Correio do Minho

Braga, quinta-feira

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A Força que (des)faz

Entre a vergonha e o medo

A Força que (des)faz

Ideias

2021-10-06 às 06h00

João Marques João Marques

É obrigatório. Não poderia deixar de dedicar uma reflexão ao que se passou no passado dia 26 de setembro, nas eleições autárquicas que elegeram, pela terceira vez consecutiva, Ricardo Rio como Presidente da Câmara Municipal de Braga.
Queria justamente começar por aqui.
Após 37 anos de Mesquitismo, em que o PS fez de Braga aquilo que bem entendeu, a Coligação Juntos por Braga demonstrou que é possível criar uma alternativa sólida, credível e confiável. Como diz o povo “Não há mal que sempre dure...”.
Na sua maioria, os bracarenses fizeram um balanço muito positivo da governação que se iniciou em 2013 e se renovou em 2017.
Este facto é digno de especial realce, atenta a fragmentação do espaço político concelhio à direita do PS, onde surgiram duas candidaturas inéditas de partidos que apresentam, a nível nacional, uma dinâmica eleitoral nada negligenciável.
De resto, se somarmos a votação do Chega e da Iniciativa Liberal para a Câmara Municipal temos contados mais de 7000 votos. E se olharmos para dados mais finos, como os relativos à votação para a Câmara Municipal nas freguesias, o exemplo de S. Victor é elucidativo, já que a soma daqueles dois partidos equivale quase aritmeticamente aos votos que a Coligação Juntos por Braga ali perdeu face a 2017.
É certo que não se pode assumir uma transferência direta de votos entre os recém-chegados e os “incumbentes”(como agora se diz), mas ignorar os pontos de contacto não serve a uma análise séria e equilibrada.
Parece-me, no entanto, evidente que o maior ganho político da noite eleitoral destes novos partidos foi mesmo o de impedir a eleição do sétimo vereador da Coligação, ainda que tal seja de duvidosa utilidade para quem desejava afirmar um programa político alternativo ou apenas assumir-se como a voz dos descontentes. Veremos agora o que farão da representação que asseguraram na Assembleia Municipal.
Quanto ao PS, a reconquista do quarto vereador não deverá servir para grande regozijo, uma vez que, apesar de uma subida marginal face à catástrofe eleitoral de 2017 (crescendo cerca de 2700 votos), os socialistas não superam, ou sequer alcançam, a marca dos 30.000 votos, sendo a segunda vez consecutiva que tal acontece. Comparativamente, note-se que, nos últimos 20 anos, apenas em 2001 é que os votos expressos na Coligação Juntos por Braga ficaram abaixo desse patamar.
Se era “Agora”, não correu bem, se era para preparar caminho, convenhamos, é muito “poucochinho”. Aliás, a reação pós-eleitoral de Hugo Pires ilustra bem o peso que lhe saiu das costas por, depois de esventrar o PS Braga desde Lisboa, não se terem cumprido os mais negros cenários que o davam a repetir ou piorar o resultado de 2017.
Sobreviver é bom para quem não queria morrer à nascença, mas pode vir a revelar-se curto para quem esperava que o tiro de partida para as próximas eleições autárquicas acertasse em alguns dos seus putativos concorrentes.
Na CDU há a registar a manutenção de um mandato na vereação, embora com uma degradação do resultado de 2017. São perto de 2700 votos perdidos, os quais, curiosamente, correspondem ao exato número daqueles ganhos pelo PS. De novo digo, é temerário fazer qualquer ligação direta entre oscilações de votos, mas a coincidência é notável.
O que sobra, então, como conclusão da refrega eleitoral?
Desde logo o que já sublinhei: a desfragmentação, ainda que ténue, do espaço político à direita do PS enquanto facto político de relevo. A isto se juntou o “caso” conhecido de S. Victor, que se temia poder ter um efeito expressivo na votação para a autarquia, já para não falar da menos significante, mas ainda assim pública e notória, desarmonia no seio do CDS local.
Ricardo Rio e a Coligação a tudo isto sobreviveram, desfazendo qualquer dúvida sobre a robustez do seu projeto, demonstrando que a demagogia, a baixa política, a ingratidão e o show-off são armas que pouca ou nenhuma mossa causam na armadura da competência.
Daqui se conclui que está tudo bem e que se devem ignorar os sinais menos positivos que os bracarenses também entenderam formular, no dia 26, quanto à governação do último mandato? Com certeza que não.
Esta Coligação e o seu líder são as primeiras vítimas do sucesso que alcançaram, tendo o grau de exigência dos eleitores subido exponencialmente.
O crescimento ímpar da cidade e da sua massa crítica obriga a uma atenção redobrada na gestão municipal. É, pois, imperioso não claudicar nas respostas básicas a dar ao cidadão, ao mesmo tempo que se garante o reflexo palpável de grandes projetos que, pela sua delonga, podem tornar-se em simulacros de políticas e medidas, aos olhos dos que por eles mais anseiam.
Este último mandato de Rio deve, por isso, centrar-se em conciliar a correção dos chamados “inconseguimentos” com a continuação da aposta em propostas de e com futuro. Assim fazendo, estarão criadas as condições para que, em 2025, possamos continuar a votar num substantivo projeto de cidade e não num vácuo manifesto de vaidade.

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