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A Arquitectura na Cidade

O preço da transparência

Ideias

2016-09-26 às 06h00

Filipe Fontes Filipe Fontes

“O destino da cidade está na câmara municipal”, citação livre de Le Corbusier (a arquitectura da felicidade, Alain de Botton)
A pretexto da leitura do livro referenciado, fixo-me nesta frase atribuída a Le Corbusier e que densifica, na verdade, muito do pensamento corrente que reporta à cidade e à sua instituição maior: a câmara municipal.

Porque, na verdade, e sem qualquer juízo sobre a correspondência e qualidade de tal percepção, identifica-se tal como a leitura e conjugação de duas premissas: o desenvolvimento da actividade urbana dos múltiplos actores que agem sobre o território está dependente e amarrado à atitude e dinamismo da câmara municipal; esta (câmara municipal) é o motor por excelência, e quase em exclusividade, do desenvolvimento da cidade.

Quer uma, quer, por uma generalização irrealista que, em nada, traduz as características e a força que ambas possuem. Porque, se é verdade que ambas coexistem por absoluta necessidade (a câmara municipal existe para governo da cidade), não menos verdade é que o dinamismo urbano é fruto da diversidade (e conjugação) de atitudes e actores (e nunca de um só elemento!).
A cidade vai muito para além da sua câmara municipal, que é condição necessária para a sua qualidade e desenvolvimento mas não é condição suficiente!

E, ao pensar na instituição (câmara municipal), recordo duas palavras incontornáveis: “poder” e “capacidade”.
Um “poder” que apresenta ter mas que, na prática, não o possui; uma “capacidade” que revela (poder) ter mas que, na prática, (aparenta) não o exercer.
E, porventura, será nesta dicotomia (entre um “poder” aparente que não produz efeito desejado e uma “capacidade” inerente que se apresenta desperdiçada) que entronca (permanentemente) este equívoco: a câmara municipal como fonte de todas as soluções e como causa de todos os problemas.

E, embora podendo ser promovida uma reflexão profunda sobre esta realidade, sobre o papel e a presença da instituição na cidade e como esta se organiza e responde aos desafios que enfrenta, importa fixar estas duas palavras porque, na prática, as mesmas traduzem diferentes formas e entendimentos do que deve ser uma câmara municipal que se quer (julga-se comum a todos) dinâmica e de resposta contemporânea aos problemas d´hoje.

“Poder” significa uma visão impositiva e regulamentadora do exercício diário das responsabilidades inerentes. Um exercício assente na ordem, na rigidez dos procedimentos e hierarquias, na abstração do mundo real e na focalização no tempo formal e processual.
Ao contrário, “capacidade” significa arte de influenciar e explicar, objectivizar e “correr à frente”, explicitando e explicando, concretizando e “abrindo caminho”, numa acção pedagógica e de exemplo de maior risco, é certo (porque mais exposta e sujeita ao erro), mas, seguramente, de maior efeito e envolvimento. Entre um “poder” que ordena e uma “capacidade” que comanda, entre um “poder” que impõe com recurso a uma linguagem regulamentar, tantas vezes, opaca e ininteligível e uma “capacidade” que desenha e propõe, que exemplifica e arrisca, balança as duas grandes atitudes que uma câmara municipal pode revelar.

E se é certo que o destino das cidades, há muito, está para lá das câmaras municipais, não é menos verdade que a atitude das mesmas é factor, incontornavelmente, capaz de marcar e condicionar a(s) cidade(s).
E, num balanço que se quer imparcial, fica a certeza de que a pedagogia e o exemplo, dir-se-á mesmo o risco, é opção definitivamente a tomar. Porque esta será a diferença entre um controlador e um parceiro.
E o controlo é uma fatalidade. A parceria poder ser (parte da) felicidade. Que a câmara municipal faça parte dessa felicidade…

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