Entre a vergonha e o medo
Ideias
2022-05-31 às 06h00
Pedro aproximou-se então de Jesus e fez-lhe esta pergunta: «Senhor, quantas vezes devo perdoar ao meu irmão, se ele continuar a ofender-me? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não até sete, mas até setenta vezes sete!”
(Mateus 18,21)
Numa expressiva manifestação de apoio, no passado sábado, os sociais-democratas elegeram Luís Montenegro à primeira volta e sem qualquer margem de manobra para conjunções adversativas, mesmo dos mais céticos críticos daquela que foi a escolha expressa nas urnas.
Os mais de 70% de votos recolhidos no universo de militantes laranjas conferem ao novo líder uma legitimidade inaudita desde que há diretas no PSD e com mais do que uma candidatura nelas envolvidas.
Uma expressão de força que serve como testemunho da crença na pessoa e no projeto afirmativo sintetizado no mote da candidatura: “Acreditar”.
Dúvidas não restam que os militantes acreditaram, apresentando um voto de confiança que serve como trunfo interno, para apaziguar quaisquer palpitações geradoras de tumultos ou pequenas intrigas divisionistas, e como vantagem externa na confrontação direta com o Partido Socialista.
A uma maioria absoluta do governo em funções corresponde agora uma maioria absolutíssima na presidência do PSD, o que gera constância e previsibilidade no desenho do cenário de disputa política no país.
Este é um dos grandes méritos deste resultado e que serve para colocar os partidos emergentes num quadro distinto do que até hoje existiu. É verdade que, dentro da Assembleia da República nada se alterou, mas a conjugação de forças fáticas acaba de sofrer um choque de proporções tectónicas que só tem tendência a acentuar a clivagem entre dois blocos de partidos de governo: PS e PSD.
Claro que isto não é um automatismo matemático e irreversível, dependendo do talento e capacidade de quem lidera estes blocos. E é aí que entram as qualidades naturais de Luís Montenegro.
Em primeiro lugar há que unir o partido. E, para isso, haverá que recorrer ao ensinamento cristão segundo o qual devemos perdoar “até 70x7” não como mera abstração idílica, mas antes como útil mandamento prático.
Ao longo dos últimos 4 anos, o PSD sofreu a erosão de uma liderança divisiva, frontalmente apostada em depurar a sua base de apoio e excisar tudo o que não lhe fosse obediente. Esta atitude não só corrói as ligações formais dentro das estruturas partidárias como separa as pessoas que nelas militam. As barricadas assim criadas precisam de um ato sério e célere de diplomacia, para rapidamente curar as feridas com o reparador unguento da integração fraterna e honesta.
Nisso, Luís Montenegro deu já o mote do exemplo, ao ter convidado para coordenador da sua moção o “Centeno” de Rui Rio. Joaquim Sarmento serviu como o ponto e ponte de partida para a indispensável normalização de relações dentro do próprio PSD.
Para além disso, o desempenho da função de líder da bancada na Assembleia da República granjeou-lhe um respeito imenso entre os colegas parlamentares de todos os partidos.
A este nível, devo dizer que, nas últimas semanas, assisti com assumido espanto à alegação de que saber fazer oposição não equivale a saber governar. Como se só os agentes políticos que tivessem já exercido cargos executivos pudessem presidir a um partido ou a um concelho ou governar um país. Para além da óbvia contradição democrática implícita nessa proposição, o que dizer, então, de Passos Coelho, no plano nacional, ou de Ricardo Rio, na dimensão local, que nunca haviam tido cargos executivos antes de assumirem a liderança dos respetivos “governos”? Em Braga todos sabemos que foi justamente através do exercício qualificado da oposição que o atual edil provou aos bracarenses que estava pronto a governar.
Conhecer os dossiers é tão importante para quem os apresenta e defende, como para quem os combate. A dimensão da competência ou incompetência na política não é, por isso, dada pelo número ou qualidade dos relatórios produzidos, mas pelo emprego que se dá à informação a que se acede. E, neste aspeto, Luís Montenegro foi exemplar enquanto liderou a bancada, seja a apoiar o executivo, seja a combater António Costa.
Para lá da pacificação interna e das reconhecidas credenciais políticas há que ter coragem para desafiar o statu quo e voltar ao reformismo por que o PSD sempre foi conhecido. E, também aí, Luís Montenegro já demonstrou ser merecedor de crédito.
A seriedade com que defendeu o direito à felicidade e realização pessoal de todos os portugueses é um atestado de frescura e de despreocupação com o politicamente correto.
Como é corajosa a lúcida proposta de criar mecanismos de atração de imigrantes, atenta a preocupação com a sustentabilidade da segurança social, com a vitalidade do mercado de trabalho e, sobretudo, com a viabilidade do país, enquanto Estado sobreano e autossuficiente.
O PSD precisava deste refrescamento e Portugal não podia continuar órfão de uma oposição assertiva, competente e consequente. Ao trabalho!
13 Junho 2025
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