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25 de Abril, a luta pela liberdade continua

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

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Ideias

2016-04-25 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

22 anos depois do 25 de abril ainda não nos sentimos livres. Porque o mercado de trabalho é cada vez mais precário e vulnerável aos mais impensáveis abusos. Porque as instituições continuam com um modo de admissão e funcionamento presos a hierarquias que são construídas pela antiguidade e não pelo mérito. Porque a justiça não funciona. Porque os media não têm uma almofada financeira para denunciar abusos, sem se ressentirem profundamente das consequências. Hoje é dia de festa, porque assinalamos uma data em que o país se libertou da ditadura, mas faltam ainda soltar várias amarras.

Dados recentes do Instituto Nacional de Estatística mostram que, nos últimos anos, o rendimento dos jovens não parou de decrescer. O fosso entre os mais novos e os mais velhos vem sendo acentuado de forma assustadora. Os que estão em idade de entrar no mercado de trabalho têm baixas propostas de salário e condições laborais extremamente precárias. Esta é mesmo a geração à rasca, a geração do nem-nem. Sem presente e sem esperança de futuro. Viver nestas condições não proporciona qualquer liberdade.

Também aqueles que já conquistaram o seu lugar no mercado de trabalho nem sempre reúnem a segurança que querem. Veja-se o caso do sector público. É verdade que o Estado tem criado instrumentos que procuram tornar mais independente o processo de admissão. Mas todos sabemos que os editais dos concursos podem ser redigidos de várias formas e que isso condiciona qualquer a seleção. Também a avaliação a que os funcionários públicos se sujeitam, mais do que um instrumento que fomente a qualidade de trabalho, é uma forma de subjugação a quem manda e que vai criando muitas entropias no interior das organizações.

E lá podemos nós também ir enumerado sectores específicos. Os tribunais onde a justiça anda de forma lenta. As escolas onde os professores consideram ser desrespeitados. Os hospitais onde os utentes se sentem maltratados e o pessoal médico perto do esgotamento.
No sector privado, também não respira melhor. As empresas não conseguem produzir mais ou, então, não sabem por onde rentabilizar o que produzem. Os trabalhadores são incapazes de acentuar o valor daquilo que fazem. Somos, enfim, um país cansado. E sem liberdade.

Como escrevo no meu último livro “Jornalista: profissão ameaçada”, os jornalistas vivem hoje sob permanente pressão. Pressão para ser rentável. Pressão para fazer a cobertura de determinado acontecimento. Pressão para ouvir este ou aquele interlocutor. Pressão para não afrontar os acionistas ou financiadores da sua empresa. Pressão para cumprir leis que não deixam margem para noticiar factos com relevância noticiosa. Pressão para trabalhar depressa. Pressão para ser o primeiro a anunciar a última coisa que acontece.

Pressão para multiplicar conteúdos em diversas plataformas. Pressão para atender àquilo que os cidadãos dizem nas redes sociais. Pressão para desenvolver conteúdos de qualidade que suscitem o interesse do público. Pressão para não provocar reações dos reguladores dos media. Não é fácil trabalhar assim. Por isso, atualmente, ser jornalista é aceitar exercer uma profissão que está sob ameaças de vária ordem. E isso subtrai em permanência a liberdade.

Hoje é dia de festa. Os militares de Abril regressam ao Parlamento. Marcelo Rebelo de Sousa fará o seu primeiro discurso enquanto Presidente da República. E os media encher-se-ão de comentadores para falar de política e para discorrer sobre liberdade. Convém não ficar apenas por raciocínios teóricos. O terreno dá-nos exemplos suficientes para pensar que há um longo caminho até que o 25 de Abril se reconquiste em pleno.

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