Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel
Ideias
2023-07-11 às 06h00
Na obra “A oeste nada de novo”, o jovem protagonista Paul Bäumer voluntaria-se para a guerra, seduzido por discursos de ocasião e conveniência, demonstrando como a humanidade está sempre mais perto da perdição quando se aproxima da irracionalidade e do facilitismo desintelectualizado.
Para o que nos importa aqui, a citação da obra e o trocadilho do título pretendem sublinhar como a ação ponderada, sustentada e refletida dos políticos, mesmo os locais, pode ajudar decisivamente a derrotar o populismo e a informar a população.
Vejamos, o Rio Este tem sido terreno fértil para as maiores demagogias grassarem, ainda que sob o manto da genuína preocupação cívica.
Como é sabido, durante décadas, o único rio que atravessa a cidade foi severamente maltratado, quer pela população, quer pelas entidades públicas e privadas que não se abstiveram de o entulhar e poluir irrestritamente.
A isto acresce a amputação do seu curso natural através da artificial condução da água por canais de betão e cimento que impedem a correta deposição dos sedimentos que o caudal transporta e que coloca em risco a biodiversidade que serve como medida e certificado da sua saúde.
Este lastro negativo tem origens políticas que não devem ser esquecidas, não tanto para os tradicionais ajustes de contas, que não são despiciendos, mas sobretudo para que possamos, enquanto comunidade, aprender com os erros e evitar repeti-los.
Ora, os atentados ambientais e as sevícias a que sujeitámos o Rio Este no passado encontraram uma resistência inaudita a partir de 2013, quando o executivo liderado por Ricardo Rio entrou em funções. Pela primeira vez, realizou-se um cadastro das condutas que afluíam ao Rio e que poderiam ser as responsáveis pela deposição de detritos e resíduos não autorizados.
Após serem catalogados e georreferenciados mais de 100 kms de condutas, passou a ser possível, de modo mais dinâmico e proativo, fiscalizar e agir sempre que as entidades públicas presenciassem ou lhes fossem comunicados episódios de prováveis descargas ilegais.
Também por isso, os serviços de Proteção Civil do município, que contam com uma equipa dedicada a estas matérias (no rio Este, mas também no Rio Torto, no Cávado e em qualquer curso de água dentro das fronteiras do concelho), puderam processar mais de 200 descargas e encaminhar os processos para quem tem a competência de lhes dar seguimento – a PSP ou a GNR.
Sucede, porém, que quer pela evolução que foi conseguida na última década, quer pela dificuldade em rapidamente detetar a fonte das descargas, quer, ainda, pela incipiente capacidade de punição destes comportamentos pelas entidades competentes, continuamos a assistir, se bem que cada vez de modo mais episódico e espaçado no tempo, a descargas ilegais.
O que haverá a fazer é matéria de ampla discussão, mas um dos caminhos sugeridos poderá ser o de transpor para a fiscalização dos cursos de água o que acontece já hoje em matéria de incêndios florestais e rurais. Ou seja, passar para as autarquias o poder de instruir e decidir os processos contraordenacionais relativos, pelo menos, aos terrenos que confrontem com o domínio hídrico, levando a uma ação mais efetiva e localizada.
Essa municipalização do regime contraordenacional não resolve as questões das descargas ilegais, mas pode ajudar a melhor gerir o território e potenciar respostas mais rápidas dos serviços municipais que tenham a seu cargo a salvaguarda do ambiente.
Mas o que importa sobretudo perceber, no que respeita à valorização do Este, é que o rio tem de voltar a sê-lo, ou seja, tem de poder trilhar o curso natural que ao longo de tempos imemoriais foi desenhando.
Também aqui o município fez trabalho de grande valia e que apresenta já resultados expressivos. A renaturalização do Rio Este tem sido um sucesso evidente, espelhado no aumento da biodiversidade e na reconciliação dos bracarenses com os espaços envolventes.
Deve ser, por isso, muitíssimo bem acolhida a novidade que o Vice-Presidente da APA deixou em Braga, no passado sábado, na conferência promovida pela Comissão de Urbanismo, Planeamento, Ambiente, Trânsito e Proteção Civil da Assembleia Municipal, de que um investimento de meio milhão de euros será uma realidade a breve trecho, destinado a continuar o processo de renaturalização.
Aliás, o concelho ficou a saber que esse processo se divide em três fase e que as entidades públicas se encontram em franco espírito de colaboração para concretizá-lo no mais curto espaço de tempo possível.
Se por mais não fosse – e muito mais houve ao longo da tarde do passado sábado que acrescentou ao debate e conhecimento público sobre o rio Este –, a conferência pessoalmente promovida por Joaquim Barbosa e acolhida e acarinhada por todos os restantes membros da comissão a que este membro da Assembleia Municipal preside, já teria valido a pena.
Cá está um belíssimo exemplo de como a informação, o esclarecimento e o empenho dos representantes do povo é a melhor arma para travar o populismo e a demagogia.
15 Junho 2025
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