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A força do radicalismo político

Miguel Macedo

A força do radicalismo político

Ideias

2025-02-10 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

O mundo está a mudar. Depressa. As forças radicais parecem contaminar decisões governativas, influenciar partidos políticos e manipular um eleitorado que agora manifesta as suas preferências não só através do voto, mas também por meio daquilo que escreve em redes sociais ou do modo como exerce a sua força no espaço público. Na Alemanha, o SPD decidiu promover formação em segurança nas caravanas de militantes que andam na rua. Para lhes ensinar a interagir com cidadãos mais extremistas.
É impressionante o grau de vandalismo da campanha eleitoral que decorre na Alemanha. A destruição de cartazes eleitorais tem sido muito significativa, assim como as agressões físicas a políticos. Segundo as sondagens, a CDU será o partido vencedor, mas a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, tem reduzido cada vez mais a distância da liderança das preferências de voto. Numa tentativa de atrair esse eleitorado, a União Democrata Cristão fez aprovar há dias uma moção para endurecer as leis da imigração, contando, para isso, com os votos da AfD. “Quebrou-se o cordão sanitário”, bradou-se em vários artigos de opinião; 200 mil pessoas vieram para a rua em contestação ao líder da CDU. Todavia, a opinião publicada e os grupos organizados diferem muito daquilo que é o sentir de um país.

Atente-se ao caso do Reino Unido que completa cinco anos após a saída da União Europeia. Mais de metade dos britânicos consideram um erro tal decisão, mas, quando interpelados por empresas de sondagens, preferem o eurocético Reform UK, o partido do truculento Nigel Farage. Pode parecer um contrassenso. Não é. Os partidos populistas sabem falar daquilo que são as preocupações dos cidadãos. E fazem-nos de forma clara e expressiva. E captam a atenção. Que se cuide o Partido Trabalhista, tradicionalmente mais próximo do quotidiano da classe média, mas que se debate neste momento com sérias dificuldades em criar a ideia de Estado-Providência que cuide de todos, sobretudo de quem mais precisa.
Também por cá vamos sentindo a pressão do Chega naquilo que é a postura securitária do Governo e os ajustamentos que alguns partidos vão fazendo às suas políticas, sobretudo no que diz respeito à segurança e à imigração. Os recentes escândalos que envolvem o partido de André Ventura retiram autoridade a um discurso que não se cansa de exaltar as respetivas virtudes públicas enquanto os mesmos autores se enlameiam em censuráveis vícios privados. Todavia, depressa voltaremos a uma (a)normalidade que agora progride com outras regras.

A grande questão que se coloca é se estaremos a assistir a uma reconfiguração definitiva da política democrática. O espaço de diálogo, de compromisso, de responsabilidade e de verdade, essencial para a robustez das democracias, parece estar a encolher perante a crescente influência de forças populistas. Se os partidos tradicionais não forem capazes de responder eficazmente às reais preocupações dos cidadãos – e de o fazer com clareza, assertividade e soluções concretas – arriscam-se a perder definitivamente o protagonismo para aqueles que exploram medos e frustrações.

Se olharmos para o outro lado do mundo, a retórica incendiária de Donald Trump e a crescente influência dos sectores mais radicais dentro do Partido Republicano dão-nos a ver um outro modo de governar um país. E o mundo. Que será difícil de reverter. Claro que este movimento global de radicalização não é espontâneo. Antes é impulsionado por múltiplos fatores: a crise económica que empobrece as classes médias, a insegurança social provocada por migrações descontroladas, o descrédito nas elites políticas e a bolha digital das redes sociais, que multiplica discursos de ódio e cria realidades paralelas.
Se a política não encontrar um novo fôlego para se reconectar com as aspirações dos cidadãos, poderá tornar-se refém daqueles que prometem soluções fáceis para problemas complexos. Neste contexto, a sobrevivência da democracia dependerá da capacidade de todos de resistir à erosão do diálogo e da verdade. A cada um, cabe fazer a sua parte.

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