A responsabilidade de todos
Ensino
2019-10-09 às 06h00
Vivemos numa sociedade mais informada e consciente, contudo a influência dos outros é fundamental para a nossa tomada de decisão, e isso abre espaço para uma desinformação cada vez maior.
A Internet permitiu a democratização do acesso à informação, o que tem provocado significativas alterações no perfil do novo consumidor em Portugal, e um pouco por todo o mundo.
Com mais acesso à informação, os consumidores criam mais expectativas em relação à qualidade de um produto ou de um serviço, bem como no atendimento e apoio ao cliente. E, a web e todos os seus serviços associados, foi a grande responsável por esta mudança de paradigma. Através da sua conectividade e transparência, permitiu a ascensão de novos modelos de negócios, que modificaram a forma como as marcas e as empresas se relacionam com os consumidores.
No entanto, e apesar de haver consumidores e utilizadores cada vez mais informados, nunca como hoje, a influência dos outros é tão decisiva para a nossa tomada de decisão de compra. Philip Kotler refere no livro Marketing 4.0, que “a transferência de poder também influencia as pessoas (…) os consumidores preocupam-se cada vez mais com a opinião dos outros”. Atualmente, os consumidores alcançaram um papel muito mais ativo junto das grandes empresas e das grandes marcas. Possuem uma força crucial para o sucesso das marcas, pois partilham histórias sobre as marcas, e as suas opiniões têm influência sobre os outros.
O consumidor antes de tomar uma decisão para a compra de um determinado produto ou serviço, procura obter informação junto dos seus pares, efetua exaustivas pesquisas na Web, pede aconselhamento através de perguntas nas redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter), e aconselha-se em aplicações baseadas na sua maioria em modelos de negócio por subscrição. Empresas como a Uber e a Netflix são exemplos de como estes modelos de negócio por subscrição são uma tendência crescente e um fenómeno com uma adesão cada vez maior por parte dos consumidores, o que obriga a que as organizações estejam atentas para que não sejam ultrapassadas pelos seus concorrentes.
Os consumidores são os principais responsáveis pelo sucesso crescente que os serviços de subscrição têm tido, pois as vantagens inerentes também são inequívocas. A possibilidade de personalização do produto/serviço, a comodidade, facilidade de acesso, e a redução de custos iniciais e de manutenção são alguns dos fatores que levam à preferência dos consumidores por serviços baseados nestes modelos.
A opinião que a maioria dos consumidores tem atualmente sobre um produto, ou mesmo sobre uma marca ou empresa, é baseada nas opiniões e comentários que desconhecidos efetuam em sítios web e outras aplicações. Quer seja a opinião sobre um restaurante numa aplicação de escolha de restaurantes, os comentários de hóspedes de um hotel num site de reservas de quartos, a avaliação de um filme feita por uma blogger, ou mesmo a opinião de uma instagrammer sobre um creme de beleza ou sobre um amaciador para o cabelo.
Por mais estranho que possa parecer, paradoxalmente, todos nós enquanto consumidores, depositamos mais confiança em comentários e opiniões de estranhos, do que na publicidade ou até mesmo em análises feitas por especialistas. Somos influenciados diariamente por opiniões emitidas por figuras públicas e outras que surgem no espectro das redes sociais. Dependemos fortemente da validação e da experiência passada de outros, seja de familiares, amigos, consumidores e influenciadores para a tomada de decisão numa compra, o que numa sociedade cada vez mais informada, é quase um absurdo. No livro “Influence: The Psychology of Persuasion”, Robert B. Cialdini explica por que razão somos persuadidos a concordar com a opinião de outros, e como isso altera inclusivamente o nosso comportamento, levando a que sejamos nós próprios posteriormente a tentar convencer os outros. Os consumidores têm hoje um poder na economia como nunca tiveram anteriormente, e as marcas já o perceberam, sendo eles próprios cada vez mais utilizados para a promoção e divulgação dos seus produtos.
A influência não se resume apenas aos influenciadores digitais, que sugerem diariamente os produtos aos seus seguidores, nem apenas às grandes organizações e marcas que cada vez mais adotam estas estratégias para os seus negócios. Diariamente, somos bombardeados por notícias e conteúdos falsos, que através da desinformação, tentam influenciar seja a nível social ou político, bem como na adoção de diferentes estilos e comportamentos de vida.
A eliminação desta desinformação passa por 2 vertentes. Primeiramente, através de uma maior valorização dos meios de comunicação social como os principais veículos de informação fidedigna e confiável. Por outro lado, passa também pela formação digital dos utilizadores das tecnologias, para que consigam de forma autónoma identificar as notícias e os conteúdos falsos.
14 Março 2024
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