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Braga, quinta-feira

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A Banca não tem aneurismas ao fim-de-semana

Ser Dirigente no CNE - Desafios

Ideias

2015-12-27 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Corriam os princípios dos anos 80 e Banca rimava com Branca. A oficial abonava depósitos à roda dos 20% ao ano, e um certo escritório paralelo prometia sem falhas seis vezes mais. Não houve colchão que não tivesse sido revirado, nem forro que não tivesse sido cuidadosamente aberto pelo lado secreto, e malas se encheram de notas, e tesouros se entregaram à guarda de confiável velhinha. A máquina de fazer dinheiro cedo se provou ser um embuste, a milagreira foi de cana, e com ela parte dos seus agentes e estado-maior.

No rescaldo da vigarice, milhões mudaram de mãos, perdeu quem acreditou no mágico toque de Midas, mas o Orçamento de Estado não buliu milésima que fosse. Anos passados, não é que banqueiro com nome na praça oficial e escritório chique em Nova Iorque não põe em marcha a mesma aldrabrice? Por cá, com a Branquinha - mulher com escritório em vão de escada - teria ido no engodo quem era parolo, quem dera em acreditar que as notas se multiplicavam à velocidade de pães e peixes nas margens do mar da Galileia, mas a clientela de um certo Madoff era tudo menos gente provinciana e pouco esclarecida, eles próprios banqueiros e financeiros, gestores de fundos e grandes empresários.

Arrumo Madoff sem equacionar os prejuízos que tenha provocado entre nós. Dou um pequeno salto no tempo, aterro na crise financeira da bancarrota e da troika. Pois que o nosso problema se prendia com o financiamento do Estado. Na Espanha, na Irlanda, na Islândia - aí, sim, o problema era dos bancos. Porém, entre nós, os bancos eram da solidez de aço temperado, e não havia teste de stress que não atestasse a competência das nossas casas financeiras e a argúcia dos zelosos pastores de notas que delas cuidavam. Um problemazito no banco X, porque o homem era assim e assado, depois outro problemazito no banco Y, por razões próximas e manifesta incompetência individual...

Depois foi a razia do banco do regime, agora é o afundar do banco das ilhas... Caricato é que, de rabinho de fora, não há ex-banqueiro ou ex- ministro que não venha com a converça de que tudo acabou sendo pessimamente tratado por quem lhes sucedeu, que por muito menos teria sido possível fazer mais e melhor, que com cinco minutos ou um dia de paciência teriam eles chegado à boa solução, e de forma exemplar.

Vamos com o quarto banco a entrar-nos pelos bolsos dentro, e a cada novo colapso há qualquer coisa que se evapora dos orça- mentos individuais e dos plafonds da Educação, da Saúde, por certo da Segurança Social. E assim morre um David, porque não há quem resolva um aneurisma ao fim-de-semana. Alguém se demite, e o gesto é aplaudido com voz de ministro - que os demissionários não seriam os responsáveis directos, diz-se, antes funcionários que com alto sentido do dever assumiam as falhas dos serviços. E que viria inquérito, para por a nú lacunas e recauchutar orgânicas.

Mas o inquérito que é posto em marcha ao quarto ou quinto episódio, se tivesse sido ao primeiro, o tal de David ainda cá an- daria. Contudo: inquérito para quê? Acaso para concluir que. para um aneurisma, a terça-feira às duas da tarde é exactamente a mesma coisa que o domingo às quatro da madrugada? Se é para isso, desde já lhes deixo, aos inquiridores, douta conclusão: os aneurismas não sabem a quantas andam.

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