A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2024-05-13 às 06h00
São cerca de 400 milhões de eleitores que, em 27 países, vão eleger 720 deputados nas próximas eleições europeias, influenciando também os nomes dos presidentes da Comissão Europeia, do Parlamento e do Conselho Europeu. Nunca como desta vez, a ameaça dos populistas foi tão grande, porque agora não estarão à margem, mas bem no centro do sistema que tanto contestam.
Percorrendo as intenções de voto dos países da União Europeia, encontramos as formações radicais muito bem posicionadas em vários países, a saber: Áustria, Bélgica, Hungria, Itália, Países Baixos. Em França, o duelo entre Jordan Bardella, o líder do partido e da lista da União Nacional, e Valérie Hayer, a candidata da coligação centrista, deve garantir à extrema-direita um excelente resultado, protagonizando um golpe de morte a Emmanuel Macron que, nas últimas semanas, não tem parado de fazer declarações quer a jornalistas franceses, quer a jornalistas estrangeiros sobre os riscos que a Europa corre no atual contexto. À revista The Economist, falou mesmo num “perigo mortal” ...
Em Portugal, o Chega espera alcançar bons resultados, mas confronta-se com um sério problema: a falta de notoriedade do candidato que escolheu para liderar a sua lista. António Tânger Corrêa, ex-embaixador e vice-presidente do partido, não é propriamente um nome conhecido. Mas nenhum nome o seria, porque o Chega tem vivido, até hoje, da popularidade de apenas um dos seus militantes: André Ventura. No entanto, há mais políticos a disputar o mesmo terreno. Sebastião Bogalho, o candidato da AD, e Joana Amaral Dias, a cabeça de lista do ADN, serão certamente vozes que, aqui e ali, defenderão teses que André Ventura não rejeitará. E terão decerto uma performance discursiva muito próxima do estilo do líder do Chega. O que dificultará bastante a afirmação pública e mediática de Tânger Corrêa.
Paralelamente à caravana eleitoral que cada lista colocará na estrada e das estratégias políticas que os candidatos ensaiarão nos debates da rádio e da televisão, outra dimensão da campanha a merecer atenção é aquilo que acontecerá nas redes sociais. Já sabemos que os partidos populistas encontram aí grande parte da sua força. Sendo plataformas sem mediação profissional ou escrutínio crítico e organizado, essas contas influenciam eleitorado mais vulnerável ou de voto mais volátil e exercem grande atração entre os mais novos, uma franja que crescerá nestas eleições.
Há ainda uma variável a ponderar: a influência da Rússia. Líderes políticos como Roberta Metsola ou Charles Michel já defenderam que é preciso estar vigilante, porque o período que atravessamos é demasiado agitado. Os média internacionais há poucas semanas noticiavam o apoio financeiro russo a determinados eurodeputados da extrema-direita. A revista der Spiegel tem ilustrado esse apoio com o caso do partido Alternativa para a Alemanha.
A menos de um mês para as eleições europeias, é aconselhável acompanhar com atenção o que se passa. Porque o nosso voto influenciará (muito) os caminhos da Europa, ou seja, a nossa vida.
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