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A Cidade do Desporto deixou saudades

Arte, cultura e tecnologia, uma simbiose perfeita no AEPL

A Cidade do Desporto deixou saudades

Ideias

2024-07-25 às 06h00

Artur Feio Artur Feio

De acordo com os Censos de 2021, Braga possui uma percentagem de residentes, com idade superior aos 65 anos, que chega aos 18,2%, tendo vindo a aumentar, desde 2011, de 81 para 131 o número de idosos por cada 100 jovens. Por outro lado, os jovens (dos 0 aos 14 anos), no total de 26.753, diminuíram em 2.914 face a 2011. Para terminar, e face a 2011, o número de reformados aumentou 19,4%, situando-se atualmente nos 37.094.
Em 2021, Braga era habitada por 193 mil habitantes, o que nos permite concluir que o concelho da capital do distrito possui mais de 35 mil pessoas com idade superior a 65 anos. O aumento da esperança média de vida, e o envelhecimento da população, são fenómenos que todas as cidades da Europa enfrentam e a que Braga também não é alheia. Em 2014 o concelho de Braga já tinha mais população idosa do que jovem (cf. Carta Desportiva de Braga – 2014, p. 48), o que tornou prioritário o desenvolvimento de estratégias municipais para que as pessoas vivam da melhor maneira possível o processo de envelhecimento.
E que melhor forma existe de melhorar a qualidade de vida e bem-estar da população, combatendo o seu envelhecimento passivo, que não seja através de boas práticas de saúde e de uma vida ativa, quer em termos de funcionamento físico, quer de participação social?
Constatou-se, com a Carta Desportiva de 2014, a elevada área desportiva reservada ao desporto formal, em contraponto com a reduzida preocupação com a prática informal, tão premente no atual contexto.
O desporto de lazer gera relaxamento, produz divertimento e favorece o desenvolvimento da pessoa. O primeiro permite recuperar energias, o segundo combate o aborrecimento de uma vida rotineira, e o terceiro possibilita a participação social mais alargada, mais livre, e uma cultura desinteressada (sem competição) do corpo, da sensibilidade e da razão, como reitera a Organização Mundial de Saúde.
Agora, sejamos gratos: isto só é possível porque os anteriores executivos socialistas souberam dotar o concelho de equipamentos desportivos, fazendo com que a cidade dos arcebispos fosse o centro de um território com a maior área desportiva por habitante em Portugal, bem acima da média europeia. Foi este o grande argumento que permitiu que Braga fosse escolhida como Cidade Europeia do Desporto em 2018. Mas falarmos de desporto no concelho de Braga é estagnarmos em 2013. Nesse ano, Braga possuía 872 instalações desportivas e recreativas e 733 mil metros quadrados de área desportiva, ou seja, quatro metros por pessoa, com um dado interessante: 80 por cento das infraestruturas já eram acessíveis a pessoas com deficiência motora. Desde essa altura nem um único investimento desportivo de raiz foi feito na cidade. Dizer que os trilhos e os passadiços existentes contribuem para o rácio de área desportiva por habitante é tapar o sol com a peneira.
A mais do que desatualizada Carta Desportiva de Braga, que remonta a 2014, recorda-nos que o concelho tinha quase doze mil atletas, distribuídos por 52 moda- lidades e 132 clubes.
Todavia, a reduzida área para a prática informal continua a ser muito reivindicada pelos bracarenses, o que já se traduzia naquele documento:
“…São por demais conhecidas as dificuldades que os bracarenses apresentam quando desejam efetuar as actividades mais simples, tais como a caminhada, a corrida ou o andar de bicicleta, atividades com grande relevância no atual contexto, e para que, infelizmente, Braga, não se encontra capaz de dar uma resposta cabal, colocando estes praticantes em risco, ao efetuarem estas suas atividades em vias públicas com elevada intensidade de trânsito…”.
Passados dez anos da apresentação desta Carta Desportiva, os bracarenses têm uma mão cheia de quase nada neste domínio, e todos sabemos que há muito trabalho pela frente.
Em maio de 2014, Ricardo Rio prometia detetar as principais lacunas a suprir na área do desporto, tendo em vista uma aposta futura de complementaridade. A pergunta que se coloca é: em três mandatos, em quase doze anos, o que é que Ricardo Rio supriu?
O que dizer da eterna promessa de requalificação do Pavilhão Sá Leite ou da construção da Academia de Ginástica de Braga.? Ou da cobertura das Piscinas Municipais das Parretas? O que há de novo na construção do Campo Desportivo 10 de Outubro, em Esporões, do Campo de Gualtar e do alargamento, para as medidas legais, do Campo de Arcos S. Paio, onde o acordo com os proprietários dos terrenos contíguos continua na gaveta?
E o que dizer sobre o processo de reabilitação do Estádio 1.º de Maio, garantindo a salvaguarda da estrutura e a utilização para fins coletivos de diversas modalidades?
O que podemos dizer sobre a idílica e eleitoralista elaboração de um Plano de Desenvolvimento Desportivo para o concelho de Braga, ou sobre a elaboração de um programa de deteção de talentos desportivos e respetivo encaminhamento para os clubes formadores? Todas estas medidas foram inscritas no compromisso eleitoral da Coligação com os bracarenses.
O desporto é um direito e os bracarenses merecem que seja pensado e organizado com o objetivo de chegar a todos, cumprindo as suas necessidades e desejos. É urgente, necessário e imprescindível, que a autarquia deixe de limitar-se a constatar problemas e, em vez disso, promova atividades de valor acrescentado para a população.
O desporto é um reflexo de modernidade, e os bracarenses não merecem ficar para trás. É da responsabilidade e da competência da Câmara Municipal de Braga promover um desenvolvimento desportivo estratégico, organizado, coerente, sustentado e de qualidade, de modo a criar condições de prática e de igualdade de oportunidades para todos os cidadãos.
As pessoas merecem muito mais e, sobretudo, têm direito a melhor. Se os clubes elevam o nome de Braga no mundo, à Câmara de Braga exige-se que eleve a prática desportiva e recreativa dos bracarenses.

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