A responsabilidade de todos
Voz aos Escritores
2019-03-01 às 06h00
'M' de mulher. De maravilhosa, magnânima, majestosa. Mas também de mendiga, marota, mentirosa. Manipuladora. Há de tudo, como na feira, como com o homem.
Aproxima-se o dia da mulher e faz muita falta. Porque lá atrás as lutas femininas por melhores condições de vida e de trabalho se iniciaram entre finais do século XIX e inícios do século XX, entre os Estados Unidos da América e a Europa, e também pelo direito de voto. Sem grande consenso e acontecimentos dispersos até na Rússia, a ONU declarou que o ano de 1975 seria o ano internacional da mulher e o dia 8 de Março o dia internacional das mulheres, pelas Nações Unidas.
44 anos volvidos e continuamos a celebrar o dia internacional da mulher. Porque ainda é preciso. Talvez o seja sempre, para sempre, por uma questão de memória, mesmo depois de todas as questões de equidade serem resolvidas. Porque esquecemos e não aprendemos. Basta ver como vai o mundo. Que lições aprendemos para a existência com a 2ª Guerra Mundial e os campos de concentração? Que sinais nos fazem disparar os alarmes para prevenirmos o regresso de ditaduras, sejam elas de esquerda ou de direita? Basta olhar um bocadinho para a história do mundo para vermos que em matéria de direitos humanos ou de igualdade de género as mulheres estiverem sempre nos últimos lugares da fila.
Desde a antiga Alexandria, com Hipácia, uma matemática brilhante que acabou espancada e torturada por uma multidão de cristãos, passando por nomes mais recentes como Ada Lovelace, Marie Curie, Virginia Wolf, Simone de Beauvoir ou, para as gerações mais novas, Malala. Poderia preencher páginas imensas com nomes e histórias de mulheres corajosas que contribuíram de forma significativa para o avanço e crescimento da ciência e da humanidade, ao mesmo tempo que lutavam para derrotar preconceitos e injustiças. O esgar, o sorriso lacónico, a ironia escarrada são simples subtilezas comparadas com a fogueira, a decapitação, o apedrejamento. Aconteceu com homens ao longo da História, claro que sim, por conta dos seus avanços científicos e da clássica resistência à mudança e à novidade. Nunca simplesmente por serem homens.
Nos dias de hoje temos a violência doméstica como tema ao rubro, em cima da mesa, nos jornais, rádios, televisões, redes sociais. Finalmente. Sempre existiu, é certo, e também com homens como vítimas. Mas reconheçamos que é uma praga que assola maioritariamente o mundo feminino. Uma violência, um crime. Porque fisicamente o homem é sempre mais forte do que a mulher. E as instituições que deveriam proteger quem tem a coragem de fazer queixa começam a ser postas em causa e a serem responsabilizadas. Porque a sociedade civil começa a deixar de assobiar para o lado, já não é apenas “entre marido e mulher” e toda a gente tem o dever de meter a colher, sob pena de ser responsável por uma morte. Mais uma morte. A contabilidade desde o início do ano está aí e não parece querer refrear. Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, propôs o dia 7 de Março como um dia de luto nacional pelas vítimas de violência doméstica e de violência contra as mulheres. Apoio e parabenizo esta iniciativa, que vai muito além do simbolismo.
E se falar do silêncio? Das vítimas, homens e mulheres, que sofrem em silêncio por vergonha, por medo? Que arranjam desculpas a todo o momento para elas mesmas não enfrentarem a realidade que no fundo sabem que é delas. E as crianças que vivem este horror diariamente na escalada do seu crescimento? Que se sentem mais seguras na escola ou na rua do que em casa? Que são ensinadas a calar e negar, que se fecham num mundo escuro onde reina o medo e o horror?
Estão previstas várias manifestações por este país fora, no dia 8 e dia 9 de março, em todas as cidades. Não precisamos de ir todos a todas.
Mas já é alguma coisa se escolher uma e alinhar a sua voz num Basta! que juiz nenhum possa negar. Porque dia 8, afinal, é dia de M de humano.
15 Março 2024
08 Março 2024
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