Março é leitura
Escreve quem sabe
2023-01-20 às 06h00
Foi publicada, em 2013, uma legislação que regulamenta as terapias alternativas, nomeadamente a acupuntura, homeopatia, osteopatia, medicina tradicional chinesa, naturopatia, fitoterapia e quiropraxia, como práticas legítimas na área da saúde. Para que fique claro, à luz dos conhecimentos científicos actuais, não o são - práticas legítimas na área da saúde - e prefiro chamar-lhes de práticas alternativas. Alternativas a algo que funciona.
São tantas e com nomes tão exóticos que tenho dificuldade em memorizá-las e só obtenho algum conforto por saber que a lista poderia ter sido bem mais extensa. Poderia ter-se incluído, quiçá, a cura com cristais ou com água alcalina. Enquanto geólogo, já poderia abrir um consultório.
A regulamentação destas práticas alternativas não deve ser debatida exclusivamente por profissionais de saúde ou por políticos em circuito fechado, mas sim escalpelizada publicamente por e para os cidadãos. Também só não me tornei médico por dois motivos: primeiro, sempre que vejo sangue, as minhas pernas tremem como a um banqueiro alemão perante o ex-ministro Pedro Nuno Santos e, segundo, por me faltarem 4 a 5 valores na média final de acesso.
Em 2016, pela mão do PAN, foi ainda apresentado um projecto de lei que pretendia integrar estas práticas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Não sei se foi o racionalismo, cepticismo ou apenas o bom-senso que imperou, mas, com os votos negativos do PCP e PSD, aliados improváveis, o projecto de lei foi bem reprovado.
Foi real, e perigosa, a possibilidade de podermos vir a ser tratados, no SNS, com práticas que actualmente sabemos que não têm efeitos positivos na nossa saúde ou no combate à doença. Chás e mezinhas nunca fizeram mal a ninguém, mas, a não ser que o seu problema se resolva com idas excessivas à casa de banho, aposto que a medicina moderna tem a melhor solução.
A legislação portuguesa está em linha com as orientações da Organização Mundial de Saúde de 2003 e de 2013, que recomenda a integração de várias “medicinas tradicionais e alternativas” nos diferentes países. Implementar primeiro e avaliar a sua eficácia depois é uma lógica distorcida, sem fundamentação científica, diria mesmo imoral, permitindo e promovendo que milhões recebam apenas a ilusão de cuidados de saúde. Não é isso que se pretende de uma organização denominada “Mundial da Saúde”, com papel fundamental nos cuidados de saúde, especialmente dos mais desfavorecidos.
Muitas destas práticas estavam já quase desaparecidas e regressaram dos mortos muito por causa da abertura da China ao Mundo e pela sua adopção por uma comunidade New Wage, pós-Woodstock, já protegida por uma população vacinada, mas cheia de certezas quanto às conspirações da Bigpharma. Esta é uma explicação muito redutora, mas o número de caracteres disponíveis não me permite grandes deambulações. Gostaria de declarar que faço parte da lista de pagamentos da Bayer, mas infelizmente não corresponderia à verdade, mas quero que eles saibam que podem contar comigo, a troco do fornecimento vitalício de aspirinas.
Encerro com uma frase de Tim Minchin que espero que possa ajudar a reforçar a mensagem deste texto: “Sabem como se chama a uma medicina alternativa que se provou funcionar? Medicina”.
21 Março 2023
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