Pais fosse questionada e o assunto passasse a interessar a Câmara Municipal de Barcelos e o romancista Fernando Pinheiro.

Foi, assim, que começou a germinar a ideia de, no 9º centenário do seu nascimento, se realizarem umas Jornadas Gualdianas que começariam em Barcelos e se estenderiam por várias localidades ligadas à vida do Mestre da Ordem dos Templários e ao maior monge-guerreiro de Portugal
A questão da naturalidade barcelense de Gualdim Pais remonta a 1953, quando o ilustrado amarense Domingos Maria da Silva enviou à Câmara Municipal um livro manuscrito. O conteúdo desse livro foi revelado quatro anos mais tarde, num artigo publicado no semanário “O Barcelense”, em 26 de Janeiro de 1957, por Mário Norton, conservador do registo Civil de Barcelos, que havia sido presidente da Câmara Municipal de Barcelos, na altura em que o livro foi enviado, e onde era defendida a tese da naturalidade barcelense de Gualdim Pais.

Mais tarde, em 1958, o referido professor Domingos Maria da Silva publica o livro “Entre Homem e Cávado:Amares e Terras de Bouro: Monografia do Concelho de Amares”, onde explana, com maior profundidade, a sua tese. Marecos nunca foi Amares, como afirma o marquês de Montebelo, mas sim Mareces-Mereces (Mooyracos) da freguesia de Santo André de Barcelinhos, concelho de Barcelos.
Baseando-se em Alexandre Ferreira, autor do “Suplemento Histórico ou Memórias e Notícias da Célebre Ordem dos Templários”, de 1735, que dá Gualdim Pais como ”natural de Braga, em distância de seis léguas de Viana”, concluiu que 30 quilómetros é, de facto, a distância de Barcelinhos (a antiga Marecos) a Viana.
Outros autores defenderam, posteriormente, esta tese da naturalidade barcelense, tais como José Manuel Capêlo e Adelino Domingues.

Por isso, a prova da naturalidade barcelense de Gualdim Pais é hoje mais consistente e o Município de Barcelos, na pessoa da sua vice-presidente, Armandina Saleiro tem cumprido uma das suas obrigações: defender, conservar e divulgar o património local.
Enfim, novecentos anos depois, Gualdim Pais regressou a Marecos-Barcelinhos, às antigas terras de Faria, com o seu manto de guerreiro templário, e, erguendo a espada, exclamou: “Bem-Haja Barcelos!” e “Obrigado Barcelenses!”.

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