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A Biblioteca Digital do Cávado e o valor das publicações periódicas

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A Biblioteca Digital do Cávado e o valor das publicações periódicas

Voz às Bibliotecas

2020-01-16 às 06h00

Victor Pinho Victor Pinho

Quando em 1992, realizamos uma grande exposição de “A Imprensa Barcelense”, de 16 de Maio a 21 de Junho, e publicamos um catálogo com o fac-simile dos principais jornais e revistas barcelenses, alguns pensaram que todos eles existiam na Biblioteca Municipal. Puro engano. As atitudes dos homens e as más condições de acondicionamento e preservação, destruíram, com certeza, muitas espécies. Mas, a pesquisa, nas mais importantes bibliotecas nacionais e, sobretudo, nas que usufurem de depósito legal, permitiram-nos fazer uma resenha muito significativa da História da Imprensa Barcelense.
Quando, agora, no âmbito do PADES – Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Serviços das Bibliotecas Públicas, foi celebrado um contrato-programa entre a DGLAB – Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e a CIM – Cávado, Comunidade Intermunicipal do Cávado para a constituição de uma Biblioteca Digital do Cávado, com assinatura no Palácio Nacional da Ajuda, com a presença da Ministra da Cultura, no dia 20 de Dezembro, logo pensamos nas colecções de publicações periódicas locais.

A digitalização deste património e a constituição de uma biblioteca digital permitirão contribuir para a dar a conhecer em termos nacionais e mundiais a localidade e a região, apoiando as escolas e a educação, atraindo investigadores e turistas culturais, e apoiando os cidadãos e as comunidades de emigrantes que, nesta plataforma, encontrarão mais um motivo de conhecimento, orgulho e divulgação das suas terras.
A digitalização permitirá, ainda, assegurar a preservação dos suportes físicos destes documentos, muitas vezes frágeis e cuja manipulação direta contribui para a sua degradação. Assim, será preservada uma memória colectiva de indiscutível valor documental e patrimonial para todos os barcelenses.
O primeiro título que se publicou em Barcelos é o “O Barqueiro do Cávado", fundado em 25 de Setembro 1853 por José Silvério da Cunha Osório, mas teve vida curta. Não tinha o carácter noticioso dos jornais que se lhe seguiram e, por isso, alguns o consideram mais uma revista de carácter literário e moralista, dirigida especialmente aos jovens.

Depois de “O Barqueiro do Cávado”, surge "O Barcelense", em 23 de Outubro de 1859, também fundado por José Silvério da Cunha Osório. Conhecem-se oito séries, pelo menos, desde 1865, tendo terminado em 1881.
Em "O Barcelense", jornal político e de combate que, "apesar de várias interrupções apareceu sempre que um escândalo ou injustiça revoltava a opinião do povo de Barcelos", aquele pioneiro do jornalismo barcelense foi editor, redactor e tipógrafo.
Este título “O Barcelense” irá reaparecer em 12 de Fevereiro de 1911, já depois de implantada a República, e manter-se como semanário até à década de 1990, passando depois a mensário.

A “O Barcelense” progressista de Cunha Osório, sucede o “Eco de Barcelos”, jornal que tinha no cabeçalho o novo brasão de armas de Barcelos e a oitava do poema epitalamo do padre Manuel de Galegos, em memória da restauração de 1640. Foi fundado e dirigido por David de Barros, Joaquim Paes e João de Matos, conhecido pelo “Martignac” e membro da maçonaria. Era necessário um jornal de feição conservadora. Em volta do chefe da política conservadora em Barcelos, Joaquim António Paes de Vilas Boas reuniram-se algumas pessoas, algumas das quais de política diferente, com o objectivo de fundarem um jornal que combatesse o Barcelense.
Nestes primórdios da imprensa barcelense há a destacar a “Aurora do Cávado”, jornal literário e bibliográfico, fundado, em 14 de Agosto de 1867, pelo Dr. Rodrigo Veloso, advogado, jurisconsulto e bibliófalo. O "vademecum do bibliógrafo português", como alguém lhe chamou, foi distinguido com o “Grande Diploma de Honra” na Exposição de Imprensa, em Maio de 1898, em Lisboa.
A "Aurora do Cávado" terminou em 1901, tendo depois continuado a editar-se em Lisboa, em formato reduzido, quando o seu director passou a exercer ali a sua actividade profissional, e "teve nome em todo o país, principalmente pelas suas interessantes secções bibliográficas da autoria do Dr. Rodrigo Veloso".

Dois jornais vão depois marcar os finais do século XIX até à implantação da República, apoiando respectivamente o Conselheiro José Novais e o Dr. José Júlio Vieira Ramos, os lideres locais dos dois grandes partidos que se alternavam no poder, criando aquilo que se designou por rotativismo. Mantiveram-se, mesmo depois desta implantada, fiéis às suas origens monárquicas.
Em 7 de Agosto de 1879, surge a “Folha da Manhã”, orgão do Partido Regenerador, fundada e dirigida pelo capelão militar João Baptista de Lima que faleceu, apenas com 38 anos de idade, em 15 de Outubro de 1879. Teve, a partir de 20 de Maio de 1880, como redactor, o Dr. Ludgero Ramires, advogado nesta comarca. Na fase final, foi dirigida por Albino Leite.
Em 9 de Março de 1890, aparece “O Comércio de Barcelos”, orgão do Partido Progressista, fundado por José de Azevedo, Domingos Figueiredo, gerente do Banco de Barcelos e o Abade António Pais, o “Pancrácio” das “Cartas d’Aldeia” e pároco de Roriz.

De destacar ainda a Barcellos Revista, 1909-1912, de clara orientação regionalista, instructo-educativa, literária e científica, servida directa ou indirectamente por um leque vasto e expressivo de colaboradores e adornada com inevitáveis crónicas e notas breves de “faits divers”.
Com um perfil significativamente híbrido, a nível bibliográfico e temático, a “Barcellos Revista” reflecte bem, por um lado, o período de ruptura radicado na crise de 1890-92 e, por outro lado, a aposta em soluções redentoras à escala de uma pequena vila – sede de um tradicional concelho agrícola – esquecida do progresso, essa “cousa mais sublime”.

Estes periódicos são alguns dos muitos que foram publicados no concelho de Barcelos. Para além do seu carácter noticioso e informativo, relativo a factos da vida quotidiana, e literário, são ainda testemunho precioso do património social, económico, político e cultural dos barcelenses. São imprescindíveis para se fazer a verdadeira História de Barcelos nestes últimos dois séculos.
Este fundo documental é único no País e bastante solicitado pelos utilizadores da Biblioteca, sejam residentes no concelho ou fora dele e mesmo pelos emigrantes. Daí que seja muito importante preservar, conservar e divulgar este tipo de documentação e torná-la acessível ao público através da digitalização e da colocação on-line, na Biblioteca Digital do Cávado.

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