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A História do Óculo do Meu Pai

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

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Conta o Leitor

2013-08-22 às 06h00

Escritor Escritor

Afonso Tomás de Almeida

Remexi e voltava a remexer, mas não encontrava, aquilo que fiquei e que era daquele herói que mesmo longe ainda reside em mim, mas no meio das folhas amareladas eis que o encontro. Eram vindas como borboletas, as recordações que me tinham ficado e que ficam sempre que vejo o meu herói, mas porque sinto falta do seu amor? Sem cessar e com medo de as perdi, comecei a escreve-las num papel, recordação por recordação, naquelas folhas amareladas de velhas que eram, mas com força comecei.

Olha para o papel e a primeira gota de tinta caiu, depois, daquela veio outras e mais outras então, surge em mim, a foto de um carro, cinzento ou talvez vermelho, como sou velho, as recordações são como uma pequena bo-lha de água, tão depressa crescem, como por fracas que são, arrebentam, estava sentado no banco e vejo o seu sorriso, enquanto eu, pequeno que era, brincava com as luzes e com os piscas e num ápice, dei-lhe uma esguichadela com a escova de lavar o vidro, e ele com o seu sorriso malandro, que o caracterizava, pegou em mim, e pôs-me fora do carro e com uma garrafa molhou-me todo e eu com cara de mau fugi. Durante aquele dia, não o quis ver mais, e ele sempre com um sorriso na cara, desta vez, muito triste, então com um abraço pequeno, pedi desculpa, sinto agora, o seu amor.

Com aquela folha já escrita pego noutra, vem-me a memória um flash de brincadeira, sempre que me dava um carri-nho, era uma diversão, brincava eu e ele, mesmo quando ele chegava estafado do trabalho, sempre tinha tempo para mim, aquele era e é o meu herói das brincadeiras, mas eu malandro como era, berrei-lhe para me dar o carrinho, e ele deu-me e disse-me que nunca mais brincava comigo, mas isso não aconteceu, comprou mais um carrinho e, foi como se fosse um para mim e outro para ele, e mais uma vez acabo uma folha.

Tristemente olho para aquelas recordações e considero-te um herói, sabes uma coisa, gosto de ti, sabes porquê? Porque és o meu herói. É assim que penso, sempre que ele não está comigo, mesmo estando longe, mesmo sendo eu uma criança grande, mesmo sendo eu assim, sei certamente e acredito, que tu és para mim, a força de acreditar, não serão alguns mi-lhares de kilometros, que me separam de ti.

Quando dou por mim, já lá vai outra folha, neste momento olho em redor de mim, e vejo, que são só folhas de recordações, que foram vividas e são vividas intensamente por mim para te sentir a ti. E agora porque me lembra este óculo o meu pai? O meu pai nunca usou óculo, simplesmente, o óculo é a forma que eu tenho de o ver, mesmo ele estando longe, agora com longas palavras direi que estas são as folhas que dizem quem és, elas descrevem-te como eu, o teu óculo, as vejo. Penso que foi muita a tinta que gastei, mas creio, que valeu a pena, mas não se trata de uma pena de tristeza, mas de alegria, de uma alegria de puder ver cada dia as nossas recordação e que sem elas eu não seria nada.

Contudo porque tremo ao escrever? Porque são as emoções a emergirem a superfície da minha alma, são as saudades a emergirem a luz da terra, mas acima de tudo elas tremem porque sinto saudades tuas, porque tu és o meu herói. Por isso revejo-me nas memórias que aquelas belas folhas têm, mas sempre com a lágrima no olho, mas então porque choro? Deve-se as perguntas ou a saudade? Apesar de ele estar sempre presente, sei que este herói está sempre onde quero e necessito e será que eu estarei? Por isso choro, com medo de que estas memórias sejam apagadas pela simples falta de não saber amar estas recordações e a tua sincera vontade de me amar. Agora em pequenos passos termino.

Herói, os teus dispor para comigo, é como a flor que procura dar sombra aos seus rebentos, é como a árvore que, com saudade, guarda os seus frutos, mas acima de tudo, tu és como o espelho, que se reflecte para mim, sempre que eu necessito, e por mais que eu sinta a necessidade de partir esse espelho, sei que tu, meu herói estarás sempre comigo a meu lado e que eu com a tua ajuda nunca vacilarei, ao som da musica me despeço, à luz das recordações me guardo e ao som da tua voz me mostro, porque esse é aquele sorriso que te caracteriza e essa é a voz que diz que “és meu filho e eu amo-te.”

Assim termina, o óculo das minhas memórias, que sou eu, este pequeno ser, mas grande em fisionomia, que termina a história, lembrando o meu pai, que reside dentro de mim, mas fora do meu alcance, porque pode estar noutro país, ou noutro continente, mas sei, que ao final deste texto, me recordarei, através do óculo de mais memórias, e aquelas folhas amareladas darão um livro, ao qual chamarei “ A História do Óculo do Meu Pai.”

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