Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante
Conta o Leitor
2022-07-19 às 06h00
Texto Carlos Barros
Em novembro de 1973 , vivendo –se em plena guerra, o furriel Barros , instalado em Gampará, com a 2ª Cart-3º grupo de combate-, escreveu uma carta à sua mãe, Jandira Lima, em Esposende, para que lhe fosse enviado para a Guiné, um bolo –de- rei da Nélia ou mesmo, da Primorosa já que na Guiné essa “preciosidade gastronómica”, não existia..
Numa comunicação breve aos soldados do seu 3º grupo, o Barros tinha informado que a malta iria ter um bolo –de- rei, no período do Natal, o que criou uma certa euforia entre os militares da caserna do 3º grupo.
Os soldados vibraram de contentamento e um bolo- de- rei na Guiné, , era “ouro sobre o azul” num ambiente de sobressaltos, de sofrimentos, de ansiedades , de tragédias e de dramas que envolvia toda a atividade da guerra,e essa notícia fez “crescer água na boca”.
Passados quinze dias, a Jandirinha enviou , via CTT, o referido bolinho, que percorreu uma longa e extenuante viagem e, finalmente, tinha chegado ao aquartelamento, encomenda essa que esteve “congelada” muito tempo, nos serviços do SPM de Bissau.
O Barros parecia um “empresário de pastelaria” e, sempre com o seu elevado sentido de partilha, e reuniu no dia 23 de dezembro, os soldados em circulo, e dividiu o bolo -de -rei em 27 bocadinhos, bem cortadinhos e apresentou uma proposta inapelável, com cariz sentencioso a todos os presentes:
-A quem sair a fava, terá de pagar, um próximo bolo-de-rei que seria comprado em Bissau!
Claro, que esse bolo em Bissau era de qualidade muito inferior, como é natural, ao da Nélia, uma pastelaria de excelência a nível local, mesmo, a norte do País.
As fatias “magricelas” foram divididas por todos os soldados que começaram a mastigar o bolo, cada um olhando e inspecionando, as bocas com a expectativa de saída da “abominável” fava …
A ansiedade era grande e todos os olhares eram acutilantes, dirigidos para todos os presentes..
O Barros, muito atento, num ápice, sentiu na boca ressequida , a maldita fava e pensou logo que estava “desgraçado” pois iria ser gozado por todos e não estava em questão, pagar outro bolo , apenas receava “apanhar um gozo” coletivo, o que era a “praxe” no meio do grupo, sempre divertido e critíco.
O Barros pensou de imediato, em sair daquela incómoda situação e sabem o que fez ele?
Engoliu a fava que foi directamente para o estômago seguindo viagem para os intestinos e o ânus, está como testemunha,…
O António Cruz, soldado natural de Barcelos gritou:
Furriel, o bolo não tinha fava e você disse que vinha sempre com uma !...
O Venâncio, o Pedralva, o Domingos e o Araújo estavam muito desconfiados mas, nada disseram, limitando-se a saborear o ressequido bolo-de-rei que estava a ser digerido muito lentamente, quase que “ruminado” para que o sabor demorasse mais um pouco porque guloseimas , no aquartelamento praticamente não existiam.
Olha Cruz, o pasteleiro chamado Geninho, esqueceu-se de colocar a fava e não sei o que se passou, desculpou-se o Barros, com um ar de comprometido!...…
Sabem, o Geninho pasteleiro da Nélia, o melhor pasteleiro da região, não se lembrou de colocar a fava e com tantos bolos-de-rei que fazia, esta escapou , justificou o Barros, com o ar muito natural. Sabem, que o Geninho, faz uns torrões de amendoim que são “os melhores do mundo”, e podem crer que, quando for de férias a Esposende, vou-vos trazer uma “manada” de torrões da Nélia, prometeu o Barros tentando atenuar a expectativa que os soldados tiveram da famosa “fava invisível”!
Uma coisa é certa, o Barros só contou a história passados uns meses aos seus companheiros da caserna que acharam muita graça à atitude do furriel que se tinha “safado” de um gozo geral.
No final, todos se levantaram, com a cadela Sintra a comer umas míseras migalhas que tinham sobrevivido , e a hora do jantar estava a chegar com os cozinheiros Eduardo, o Rochinha e o Bichas, este na Messe, já com a missão cumprida, junto aos panelões para se distribuir a comida.
Quem me dera um “caldinho de favas” feito pela minha avó Olívia Neves, disse o Barros para os seus soldados…
Estes ouviram e disseram:
- Furriel, hoje temos um caldo de favas aqui na Caserna ao jantar!
O Barros, vem pesquisou com a colher, o “interior” da malga para encontrar as ditas favas e perguntou ao soldado Simões:
-Onde estão as favas na sopa?
Todos responderam em uníssono:
- O Geninho esqueceu-se de as pôr no panelão….
O Barros, enfiou a “carapuça” e foi apanhar um pouco de ar fresco, junto ao “aquário” da caserna, onde o seco capim enfeitava a entrada do abrigo…
Gampará, 23 de Dezembro de 1973.
31 Agosto 2022
21 Agosto 2022
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário