Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2021-03-09 às 06h00
Existe uma certa fantasia no ar. Há um ano atrás estávamos a dar os primeiros passos neste cenário pandémico que ainda nos encontramos a atravessar e, de certo modo, assinalar esta data reflete a passagem do tempo daquilo que nos abalou - e que, talvez, ainda está a abalar. Não estou certa se «fantasia» será a palavra mais adequada: há, isso sim, um certo misticismo perante a confirmação de que existe um marco a realçar.
Não creio que endeusar a situação nos ajude a minimizá-la. Tampouco acredito que fazer de conta que a mesma não existe possa auxiliar no que quer que seja. Talvez o mais sensato seja mesmo aceitá-la tal como é, o distinguir do início de uma conjuntura que nos era desconhecida, mas que veio para viver connosco e entre nós por uns anos. Não é uma questão de resignação ou de consentimento, é sim uma questão de assumir a existência de um problema e tratá-lo de forma a que seja resolvido.
O mundo passou por outras epidemias antes. E de cada vez que isso aconteceu, aprendizagens foram feitas. Todas a seu tempo, todas com tempo, mas todas trouxeram novas lições que impulsionaram a humanidade numa direção ou num novo rumo. Ou em ambos. Porque de coisas menos boas também surgem situações boas e extraordinárias. Oportunidades. Possibilidades. Surgem alternativas, muitas vezes melhores do que aquilo que existia.
De facto, hoje sabemos muito mais do que aquilo que sabíamos há um ano atrás. Há mais ou menos 365 dias, ou 366. Atravessámos diversos tipos de confinamento, individuais e coletivos, e, muito importante, sabemos que os conseguimos fazer. É verdade que são períodos algo penosos, em que a nossa paciência é colocada à prova. Porém, ainda assim, foram e continuam a ser momentos de larga aprendizagem e desenvolvimento de novas competências, em especial no mundo do trabalho. Se desejo, tal como todas as pessoas, voltar às aulas e reuniões presenciais? Sim, obviamente. Contudo, desejo ainda mais que tudo se componha e para isso sei que devo manter a minha parte neste acordo forçado em que a saúde pública nos mantém a todos.
Sabemos igualmente que as relações familiares e pessoais são difíceis, muito difíceis. Todavia, aprendemos a dar (mais) valor aos que nos rodeiam de forma mais próxima, nem que seja porque, no mínimo, nos ensinam o sítio emocional onde não queremos estar. E este conhecimento também é essencial, porque nos ajuda a identificar os caminhos que queremos percorrer a partir daqui. Ou aqueles de que nos queremos afastar. Ou, então, ajuda-nos a reconhecer os momentos em que devemos descansar, repousar e discernir. Porque parar também é necessário, especialmente quando não encontramos de forma clara o local onde nos encontramos no mapa que nos serve de guia.
No entanto, também sabemos que nem tudo foi um mar de rosas e que para alguns tem sido um ano bem complicado, em especial para quem perdeu o seu emprego ou se encontra com negócios parados. São a nossa prioridade. Nossa porque fazem parte da sociedade e, portanto, todos devemos contribuir para que ultrapassem com sucesso este período. Nossa porque qualquer um de nós poderia estar nessa posição. Nossa porque sim, porque se assim não for ninguém cresce, ninguém aprende. Talvez seja radical, esta perspetiva, mas realmente sinto-me mais confortável numa ação humanista e de olhar para o futuro, que é de todos aqueles que se mantêm vivos - esses felizardos.
Com fantasia ou não, com misticismo ou não, o que é certo é que num ano muita coisa mudou. Somos mais sábios, é certo, mas talvez ainda seja necessário refletirmos sobre aquilo que aprendemos e aquilo que entrou como novo nas nossas vidas. E pensar igualmente no que queremos fazer com essas aprendizagens e esses desenvolvimentos, ponderar até sobre a importância que tiveram na nossa pequena «bolha», que afeta sempre a dos outros. Mais do que recordar que existe o assinalar da passagem de um ano inteiro, há que homenagear aquilo que passou e o que ficou, sabendo que o caminho será realizado em frente.
15 Junho 2025
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