A Economia não cresce com muros
Escreve quem sabe
2024-02-04 às 06h00
“O mínimo que se pode pedir a uma escultura, é que ela não se mexa.» A tirada é de Salvador Dali e vitupera um cultor – ou vários – da arte cinética, das Instalações conceptuais animadas que a Época validava como arte. Não sei se visaria Jean Tinguely, diante de cujas propostas ainda hoje sustemos a respiração. Esquemática e rudimentar fosse a Instalação depreciada, pobre quanto o seja o «Porta Aberta» levantado a Dom Diogo de Sousa no Campo da Vinha, ficaria ainda assim a anos-luz do «Merda de Artista» de Piero Manzoni e, para quem não o saiba, aqui registo que se trata de um devaneio fecal posto em mercado a peso de ouro. Sim, fez Manzoni enlatar fezes próprias, como uma conserva. E sim, houve quem as adquirisse, não só na altura, mas em sessões posteriores de leiloeiras.
Vamos a todas! O Povo, porque inculto, crédulo e manipulável; as elites, pelo que exultam com o que sai da forma, com o que porta os ares de moderno, de transgressor. O drama, contudo, é que a vida verdadeira é um pouco mais fastidiosa, porque o rio teime em correr para a foz, e porque todas as revoluções anunciadas como definitivas sejam passageiras.
Vem isto a propósito de greves e de governos triturados, de candidatos e de eleições em que nem de dedo no nariz, porque nem com maionese ou molho de churrasco passe o prato do dia. A adesão de Portugal à CEE foi uma machadada para o pequeno produtor agrícola português, e haverá quem o recorde. Quatro décadas depois é o conjunto das agriculturas europeias que está na berlinda, porque internamente haja que acomodar os pesadelos dos beatos da eco-sustentabilidade e, porque escasseie como ir a contento de todos, então há que importar, há que multiplicar acordos de comércio livre que nos mumificam. E é engraçado ver, por exemplo, o Macron a repetir elementos do argumentário protecionista da Le Pen, sem que nem ele, nem ninguém do seu campo, reconheça as fragilidades do andar a reboque, sem que ele e respectiva corte se penitenciem de discursos de diabolização.
O André é um oportunista, um demagogo. Ele não tem soluções! E depois? E quão boas são as soluções dos outros? Quão boas foram? Onde tem estado a esquerda culta que se abespinha com o monstro? Como desemboca um País em tripla ruptura, porque se afunde em fezes próprias o Governo da República e os governos das Autonomias? Não fazerem eles como Manzoni que, compradores houvesse, resgataríamos mais metade da dívida.
Desmobilizavam sexta-feira nas imediações do Mercado Internacional de Rungis e, hora muito matinal, cantarolava um trio de agricultores o «parole-parole-parole», nenhum dos quais com idade de o ter ouvido nos ’70 a Delon e Dalida. Treta, um da boca para fora para suster o que uns não querem que continue e que outros não querem continuar. Daqui até ao fim do mês, até à abertura da Feira Agrícola de Paris, veremos como as coisas se comporão.
Somos regidos de forma voluntarista por quem não aposta vida própria no que preconiza, no que implementa. Avança-se em tanta coisa por ideia fútil, que tanto está na mesa como dela salta. Em termos de Grande Arte, é como se os nossos regedores fossem Instalações, não Esculturas, fossem perecíveis, não perdurantes, fossem circunstanciais, não emblemáticos. Algo mexem, mas porque um vento lhes dê.
É em agonia que assistimos a uma realidade capturada por tiradas em torno de uma personagem sem perfil de estadista, ou porventura com perfil, mas sem substrato. As Instalações, como sabemos, esquecem na maior parte, acabam num canto de quintal ou na sucata, a quilo.
20 Abril 2025
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