Entre a vergonha e o medo
Ideias
2022-09-06 às 06h00
O que sobra de três dias de eventos culturais, manifestações mais e menos espontâneas de criatividade, bem como da gente e das gentes sem precedentes nas ruas de Braga?
Para muitos sobra o sucesso retumbante de uma iniciativa que vem sendo aprimorada e constitui uma nova marca da cidade, no contexto regional e nacional.
O que relevarão, e bem, é a riqueza da programação, a adesão de toda uma cidade a uma iniciativa assente no pressuposto da disseminação da cultura e do património, onde até o tempo ajudou, rechaçando a anunciada chuva para a porta dos fundos.
Da minha parte, e sem desprimor para essa realidade, permito-me sobretudo alinhar com Ricardo Rio e destacar a harmoniosa orquestra que permitiu que todos pudessem usufruir do evento, mas também da cidade.
Ao longo destes três dias, foi verdadeiramente impressionante atravessar a moldura humana que circulava pelos diversos locais em que decorriam iniciativas ou, até, partilhar as várias filas dos 21.000 utilizadores de transportes públicos que escolheram os TUB como parceiro confiável e seguro no percurso entre casa e o centro de Braga.
E é aqui que começo a tocar naquela que, para mim, é a lição deste ano.
Julgo que nunca como nestes três dias se assistiu a uma simbiose tão perfeita entre as várias dimensões da política autárquica que cabem à Câmara Municipal gerir.
Embora se trate de um microcosmo, a Noite Branca foi um mostruário do macrocosmo que é o município.
Nele se conjugou a importância de uma rede de transportes eficaz e solícita, adequada à procura e com fiabilidade no cumprimento dos trajetos e horários, com a existência de pontos focais de centralização de passageiros. Tal como o município pretende fazer num futuro próximo, a estruturação de centros multimodais à realidade do concelho é um imperativo inadiável.
Esta dimensão liga-se umbilicalmente ao propósito da promoção de políticas sustentáveis, respeitadoras da natureza e indutoras de comportamentos ambientalmente responsáveis.
E como não lembrar aqui a dimensão simbólica dos aguadeiros que a AGERE pôs em circulação para gratuitamente disponibilizar a água da nossa rede pública, uma das melhores do país, avivando o papel crucial que desempenha nessa garantia de qualidade, ela própria essencial para que todos continuemos a preferir a água da rede àquela engarrafada.
AGERE que merece grande crédito também pela ação minuciosa e imediata dos seus funcionários na limpeza das ruas, logo após o fim da folia. Não deixa de ser impressionante como o mero regresso à normalidade possa ser fruto de um planeamento irrepreensível e de uma execução primorosa do conjunto de pessoas que se dedicam à salubridade e limpeza das nossas ruas.
É claro que sem festa, sem iniciativas, sem a Noite Branca propriamente dita, nada disto teria maior significado e está, por isso, de parabéns o pelouro da cultura e quem teve nas mãos a preparação e organização do evento.
Como estão de parabéns os agentes económicos que garantiram bem servir e bem receber quem nos visitou ao longo destes três dias. Como bracarenses, damos por garantidos estes protagonistas, mas a hotelaria, a restauração e o comércio locais são o nosso cartão de visita principal e que não pode deixar de merecer uma referência muito positiva.
Voltando ao universo municipal, a ação da Polícia Municipal e de todo o dispositivo da Proteção Civil é digna de louvor. Com a sua ação discreta, mas indispensável, asseguraram que não tivéssemos de passar as noites em branco.
Este destaque não compromete nem menoriza a igualmente importante atuação da PSP e dos serviços de emergência médica. Pelo contrário, não se recebe um milhão de pessoas sem um forte e empenhado dispositivo multidisciplinar na retaguarda, garantindo que tudo decorre de forma pacífica e ordeira.
Ora, o que é que, então, é a grande lição que decorre do sucesso desta Noite Branca? Para mim, é clara e evidente. A lição a tirar é a da necessidade de um trabalho em equipa que tire o melhor de cada uma das partes para chegar a um todo que valha mais do que a soma dessa realidade parcelar.
A grande lição da Noite Branca é a que a Coligação Juntos por Braga sempre teve como prioridade e que não deve olvidar: a união criativa faz a força.
A atomização e a criação de universos conflituantes na gestão municipal ou na realidade político-partidária que a suporta não gera credibilidade, muito menos sucesso e projetos de futuro.
Como se vê com a fragmentação evidente do Partido Socialista em Braga, há que contrariar a tentação autofágica das estéreis discussões de poder, em favor dos frutuosos debates sobre os projetos que mobilizam as pessoas e agregam várias tendências.
Por muito forte que seja uma liderança, a tentação de a eternizar ou o impulso de a defenestrar devem ceder em favor do culto e exercício dos fundamentos que a consagraram. O teste do algodão, que comprovará que a própria Coligação não esqueceu este mandamento, aproxima-se. Oxalá a noite seja boa conselheira para os amanhãs que cantam.
13 Junho 2025
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