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100 tempo a perder

Entre a vergonha e o medo

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100 tempo a perder

Ideias

2024-07-09 às 06h00

João Marques João Marques

Estão cumpridos 100 dias de uma governação a que muitos não vaticinavam 100 horas de sobrevivência.
A resiliência e a cada vez maior naturalidade com que os diferentes ministros navegam as intempéries da minoria conjuntural, parecem caucionar a ideia que ficou do contraste entre os últimos governos PS, onde as minorias de apoio e arranjos parlamentares pareceram ser sempre o maior antídoto aos despautérios da maioria absoluta que tão fracos episódios nos legou e que terminou do modo trágico-cómico que conhecemos.
Ao longo dos primeiros 100 dias, o Governo de Luís Montenegro logrou resolver situações angulosas, como a das carreiras dos professores, dar um sinal de esperança a situações nebulosas como a da crise de resposta da AIMA e até clarificar dossiers sebastiânicos como o do aeroporto de Lisboa.
A ideia que fica, e que corresponde, em larga medida, à verdade, é que se fez ou tentou fazer mais nestes primeiros três meses do que nos últimos dois anos.
E isto com um parlamento cuja insurreição (democrática, diga-se) começou muito cedo, logo a abrir com o episódio da eleição do seu presidente. E cuja incapacidade de abrir vias de diálogo significativas mantém-se, em larga medida, inalterada face ao jogo tático mas errático que quer PS, quer Chega têm vindo a jogar por entre os biombos da dissimulação e do faz-de-conta.
Apesar das tentativas do PSD e do seu líder parlamentar, que tem estado superior na gestão do difícil (des)equilíbrio partidário, visando convocar todos para um paradigma de maioridade, pós-eleitoralista, em que o interesse do país possa sobrepor-se ao mero calculismo de fação, o certo é que, com a honrosa exceção da IL (e desconsiderando quem quer ser desconsiderado – PCP e BE), os restantes interlocutores preferem os mouvidos moucos da puerilidade política.
Pior para eles, direi eu, uma vez que se torna estridente a completa desadequação da postura dos agentes da denominada Cheringonça, sempre mais preocupados em encher o jornal das oito com parangonas do que em demonstrar o sentido de Estado de quem se quer ter por alternativa de governo.
Claro que depois de verem o PSD, em pouco tempo, a apresentar medidas de desagravamento fiscal que impactam a classe média, que convocam as novas gerações para ficarem em Portugal e medidas de largo alcance que visam resolver os graves constrangimentos do SNS, é natural o atarantamento, mas, até por isso, é maior o contraste entre quem quer fazer e quem só pretende desfazer.
O que parecia ser um governo sob altíssima pressão, passou a ser um governo que coloca sob enorme pressão a oposição. Não se sabendo se, na política, a melhor defesa é sempre o ataque, as opções de Luís Montenegro têm demonstrado a sua enorme competência estratégica, sublinhando a diferença de léguas que o separa dos restantes contendores.
De resto, a indicação de Costa para o Conselho Europeu dá boa nota de dois pontos fundamentais para quem quer aprender a fazer política. De um lado a noção de que os eleitorados do centro são flutuantes e que premeiam quem demonstra saber dar prioridade às soluções e não aos problemas, despessoalizando o exercício de cargos públicos. Depois, a temperança e o modo assertivo como Montenegro se coloca do lado da moderação e do bom senso marcam uma tónica muito impressiva quer na sua construção como homem de Estado, quer, reflexivamente, na desconstrução do “puto” Ventura e do desorientado Pedro Nuno Santos.
A mensagem que passa para os portugueses é a de que o único líder partidário capaz de conciliar empatia com ação, dinamismo com responsabilidade e compromissos com resultados é o atual Primeiro-Ministro. Este é, ao fim e ao cabo, o tempo e talvez o modo de que LuÍs Montenegro precisava para demonstrar a um país reticente em aceitá-lo como o federador do espaço político da moderação que é ele a única via para a promoção de um trilho de progresso, responsabilidade e ambição.
Sem prejuízo de tudo quanto se vem de escrever, não vale a pena tapar o sol com a peneira e fingir que a minoria parlamentar já não representa um entrave sério à concretização do programa de Governo e que o PSD e o CDS-PP estão na plenitude dos poderes legiferantes que tradicionalmente se associam aos vencedores das eleições. Para desfazer tal precipitação, basta atender ao que a oposição vem anunciando e votando em matéria orçamental.
Mais uma vez, os partidos da maioria antigovernamental prometem impedir o sentido útil e alcance do programa de governo, demonstrando a má-fé de princípio com que aceitaram a atual situação política e provavelmente agravando a perceção do seu papel enquanto forças de bloqueio.
As discussões do próximo orçamento de Estado serão, por isso, um momento de particular eloquência na demonstração desse desafio e na contínua elucidação dos portugueses sobre quem deve continuar a governar (se preciso for, de modo reforçado) os destinos do país.

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