Correio do Minho

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A caranguejola

Automatocracia

Ideias

2016-12-30 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Há quem chame “geringonça”, e o nome até “pegou”, mas os tempos mostram que o governo na sua génese, composição, eficácia, desenvolvimento e funcionalidade é mais uma “caranguejola”, porquanto se vem revelando e projectando apenas como uma “armação mal arquitectada”, algo de pouco sólido, de precário e minorizado crédito, de fraca apresentação e desconjuntado, tal como um calhambeque mal “amanhado”, nada fiável, com “peças” de material problemático, duvidoso e pouco seguro. Todavia, e apesar da muita javardice alavancada e alardeada, tal caranguejola tem “servido” para avançar e “navegar” com “costa” à vista e “mecânicos” por perto, para gáudio de alguns aluados a viver num mundo de irrealidades e fantasias e perseguindo ideias “ensaiadas” e “congeminadas” à mesa de um café, ao balcão de um bar ou discoteca a beber um copo, ou numa “agarotada” reunião com outros iguais. Mas devido a tudo isto, à satisfação de esconsos apetites, a recorrentes teimosias, à ganância pelo poder e pela concretização de tais ideias e “princípios”, ainda que “esforçada” e “atravessada”, vimos assistindo e enfrentando no dia a dia um naipe de sorrisos, de rostos risonhos, de caras afáveis e bem dispostas e a um “resfolegar” de felicidade e alegria em certas figuras da governação, mas em quem não é difícil distinguir e vislumbrar alarvidades, javardices, petulâncias, ironias, mau carácter e desonestidade, intelectual e outras, tudo muito bem enrolado no papel prateado da mentira, aldrabice e da sem vergonha.
Aliás, mesmo vivendo-se num mundo de papalvos e lorpas, não é nada complexo e difícil descobrir no rosto desta e daquela figura do poder governamental ou parlamentar onde vinga a javardice, impera a ironia, reina a mentira, triunfa a alarvidade e mora a insensatez por mais que se queira esconder e escamotear alarvidades, disfuncionalidades e insuficiências, mesmo com preocupantes e perversas aderências a afecções ético-psíquicas em comportamento e vida. Não se enunciando nomes, será suficiente atentar-se nas TVs onde figuras e figurões do regime passam o tempo a rir, a sorrir, a dizer que está tudo bem, a dar entrevistas, a soltar piadas e a gozar com a malta, quando tudo não passa de teatro “bufo”, quando muito de uma dramática ópera já travestida de triste comédia em que vingam a farsa e a mentira de quem vive à custa do país e frui do dinheiro público com a maior e melhor das ironias e sorrisos. E sem solução à vista, diga-se, porque a crise está para durar ( a vida no dia a dia diz-nos isso mesmo), a dívida pública cresce, a economia não alavanca, o dinheiro está “caro” e a juros intoleráveis e os impostos aumentam, não bastando “perorar-se” sobre idiotas e patéticas previsões e dúbias estatísticas quando não se cortam as despesas do Estado.
A vitória do «não» em Itália e a queda de Matteo Renzi, que apostava numa reforma da muito politizada e pesada orgânica de governação do país, fez-nos pensar, e muito. O «sim», idealizado, afecta- ria todo o mundo dos políticos, deputados, senadores e dos que viviam de aderências ao poder e dinheiros públicos, já rotinados em sucessivas eleições, governos e numa endémica instabilidade, mas, secundando E.Dâmaso (CM, 12.12.16), a Itália deixou fugir uma oportunidade de vencer um drama em que se tornou todo um passado de 64 governos, e arrisca-se a morrer “esmagada por 350 mil milhões de euros de uma dívida incontrolável” e “com ela o resto do sonho europeu”, quando podia ser exemplo para outros países, inclusive Portugal. Mas há sempre incontornáveis interesses pessoais e políticos a “minar” e a “desacreditar” as democracias, porque adstringentes, onerosas, interesseiras e rotinadas, e que po- dem “alimentar” o seu fim.
Portugal não é a Itália, mas por cá há quem viva da política e para a política, que se tornou “um meio para atingir outros fins” e “ficou refém de interesses privados, na área financeira e económica” (O.Ribeiro, CM, 11.12.16.), sendo hoje incontornável que para se ser socialmente “alguém”, “conhecido”, “falado” e “projectado” importa cada vez mais envolver-se na “pouca vergonha” dourada, viciosa e “viscosa” da política, que muitos reportam como um “bordel” (ouvimo-lo numa telenovela brasileira). E se o vocábulo pode “chocar”, a crua realidade da imagem, na sua profundidade, leva-nos a evocar todos quantos ao longo dos anos serviram de “patroa”, satisfazendo e respondendo a seus clientes (os votantes) e chamando “as meninas” à “sala”, à função, à governação, naturalmente revisitando e analisando os seus sentido das responsabilidades, bom senso e sensibilidade para com o povo. Um povo que, com Teodora Cardoso, sente que «há demasiados impostos e demasiadas alterações de impostos» (CM, 11.12.16), dá razão a Santana Lopes quando diz que «na política pode-se morrer várias vezes»”(id.) e tem consciência da “pouca vergonha” em que se tornou a política, pois político ”é como o gato, tem sete vidas e cai de pé”, como se diz também em brasileiro.
Aliás nas próximas autárquicas irão surgir muitos “mortos-vivos”, alguns com mais ou menos processos, mas há sempre quem se meta na política e aceite ser ministro, já que «a vantagem de ser ministro é um dia vir a ser ex-ministro», como diz O. Ribeiro, porque depois tais “servidores” do povo passam a viver com mais alcavalas, “tachos” e tudo o resto, apesar de terem sido tão só meras e não fiáveis peças de qualquer “caranguejola”. O que nos leva a lamentar que não surja por cá um Matteo Renzi que consiga “dar a volta” aos partidos, manietados por compromissos e promessas, “convencendo-os” a fazer vingar um corte no número dos deputados, das E. Reguladoras, institutos públicos e outras onerosas “bugigangas” da democracia, porque o povo, se consultado, não deixaria de se pronunciar por um «sim», e pelo fim de muitas “disfuncionalidades” e “loucuras” democráticas, bem pesadas para o erário público. Aliás o M. Mendes, o “braço televisivo” do Marcelo, podia sugerir e convencer o Presidente da bondade de uma consulta popular, revertendo-a numa rentável manifestação de afecto pelo povo. Talvez o “distraísse” do seu fervor por condecorações, banalizando-as, e do seu perverso pendor para intervenções, comentários, observações, beijos e selfies.
Concluindo, não resistimos à transcrição de parte de um “Natal Leaks” do C.M. de 20.12.16, prefigurado numa “mensagem” de Costa ao Jerónimo, a quem justifica e diz que “as nossas prendas já estão despachadas”, acrescentando: “Em 2017 era bom entrarmos mais no eleitorado conservador. Tive a ideia de fazermos um presépio vivo. Tu fazias de S. José, a Catarina da Nossa Senhora e eu, claro, de Menino Jesus. No fundo, a história é a mesma. Eu nasci sem vocês terem tido relações. Convidamos o Marcelo para anjo da anunciação e está feito. A igreja vai adorar. Não metemos nem burro nem boi porque o tótó do PAN pode achar que é maus tratos a animais exibi-los para fins partidários”. Aliás, um imperdível “naco de humor político” nesta época especial e num tempo em que o mais salutar será mesmo sorrir.

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