Realizou-se entre os dias 1 e 8 de agosto, em Roma, o XXV Congresso Mundial de Filosofia, organizado pela Federação Internacional de Sociedades de Filosofia (FISP), pela Sociedade Filosófica Italiana e pela Universidade La Sapienza de Roma, com o tema geral “Philosophy across Boundaries” (A Filosofia por entre fronteiras). Recorde-se que o primeiro ocorreu em Paris, em 1900, por ocasião da Exposição Universal, e o anterior em Beijing, em 2018.
Foi uma oportunidade de extraordinário convívio intelectual na Cidade Eterna, apesar de ter sido uma semana de dies caniculares.
A cerimónia de abertura congregou na noite do primeiro dia, sob um magnífico céu estrelado, mais de quatro mil pessoas nas Termas de Caracala – datadas do século III d.c., bem perto do Circo Máximo, entre os montes Aventino e Palatino, a maior arena de entretenimento da sua época, e do Anfiteatro Flaviano, mais conhecido como Coliseu, o ex-libris da cidade de Roma.
Nela pudemos ouvir Luca Scarantino, presidente da FISP, afirmar que a Filosofia ou faz uma viragem intercultural ou corre o risco de se tornar anacrónica e limitada, perdendo a sua capacidade de dialogar efetivamente com os desafios e debates contemporâneos. A Filosofia, segundo ele, e é difícil não concordar, deve integrar diversas tradições filosóficas e valorizar pensamentos de diferentes culturas, superando a perspetiva predominantemente ocidental. Dessa forma, poderá oferecer uma visão mais ampla e profunda sobre questões universais e promover uma compreensão mais inclusiva e crítica da condição humana, assegurando a sua relevância futura.
E pudemos mais tarde escutar uma seleção de árias da ópera lírica de Puccini, Tosca, muito apropriadamente selecionadas por se comemorar este ano o centésimo aniversário da morte do compositor de Lucca e pela première da mesma ter ocorrido precisamente em Roma a 14 de janeiro de 1900.
Tomaram parte no evento, autenticamente planetário, 5723 filósofos de 109 países. Foram submetidas 8626 propostas de comunicação, das quais 4309 aceites, perto de metade, incluindo de 997 de estudantes de pós-graduação.
Ao longo de 7 dias inteiros foram discutidos nada menos que 89 tópicos (desde Estética e Filosofia da Arte até Utopia, na ordem alfabética) no campus principal de La Sapienza – localizada perto da estação de comboios Roma Termini e a meia hora a pé da Fontana di Trevi e uns 45 minutos da Cidade do Vaticano – no âmbito de 5 sessões plenárias, 10 simpósios, 489 sessões de comunicações individuais e 345 mesas-redondas – números dados por Emidio Spinelli, presidente do comité organizador italiano do evento, aquando da sessão de encerramento a 8 de agosto na Aula Magna da Reitoria da Universidade.
O XXV Congresso Mundial de Filosofia foi, sem dúvida, um marco no panorama filosófico internacional, não apenas pela sua magnitude, mas também pela diversidade de vozes e tradições que reuniu. Através de um programa vasto e abrangente, foi possível vislumbrar o futuro da Filosofia como um campo verdadeiramente global e intercultural, onde os desafios contemporâneos encontram respostas e novas perguntas a partir de perspetivas múltiplas. Durante uma intensa semana de debates, comunicações e reflexões, ficou claro que a Filosofia continua a ser uma ferramenta indispensável para compreender o mundo e a condição humana em toda a sua complexidade.
O próximo Congresso Mundial de Filosofia será em 2028, em Tóquio, prometendo dar continuidade ao diálogo intercultural e filosófico numa perspetiva transcultural.