A responsabilidade de todos
Voz às Bibliotecas
2019-11-21 às 06h00
Um das muitas dezenas de livros do sector da poesia da “Barceliana” da Biblioteca Municipal de Barcelos, isto é, da colecção que reúne os livros de autores e de temas barcelenses, intitula-se “Versos Impostos, Pedidos e Espontâneos” do Padre Linhares.
Livro editado em 1979 pelo autor e composto e impresso nas oficinas da Companhia Editora do Minho, em Barcelos, tem duzentas e trinta e oito páginas, é dedicado “aos meus saudosos seminaristas de Nossa Senhora da Conceição, aos caríssimos alunos e às queridas alunas do Externato de D. António Barroso.”
Desta actividade de professor, escreve, no livro, logo nas primeiras páginas: “Dez vezes expliquei a tal lição,/Dez vezes a escrevi na mesma loisa,/Dez vezes repeti a mesma coisa, /Dez vezes perguntei o mesmo em vão./Perdi o tempo? Nunca se perdeu/O tempo que a ensinar alguém se deu.../ Pronomes pessoais, emprego e formas, /Pessoa e num’ro, género e função.../Questões vulgar’s, as mais precisas normas:/Pouco de estudo, muito de atenção.../Um dia, enfim, o aluno em si entrou:/Do que ensinado foi se recordou.”
Nas “Duas Palavras” com que abre o livro, a título de prólogo, o Padre Linhares refere que, do título que escolheu, só o primeiro adjectivo precisa de explicação. Impostos, que são os versos que o obrigaram a fazer, o seu professor de português, Padre António Luís Vaz, e os reitores do Seminário Conciliar, Dr. Adão Salgado Vaz de Faria e Cónego António de Castro Mouta Reis, a quem está grato e deve, em grande parte, o referido livro.
Numa poesia livre e rimada, muito bem construída, num português de primeira água, o Padre Linhares, cuja centenário do seu nascimento agora se comemora, recorda episódios da sua vida, dos seus alunos e dos seus mestres. Dedica 14 páginas aos “Versos Impostos”, 55 páginas aos “Versos Pedidos”, que subdivide em “Mais ou Menos Profanos” e “Mais ou Menos Sagrados” e 137 páginas aos “Versos Espontâneos” que subdivide em “Trovas à Toa”, “Homenagens”, “Religiosidade” e “Vária”.
Uns anos mais tarde, daria à estampa “Entretenimentos de Português”, livro publicado em 1986, que reúne artigos publicados no “Jornal de Barcelos” sob o título de “Cantinho de Português” e assinados sob o pseudónimo de “Maria Não”. Com capa do artista Hilário Portela, colaborador dos Irmãos de S. João de Deus, o livro traz prefácio da autoria de Amadeu Torres (Castro Gil) que refere: “Permito-me destacar os capítulos onomasiológicos, com a sua abundância sinonímica a reprovar estrangeirismos desnecessários, enquanto indirectamente alertam para a urgência de uma Comissão de Vernaculidade solicita na cunhagem de termos que substituam tantos ultimamente chegados nas páginas das ciências mais recentes; os da prosódia, abertos obviamente ao novo acordo luso-afro-brasileiro que, protegendo a unidade da língua, não descurará certas variantes ou diferenças menores que em nada a empobrecerão; os de palavras divergentes; os de etimologia e semântica; os de ortoépia, ortografia e pontuação, em parte imbricados nos da prosódia, transpa- recendo deles o desvelo pela redacção correcta e polida, cujo descuramento constitui outra triste calamidade do português, que muitos professores acham ser apenas oral, asfixiando por isso a gramática da escrita em gramática da comunicação entendidas truncadamente. E outros capítulos mais, que o leitor apreciará, mesmo dentro de alguma possível divergência de opinião.”
Mas, quem foi este sacerdote que conciliou a vida paroquial com a actividade docente e colaborou nos jornais “O Barcelense”, onde assinava, semanalmente, a rubrica “Pelo país fora” e “Por esse mundo além”, respectivamente no canto esquerdo e direito da última página daquele periódico, e “Jornal de Barcelos”, terminando os seus dias a dizer missa na Capela de São Bento da Buraquinha, no Campo de S. José, em Barcelos?
João Pereira Linhares nasceu em Arcozelo - Barcelos, em 26 de Julho de 1919 e faleceu, na mesma localidade, em 4 de Novembro de 1996. Depois de ter feito o exame de instrução primária e o exame do 2º ano da Escola Primária Complementar, ambos com distinção, frequentou os Seminários Diocesanos, também sempre com distinção. Antes de se ter ordenado sacerdote, o que aconteceu em 15 de Agosto de 1944, trabalhou no Paço Arquiepiscopal, em 1943, mantendo-se aí até ao ano de 1946.
Foi pároco das freguesias de Barqueiros, de 1951 a 1956, e de Gamil, de 1956 a 1973. Exerceu a actividade docente no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, de 1943 a 1951 e no Colégio de D. António Barroso, em Barcelos, de 1958 a 1978. Em Braga, foi Assistente Diocesano da Juventude Independente Católica Masculina e da Patrulha Veado do Corpo Nacional de Escutas e Capelão da Obra do Soldado. Em Barcelos, foi Chefe do Núcleo e Assistente de Núcleo do CNE-Corpo Nacional de Escutas.
O Padre Linhares foi Presidente do Gil Vicente Futebol Clube, a partir de 5 de Julho de 1958, sucedendo ao Dr. Francisco Torres e continuando na época seguinte. A equipa desceu ao Regional da 1ª Divisão da Associação de Futebol de Braga (1959/60). Reforçou-se e regressou, na época seguinte, à 2ª Divisão Nacional, tendo como treinador José Rafael e um lote de jogadores dos quais se destacavam os reforços Manuelzinho (brasileiro), Mendonça (do Sporting de Braga) e Pepe, moçambicano que veio estudar para Barcelos e que passou a envergar o número da camisola do galego Nolito, a partir de Dezembro de 1959, quando este jogador teve a sua festa de homenagem e despedida.
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