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Ideias
2019-10-18 às 06h00
Corre a história de que, por belo dia, se viu certa avestruz acossada por súcia de rufias e, sem vontade para grandes correrias, deu em sentar-se contra um imbondeiro e em soltar risadas escarninhas.
Ora essa, soltaram em coro afinado os cabos de chacais e mabecos, e umas goelas desirmanadas de arruaceiros, que se tinham associado só pela galhofa.
Ora essa, repetiu sem perceber o exacto ponto da objecção, a perseguida posta em sossego.
Pois não era suposto esfiares a cabeça na areia, replicaram os peniscosos.
Que sois muita estúpidos, sentenciou a avestruz. Se, sentada, de cada vez que descruzo e estico as patas, atiro com dois de vós de cangalhas, e se, gingando o pescoço, furo quem viso com uma bicada, por que tempestades de poeira haveria de cegar e paralisar?
Com o revés, consta, que uns meteram caudas felpudas entre os quartos traseiros, partindo em busca de novo entretém, que outros desataram a barafustar e a soltar impropérios, por a bicha maluca não ligar nenhuma ao papel consagrado nos anais.
Quanto à pernalta pomposa, o conto no restante é omisso. Uns dizem que abriu uma academia de artes marciais, outros de oratória, no que é próximo e vai dar ao mesmo. Terceiros sustentam que se embrenhou na savana, abraçando a vida de trota-mundos, ou de eremita, dedica- da às esterilidades do estudo e da contemplação.
Pois lembra-me esta parábola a propósito das tribulações do senhor Rio. Aqui-del-rei que o homem não tem genica. Coitadinhos dos pessedes, que não se arranjam com um derrotado. Oh meu deus, que não temos oposição! Não o viram a desculpar-se com a imprensa e com as sondagens? Que estava tudo contra ele, sinceramente!
É evidente que eu não tenho nada com o assunto, que não sou parte interessada, nem ordenado fui com procuração. Dentro da mesma linha analítica, poderia, até, dar um pouco de atenção aos tremeliques da CDU, que, se bem ouvimos a declaração oficial, teria sido penalizada por uma desmobilização de militantes - vá-se acreditar! - por descontentamentos quanto ao endosso do governo socialista. Mas, lá está, na CDU não conhecemos rosto ao desafiador - se um existe, com os formalismos de Montenegro ou Pinto Luz, qualquer um deles de fracos augúrios para os laranjinhas.
Paralelamente, é perfeitamente possível que o tabu, que não é tabu, esteja resolvido no dia em que a presente crónica seja publicada, e que as minhas especulações surjam cobertas de tanto bolor, como um queijo camembert. Em todo o caso, estou em crer que Portugal inteiro não perceberia uma retirada de Rui Rio. É certo que continua a não ser entendido, nem a fazer-se entender, e que a imprensa lhe desconta o que escolhe não relevar.
Tome-se o exemplo do «eu também tenho um Centeno», que equivale a designar por «kispos» os anoraques, por «klennexes» os lenços descartáveis, por «securitas» os seguranças avulsos. Recordemos que, a seu devido tempo, o Centeno foi cotado como um «Ronaldo das Finanças». Há um sentido transposto das expressões que todos os propagandistas conhecem. Assim, mais do que endeusar o unhas-de-fome dos socialistas, o que Rio terá dito, simplesmente, é que também tinha alguém de certa habilidade para as contas; o que disse, no frente-a-frente com o Costa, é que os números do antagonista lhe vinham por espírito santo de orelha, grilo falante que ele, Rio, também teria na sua corte.
Quanto à parte em que a avestruz tocava Strauss. Bem, é só uma implausibilidade, em história de resto verosímil, e para dar um toque germanófilo. Ah! Os alemães pescam à primeira. O Rio está mesmo mal habituado.
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