Juntar sinergias para robustecer o território!
Voz aos Escritores
2025-05-30 às 06h00
Fotografar o Convento do Pópulo atrás de uma barriguda dá um enquadramento muito peculiar. O tronco abaulado ganha a primazia, os ramos desenham linhas alucinadas na fachada, as flores e as folhas engastam-se na tela. A fotografia sai especial e sobressai também o conjunto da Câmara Municipal. Ensaio também uma demarcação diferente, com a laranjeira em grande plano e a grande praça em fundo. Hoje tudo isto é parque de estacionamento coberto com lajedo de granito, com uma construção atípica plantada bem no meio, a não me fazer esquecer o espaço extenso e térreo onde se vangloriavam as feiras e as campeiras de antanho. Contrastes que patenteiam a evolução das coisas e do mundo. Recordo a Rua dos Capelistas e umas casas a arder, fogos e fumos políticos de um tempo confuso da vivência nacional. Vim do Palácio dos Biscainhos com a ideia de visitar a Igreja do Povo e mirar a praça bem aberta por D. Diogo de Sousa no longevo século XVI. Santa Eufémia, padroeira de todos os males, incluindo os da pele, ainda me acena dos vinhedos que aqui sobressaíam. Grandes vinhedos, grande vinha nesta nomeada Praça Conde Agrolongo, outrora Campo da Vinha. A filantropia do conde mostra-se ainda agradecida no lar onde se descansa a velhice. Caminho até à fonte donde cai água que desejo abençoada e que embebe o colo de eremitas imaginários, daqueles iniciais agostinianos. Eu sei que desapareceram num momento qualquer, que o convento prestou serviços militares e não é por acaso o relevo dos marechais, postos em elevado pedestal bem em frente do formoso edifício. Que a história, boa ou má, se retenha, para conhecimento de todos. Admiro agora as colunas, a varanda e o frontão triangular que ladeiam as torres sineiras. Lembrando-me o poema de Llorca, os sinos tangem fortemente às cinco da tarde, chamando talvez à oração. Entro em silêncio, o silêncio é poético, sedutor, e conduz à reflexão profunda, à espiritualidade. Algumas pessoas rezam o terço, reclinadas. Sento-me e aprecio o azul dos azulejos, os temas invocativos, os painéis da capela-mor alusivos à vida agostiniana. Santo Agostinho sempre foi para mim uma personagem fascinante, na sua busca pela redenção. Como não sentir nas «Confissões» a meditação que eu desejaria realizar? Fixo-me também nas capelas e nos santos das várias devoções, lá em cima os dezasseis santos da Ordem, no painel de Santa Apolónia e nos caixotões e capitéis, e pergunto-me porque lhe chamam Igreja do Pópulo, ou Igreja do Povo, relembrando a invocação a Maria que se lê na igreja romana com o seu nome, e ainda Fátima da nossa devoção, e o Sameiro mariano, e tudo junto me prende à profundez da minha introspeção. Saio, o dia está claro e o sol provoca sombras acolhedoras. Posso subir em direção à Rua dos Capelistas ou à beleza do jardim de Santa Bárbara. Em hora de calor, a atração das flores é mais forte. Passo pela Biblioteca Pública e lembro os grandes livros que li naquele lugar, as visitas ao arquivo e ao cheiro particular dos jornais antigos. Maneirismos e barrocos a confluir na memória presente, lugares da minha e da nossa história, a recordar-me sempre que sou brácaro com todo o orgulho que devo ter.
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