Os amigos de Mariana (1ª parte)
Ideias
2016-10-28 às 06h00
Digitei ontem na caixa de pesquisa do Google a expressão ‘Internet of Things’ (IoT; Internet das Coisas) e obtive aproximadamente 206 000 000 de resultados. É um número impres- sionante, evidência, por certo, de tratar-se de uma poderosa ideia tecnológica em desenvolvimento. Para terem uma noção do interesse que suscita, se googlarem ‘Hilary Clinton’ e ‘Donald Trump’, que suscitam interesse planetário nos dias que correm, obtêm perto de 359 000 000 e de 451 000 000 respetivamente.
Essa ideia - já com décadas, mas cuja concretização tem sido paulatina, embora agora em aceleração - consiste tão-somente em aproveitar a infraestrutura da Internet para conectar dispositivos tecnológicos e fazê-los cooperar uns com os outros. Combinada, todavia, com duas outras ideias poderosas, a de “informacionalização do mundo” - dotar cada objeto saído dos sistemas de produção industrial nas sociedades do capitalismo avançado de um dispositivo de geolocalização (por radiofrequência) e armazenamento de dados - e a de “autonomização dos aparelhos técnicos” - dotando-os de sensores e atuadores cada vez mais performativos - ela aponta para o inter-relacionamento total, direto ou indireto, de todos os artefactos existentes. Subjaz-lhe, pois, e orienta-a, uma visão e uma ambição totalitárias.
O seu marketing tem sido feito no mercado das ideias global criando expetativas de ganhos de eficiência, poupança e liberdade. De facto, quanto tempo pouparíamos se pudéssemos dispensar rotinas domésticas programando as persianas elétricas do nosso quarto para, minutos antes do despertador matinal soar, começarem a abrir lentamente, que logo enviariam um sinal para o duche se ligar na casa de banho, que, por seu turno, uma vez terminado, emitiria um sinal para a torradeira e para a cafeteira se ligarem, que, minutos depois, comunicariam com o portão da garagem da casa para se abrir e este com o carro para sair e se colocar à porta da casa, já climatizado na temperatura que gostamos e com o rádio sintonizado na nossa estação preferida, que…
E quanta energia economizaríamos se tivéssemos sensores e atuadores pela casa que interagissem e fossem regulando a luminosidade e a temperatura, calibrando os vidros para se irem ajustando às variações de intensidade da luz solar e os condicionadores do ar para manterem o equilíbrio térmico desejado, cujo historial fosse sendo registado em contadores de eletricidade inteligentes que continuamente enviassem dados telemé- tricos para a empresa fornecedora, que informaria o mercado e o governo dos níveis de consumo agregado, que…
Os exemplos, como imaginam, podem ser muitos mais. Mas estes dois bastam para que possamos vislumbrar também alguns perigos envolvidos. O mais óbvio radica nos eventuais usos malévolos dos dados massivos sobre os nossos padrões de comportamento ou hábitos. Ao circularem através da Internet ficarão vulneráveis à pirataria. Com efeito, eles permitirão saber, entre outras coisas, quando estamos em casa ou não, em que lugar da mesma, a fazer mais ou menos precisamente o quê. Tal cria sérios riscos para a nossa segurança - e grandes oportunidades para expeditos larápios - assim como fortes ameaças à nossa privacidade - e grandes tentações para grupos empresariais mais agressivos e administrações políticas mais intrusivas.
Enfim, a ideia de uma IoT parece ir descobrindo a cada dia que passa o caminho para a realidade e isso deve inspirar-nos temor e prudência e proatividade se não quisermos que o Big Brother venha morar connosco.
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