Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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A Grande Barreira de Corais

Entre a vergonha e o medo

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Ideias

2017-04-04 às 06h00

João Marques João Marques

Podia ser na Austrália, mas não é. Nem sequer é no Atlântico. É em Braga, também envolve a ameaça do aquecimento... local, e não global, podendo este fenómeno, cá como no continente australiano, inviabilizar o futuro de Corais. No caso, falo de Miguel Corais, o candidato escolhido pelo Partido Socialista para defrontar Ricardo Rio nas eleições autárquicas do próximo dia 1 de outubro.

Num processo, no mínimo, contur- bado, os socialistas bracarenses decidiram confiar o protagonismo de cabeça de lista a um militante com reduzidas credenciais na praça pública. Não sendo uma figura mediática, nem tampouco um histórico socialista, Corais terá de se assumir como aquilo a que, no direito, se chama um “tertium genus”, uma terceira via. Ao contrário do que fez Vítor Sousa, em 2013, o novo candidato do PS já avançou uma total demarcação com o período de governação de Mesquita Machado, o tal que esteve quase quatro décadas à frente da Câmara Municipal e que, pasme-se o bracarense, nomeou este mesmo Miguel Corais para administrador do Parque de Exposições de Braga entre 2009 e 2013.

Quer fazer diferente de tudo e de todos, dos que estão e dos que estiveram, esquecendo tudo o que está para trás, supondo-se que se esqueça mesmo de si próprio. Aposta, ao que parece, na juventude como fator diferenciador e afirma-se como um “idealista pragmático”, paradoxal, mas divertido. É, portanto, este candidato híbrido, a meio caminho entre um Judas mesquitista e um Justin Trudeau da 31 de janeiro, que se apresentará aos bracarenses que, a seu tempo, avaliarão a proposta política, a valia do apelo mobilizador, mas também, seguramente, a coerência da pessoa.

Tudo isto estaria, ainda assim, no domínio do normal não fosse o facto de Corais ter-se permitido ensaiar o corte, a sangue frio, do cordão umbilical que ainda o ligava (e liga) ao período de poder mesquitista em Braga. Fê-lo, de forma nada inocente, em entrevista ao semanário “Expresso” (versão online, que é o que, por ora, se arranja), de alcance nacional, para mostrar ao país que há uma nova geração de socialistas em Braga e que essa nova geração nada tem que ver com o betão, com as piscinas olímpicas, com os escândalos de eventuais crimes, corrupções ou corruptelas do PS medieval.

A tese consiste em demonstrar como o PS caquético foi copiosamente ostracizado pelas massas de nobres bracarenses socialistas (que ainda andam por aí), os quais, à falta de melhor opção, tiveram de castigar os fiéis de Mesquita Machado, dando a vitória a Ricardo Rio, em 2013. Que visão singular sobre o que se passou, o que se passa e, porventura, o que se passará no futuro próximo. Infelizmente para Corais, ainda são muitos os socialistas bracarenses que se lembram de onde ele esteve, não no verão passado, mas no mandato passado.

São muitos, também, os socialistas que, não morrendo de amores por Mesquita, se sentiram igualmente atacados pelas palavras e pelo tom da dita entrevista, o que só demonstra o quão agregador este candidato poderá ser. De tal modo que já se veicula a hipótese de surgir uma candidatura independente, animada por todos aqueles socialistas que não se reveem em Miguel Corais. Parece que a grande barreira de Corais é ele próprio.

Hugo Pires, vereador socialista em exercício, foi letal no ataque disferido, pelo que me basto com a reprodução das suas palavras: “Trata-se de uma entrevista desajustada no tempo e no modo, que não tem como objectivo agregar e somar apoios para uma candidatura de futuro mas, isso sim, fazer um ajuste de contas com o PS. Apesar desta desastrada entrevista, em que a mediocridade das ideias, a pequenez de espírito e a falta de elevação moral são as conclusões que se podem tirar dessa sofrível explanação de umas hipotéticas ideias do candidato à Câmara de Braga, continuarei a exercer o meu mandato de Vereador da Câmara de Braga, cargo para o qual fui eleito pelos bracarenses, com todo o empenho, tentando sempre contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas, em estreita colaboração com todos aqueles que queiram contribuir de forma positiva, nunca desistindo, ao contrário de outros, de procurar as melhores soluções para o futuro de Braga”.

Se o aquecimento global tem tido nefastos e perigosos efeitos na grande barreira de corais australiana, o aquecimento do clima político local, ameaça trucidar o Corais bracarense e com ele afundar, ainda mais, o Partido Socialista concelhio. Agora que todas as candidaturas estão lançadas, faltando apenas a confirmação oficial do “segredo” mais mal guardado do mundo - a recandidatura de Ricardo Rio, a corrida parece ser a três, entre PS, PCP e BE, mas para ver quem chega em segundo lugar.

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