A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2016-04-04 às 06h00
Foi uma tomada de posse singular. Na forma que Marcelo Rebelo de Sousa escolheu para chegar à Assembleia da República (a pé, a descer a Calçada da Estrela), no conteúdo que estruturou o discurso desse ato oficial (salpicado por traços emotivos). E têm sido dias invulgares, estes. Não na agenda que se vai tornando pública, mas nos formatos que o Presidente da República tem escolhido para desenvolver o seu trabalho.
Antes de mais, o atual PR tem uma agenda preenchida. Muito preenchida e muito mediatizada. Dois dias depois de ter sido indigitado, MRS abria o palácio de Belém ao povo e ele próprio misturar-se-ia com os visitantes durante a manhã. Dali, dirigiu-se para o Chiado para participar numa exposição e para comprar alguns livros numa das livrarias onde é cliente há anos. E eis um Presidente da República a quebrar distâncias e a assumir-se praticamente como um de nós.
Na primeira viagem ao estrangeiro, introduziu uma evolução na continuidade. Como impõe a tradição, o Presidente deslocou-se a Espanha e visitou os reis, mas antes passou pelo Vaticano onde teve, decerto, uma interessante e profícua reunião com o Papa Francisco. Disse pouco daquilo que fez em Roma, mas, para lá do simbolismo da deslocação, pressente-se que, em breve, a Igreja poderá ter novidades sobre uma eventual deslocação do Papa a Portugal...
Em termos políticos, a Presidência da República não pode obviamente confundir-se com o Governo, mas pode ter posições sintonizadas. Aconteceu recentemente no caso dos alertas acerca do domínio do capital espanhol na banca portuguesa. Acontecerá noutros campos num futuro próximo. Como também se evidenciarão divergências sobre os mais diversos assuntos. É a vida.
Este fim-de-semana, em Espinho, Pedro Passos Coelho lembrou a Rebelo de Sousa que um Chefe de Estado “ter divergências com quem quer que seja não é desunir, é apenas afirmar a individualidade do cargo”. É, no entanto, pouco verosímil que MRS faça a vontade à direção do partido social democrata depois de ter vencido uma eleição longe, muito longe, de qualquer apoio real de quem dirige o PSD. No congresso, sentiu-se o desejo de Belém ajudar o partido a fazer a oposição, mas ninguém acredita que isso aconteça.
Esta semana, Marcelo volta a pontuar fortemente a agenda política e, por extensão, a agenda mediática ao promover a primeira reunião do Conselho de Estado num formato muito diferente daquilo que foram as opções dos seus antecessores. Em destaque neste encontro, vai estar o presidente do Banco Central Europeu. Oficialmente vem falar da situação económica e financeira da Europa, na prática vem recolocar a Presidência da República no centro da ação política nacional. Não será este um ato isolado. Marcelo irá continuar a inovar. Não se sabe se com a mesma intensidade, adivinha-se que manterá pelo menos idêntica originalidade.
Perspetivando Belém a partir de Braga, valorizar-se-á sempre um PR com preocupações descentralizadas. Marcelo Rebelo de Sousa prometeu uma réplica das populares presidências abertas de Mário Soares. Com outro nome e, espera-se, mais efetivas. António Costa também anunciou algo parecido, garantindo algumas sessões das reuniões do Conselho de Ministro noutros locais. Aplaude-se qualquer iniciativa a esse nível, mas espera-se que essas ideias não estejam apenas ao serviço de algum folclore mediático.
O país que somos está cada vez mais centralizado e mesmo cidades de média dimensão têm perdido muito protagonismo a diversos níveis. Hoje, as elites do nosso país circunscrevem-se praticamente à capital. Também porque o sistema político não tem tido capacidade de as promover fora de Lisboa. Porque as regiões não conseguem conquistar vitalidade suficiente para projetar os seus atores à escala nacional. Vamos ver este novo ciclo político em Belém e em S. Bento é capaz de começar a reverter este estado de coisas.
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