Entre a vergonha e o medo
Ideias
2014-12-16 às 06h00
O que realmente traz satisfação ao ser humano é sempre feito em conjunto. Em reunião. Em partilha. Em trabalho de equipa e cooperação. Somos seres feitos para viver em comunidade e relação, e muitas vezes é a partir dos laços que se estabelecem com o Outro que nos podemos realmente conhecer. A matemática, neste caso, altera-se e um mais um não são dois, mas sim três em afinidade.
São engraçadas e complexas as dinâmicas de inter-relação e, na maioria dos casos, não lhes damos o devido valor. Deveríamos estar mais atentos às mesmas, pois conseguimos (muitas vezes) ter respostas quando as perguntas, por exemplo, ainda não foram colocadas. Temos de estar atentos à forma de colocação das mãos, do corpo, da voz, dos pés. É possível encontrarmo-nos perante uma recusa ou uma aceitação, uma ponderação ou tomada de decisão, sem termos tido, sequer, o encetar de uma conversação verbal.
Em geral, no âmbito da saúde, os profissionais estão atentos a estas dinâmicas corporais e não-verbais, sendo que aqui, a palavra “dinâmica” implica processo, movimento, energia e ação. É assim todo o comportamento humano, cuja ação se direciona no alcance de um objetivo, para a satisfação das suas diversas necessidades. Como Enfermagem - e trabalhando em relação e para a relação - é essencial que estejamos atentos a estes movimentos e energias, visto que o ser humano é um dos nossos focos de atenção.
Cabe-nos a nós, como enfermeiros, entendermos as ações do Outro que necessita dos nossos cuidados, tantas vezes influenciadas por algo de raiz que tem tendência a ficar escondido. Somos descodificadores do comportamento humano e transcritores das vontades individuais de cada um, respeitando-as na sua criatividade única e irrepetível. Podemos igualmente ser um espelho para o Outro, ajudando-o a perceber aquilo que realmente existe e ajudando-o, após uma fase de aceitação e organização íntima, a ultrapassar as suas dificuldades.
Como seres humanos somos, além de provocadores de ação, identicamente promotores de reação. Os nossos comportamentos atingem o Outro, influenciam, mexem, movem e conduzem ao despertar de sentimentos, moções e emoções. Ninguém se encontra livre deste estímulo, desta influência preponderante no comportamento reativo das pessoas com quem lidamos. As nossas energias e movimentos vão de encontro às energias e movimentos do Outro, aproximando-o ou afastando-o, respeitando-o ou descuidando-o, porém sempre em dualismo, sempre no estabelecimento de pontes de contacto e ligações.
Muitas vezes são estas reações que nos fazem pensar, parar e escutar. Escutar com muita atenção o comportamento do Outro, auscultá-lo na sua reação à minha ação e decisão, pois poderá ser nesse encontro (estabelecido de forma positiva ou negativa) que crescemos e nos aprendemos a ver melhor, a conhecer o nosso íntimo e a aceitar aquele que nos faz companhia diariamente, de quem é impossível fugir - o nosso próprio Eu. É aqui, também, que a Enfermagem atua, para a promoção da autoaceitação e do autorrespeito. São nestes níveis que é possível o atingimento de algum equilíbrio e bem-estar, tão essenciais à nossa saúde. É connosco próprios que, igualmente, estabelecemos relações no dia-a-dia, e é connosco que contamos para o desenvolvimento de reações no Outro - de acordo com as nossas vontades manifestas na ação.
Os três em afinidade manifestam-se sempre que os dois se encontram, sempre que existe relação. As dinâmicas humanas são resultado desta manifestação e inserem em si movimentos únicos e irrepetíveis, pois que cada ação já foi feita, foi realizada, não existe uma volta para trás. Existe o caminho para a frente, sendo este definido por cada um, em conjunto com cada Outro.
13 Junho 2025
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