Desigualdade no Mundo acentua-se
Voz às Bibliotecas
2024-09-12 às 06h00
Em tempos de digitalização crescente e de mudança de hábitos de consumo, o ato de comprar e ler um livro continua a ser uma janela indispensável para o conhecimento e a reflexão.
Recentemente, a APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros) encomendou um estudo à Nielsen/GfK para entender melhor os hábitos de compra e leitura de livros em Portugal. Os resultados, recentemente apresentados no relatório "Hábitos de Compra e de Leitura de Livros em Portugal", trazem dados reveladores sobre o comportamento dos leitores portugueses, suscitando questões sobre o futuro do mercado editorial e o lugar da leitura no quotidiano dos cidadãos.
De acordo com o estudo, quase metade da população portuguesa, cerca de 49%, leu pelo menos um livro no último ano, o que reflete uma realidade promissora, mas também evidencia que ainda há muito por fazer no que diz respeito à promoção da leitura. Se por um lado é animador ver que muitos ainda recorrem ao livro como fonte de entretenimento ou aprendizagem, por outro, o facto de metade da população não ter lido nenhum livro no último ano aponta para uma fragilidade nos hábitos da leitura.
O estudo também revela que a compra de livros está intimamente ligada ao poder de compra e ao nível de escolaridade dos leitores. A grande maioria dos leitores regulares pertence às classes sociais mais elevadas e com maior nível de educação formal, o que levanta uma questão essencial: será que o livro ainda é um objeto “elitista”?
A leitura deveria ser acessível a todos, independentemente do seu nível socioeconómico, e é neste ponto que as políticas públicas de incentivo à leitura e a valorização das bibliotecas têm um papel crucial.
Outro dado interessante é o crescimento da compra de livros online, que tem vindo a ganhar terreno em relação às livrarias físicas, impulsionada pela transformação provocada pela pandemia e pelo conforto da compra remota.
Este fenómeno pode, no entanto, ser uma faca de dois gumes. Se, por um lado, facilita o acesso ao livro em locais onde as livrarias físicas escasseiam, por outro, representa uma ameaça ao comércio local e ao encontro físico com os livros e os seus autores, algo que faz parte da magia da experiência literária. Além disso, os livros digitais e os audiolivros começam a ganhar algum espaço no mercado, embora ainda representem uma fatia muito pequena em comparação com o tradicional livro em papel. Tal mostra que, apesar da revolução digital, o toque e o cheiro de um livro físico continuam a ser preferidos pela maioria dos leitores. A leitura, afinal, não é apenas um ato intelectual, mas também sensorial.
Em jeito de conclusão desta crónica, o estudo da APEL/Nielsen é um retrato fiel de uma sociedade em transição, onde o livro ainda encontra o seu lugar, mas enfrenta desafios num mundo que privilegia o consumo rápido de informação. Promover o livro e a leitura é, mais do que nunca, uma necessidade.
A leitura não é apenas uma questão de cultura, mas de cidadania. Afinal, uma sociedade que lê é uma sociedade que pensa, questiona e cresce. O futuro da leitura em Portugal depende da nossa capacidade de adaptá-la aos novos tempos, sem perder a essência do que torna a literatura indispensável: a possibilidade de descobrir e mudar o mundo.
10 Outubro 2024
03 Outubro 2024
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