Correio do Minho

Braga, quinta-feira

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O senhor Impossível

Os bobos

Conta o Leitor

2011-09-03 às 06h00

Escritor Escritor

Liliana Pinheiro Torres

O Sr. Carlos era boa pessoa, ninguém o contestava, mas como todos nós, tem os seus defeitos, e um deles era ter a ideia que tudo o que era impossível, era impossível. Eu sei, isto é um bocado estranho, mas a verdade é que a sua obsessão era mesma irritante. Nós cá acreditamos que nada é impossível!
Carlos era professor de Biologia, e todos os seus alunos, principalmente nós, fazíamos tudo para que o professor perdesse aquela ‘mania’.
Levámos isso tão a peito que certo dia, decidimos provar que o que o professor dizia ser impossível, não o era tão assim.

Era uma quarta-feira, e tínhamos Biologia com o Professor Carlos. A nossa memória não é das melhores, e a nossa atenção nas aulas também não, a verdade é que o tema ‘o tempo não poder voltar atrás’ foi abordado, e não nos lembramos a que propósito.
Claro, para fazer jus à sua personalidade, o professor defendeu, e não se fartou de afirmar que voltar atrás no tempo era completamente impossível.
Foi aí que tivemos uma ideia brilhante.

Decidimos, que na quarta-feira seguinte iriamos fazer o tempo voltar atrás. Estranho? Passa-mos a explicar, e asseguramos que não tem nada a ver com magia, ou algo sobrenatural. Somente inteligência, organização, preparação e concentração.
O.K. esta parte ainda parece mais estranha, vinda de nós. Eu próprio o achei, mas a verdade é que resultou.
Enredamos um plano que tinha praticamente tudo para dar certo, mas que exigiu uma grande preparação, concentração e encenação!
Um plano rebuscado, e até um pouco estúpido, mas estávamos dispostos a levá-lo a cabo, desse por onde desse.

O plano é o seguinte: como dissemos anteriormente, na aula de biologia da quarta-feira que se seguia, iriamos fazer o tempo voltar atrás, e como faríamos isso?
Do seguinte modo: Antes um minuto do fim da aula, aponta-ríamos tudo o que disséssemos até ao toque. De seguida tudo o que tínhamos dito, escrevíamos ao contrário. Por exemplo: “Professor” - “rosseforp”. E decoraríamos as posições e gestos que fizéssemos nesse espaço de tempo, para depois, pôr em prá-tica aquilo que tínhamos vindo a praticar - repetirmos esses gestos de frente para trás. A Joana estava encarregue de atrasar o relógio um minuto quando combinado.

Então a ordem de acontecimentos seria esta: um minuto antes do toque, falávamos e me-xíamo-nos o menos possível para tornar tudo mais fácil. De seguida, enquanto todos saiam, não nos mexíamos, como se tivéssemos parados no tempo, poucos segundos depois, e enquanto Joana atrasava o relógio, começaríamos a voltar atrás no tempo. Quando voltássemos atrás um minuto, não nos mexíamos outra vez, ou seja, pararíamos no tempo mais uma vez, e voltaríamos ao presente, dizendo aquilo que há um minuto atrás tínhamos dito (sem ser de frente para trás), voltando assim ao presente e começávamos a arrumar as coisas e sair.

***

Então vamos contar como tudo se passou, antes um minuto do fim da aula.
— Questionário da página 115, para trabalho de casa. - Dizia o professor.
Faltava um minuto para o fim da aula, e estavam todos a arrumar as suas coisas, então, João pensou em dizer qualquer coisa, para melhorarem o seu ‘número’.
— A página toda professor? - perguntou o João.
— Sim, a página toda João. - explicou o professor Carlos.
Estávamos todos a arrumar, e concentrados a decorar o que fazíamos, para depois fazê-lo da frente para trás.

O toque soou e paramos de nos mexer, enquanto todos saiam. Tudo parecia correr bem, o professor reparara que não nos mexiamos e olhava para nós espantado, tínhamos que agir na-quele momento, então Joana, que subira à janela do corredor, onde do outro lado da parede estava o relógio da sala, estava já a atrasar o relógio.

Se o professor não estava a perceber porque estávamos os quatro quietos que nem umas estátuas, achou ainda mais estranho quando começávamos a tirar os livros da mochila, quando até então tínhamos estado a fazer o inverso.
A certa altura o João falou:
— Rosseforp adot anigáp a?
Ficámos quietos outra vez. Até que recomeçaramos, fazendo o inverso. Então João voltou a falar:
— A página toda professor?
Voltámos a colocar os livros na mochila.

O professor olhava para nós boquiaberto. Então não demorámos a explicar-lhe.
— Então professor, voltar atrás no tempo é impossível? - perguntou a Filipa.
Esboçou um sorriso, e de seguida uma gargalhada, até que pouco depois estávamos todos a rir.
- Será impossível esquecer-me disto! - Exclamou o professor de Biologia enquanto todos ríamos.

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