Correio do Minho

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A menina do reino do faz-de-conta

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

Conta o Leitor

2014-07-06 às 06h00

Escritor Escritor

António Viana

Era uma vez uma menina que vivia no reino do Faz-de-Conta. Essa menina era muito bonita; tinha uns cabelos lindos loiros encaracolados, uns olhos gaiatos de meiguice e principalmente um riso-sorriso que a todos encantava!
Nesse reino, quase que encantado, todos faziam de conta, pois se no reino do Faz-de-Conta estavam, de conta teriam que fazer para nele poderem estar, brincar e terem que contar! Brincar era o que mais gostavam de fazer, eles riam uns dos outros, riam uns com os outros, pregavam partidas entre si, trocavam bilhetes de segredo, segredos que eram só deles e, giro, também eram de toda a gente! Ahahahahaha!

Que bom era viver no Faz-de-Conta.
A menina era a que mais de conta fazia, tanto fazia que ela própria já era feita de contas; contas bonitas, contas coloridas, contas de arco-íris, onde só faltava o pote de ouro no fim das suas contas para mais nos poder contar e encantar.

A menina ia fazendo de conta e de tanto fazer de conta, ela era já quase o reino do Faz-de-conta. Ela namoriscava os outros meninos, ela brincava com os outros meninos, ela ria com os outros meninos e, vejam só, ela por vezes ria de outros meninos que queriam entrar no reino do Faz-de-conta, mas não sabiam brincar ao faz de conta por serem de contas que faziam, daquelas contas complicadas, aquelas contas que os do reino do Faz-de-conta até conheciam, mas que não eram de brincar! Não, as que não fossem de brincar, não! Não eram do faz de conta!

Assim corria o reino do Faz-de-Conta entre as brincadeiras, as algazarras, as tropelias, os amores, os desamores, os risos, os amuos, os sorrisos que afastavam os amuos e as flores que tornavam os desamores em lindas amizades. Enfim, viviam felizes e entre os mais felizes estava a menina dos caracóis loiros, pois ela era o reino do Faz-de-conta!

Certa vez a menina dos caracóis amarelos, por fastio ou por brincadeira ou por vai-se lá saber o quê, quis conhecer o reino dos sérios, que de sérios até pareciam feios, carrancudos, ensimesmados, buliçosos de arrepiar num corrupio de rodar, que ela para lhes melhorar os cenhos, imaginou-os piões dum reinar a fazer de conta.

Depressa se enfadou dessa visita em que tudo andava a correr, mas não era à apanhada, não era a brincar, parecia mais um correr para coisa nenhuma ou correr para nas suas camas descansar, para de novo correr para coisa nenhuma e raramente parar! Não, este mundo não, quero voltar para brincar, estar com os meus amigos, falar, rir e quiçá até namorar!

Neste pensamento de regresso surge um menino, estranhado no seu ar por ver uma menina de aspecto tão solto, tão feliz, de sorriso largado que até parecia uma menina das histórias de fazer de conta!

O aspecto do menino que de estranhado já estava, era também de alguém que até estava prestes a sonhar, desejoso de dar um sorriso e daquela expressão, que lhe endurecia o rosto, fugir. Olá, olá, eu sou eu e tu és quem? Então tu és tu, e eu sou a menina dos Caracóis Amarelos e sou doutro reino, sou do reino do Faz-de-Conta! E logo ali se convidaram para o reino que lhe foi falado! Ela convidou-o ao ver que ele se estava a fazer de convidado nas muitas perguntas que fazia, e convidada estava ela por desagradada que se sentia naquele reino tão estranho!

Ao chegar, o menino logo tratou também de fazer de conta. Não se sabe porque nem porquê, entre o novo menino e a menina dos caracóis loiros gerou-se uma simpatia mútua. Eles riram, eles brincaram, eles trocaram olhinhos, eles embeveceram-se, mas o menino estranhou! E porque estranhou? Porque não estava habituado a brincar no reino do Faz-de-Conta e as contas que fazia já não sabia se eram as de encantar, se as de contar, se as de contas fazer, porque no reino do Faz-de-conta sempre se faz de conta. E como se faz de conta? Faz-se de conta que se encontram no faz de conta, mas se não se encontrarem, ahahhaaahh, não faz mal pois isto é tudo a fazer de conta; faz-se de conta que se gosta, e se não se gosta, não faz mal, sabem porquê? Claro que sabem,... porque isto é tudo a fazer de conta!

Assim se foi passando até que uma coisa muito gira e castiça aconteceu, a menina dos caracóis amarelos quis fazer de sério no reino do Faz-de-conta. Coisa estranha, coisa esquisita, dir-se-ia até nunca vista, o que o menino, apesar de novo no reino, de novo estranhou: fazer de sério no reino do Faz-de-Conta? E falou de sua estranheza à menina dos caracóis loiros, coisa nunca vista, coisa estranha, dir-se-ia até coisa esquisita!

Depois de ouvida a estranheza do menino, de novo a confusão se instalou, agora na menina dos caracóis loiros; seria um a sério fazer de conta ou um faz de conta a sério? Como seria? Assim falados, a menina dos caracóis loiros viu que realmente, fazer de conta, era o que ela sabia fazer melhor e continuou fazendo de conta no reino do Faz-de-Conta, apesar daquele percalço que a seriedade no faz de conta lhe havia trazido!

O menino novo continuou estranhado, mas já não tanto, pois descobriu que no reino do Faz-de-Conta existiam outros meninos para brincarem ao faz de conta. Desde aí todos continuaram a brincar, a menina dos caracóis loiros, o menino novo, os outros meninos, todos brincam ao faz de conta com contas que eles desejam que sejam só de somar e nunca as de dividir!

Mas eles aprenderam uma lição, que de certo modo já sabiam; mais ele por ser um recém-vindo do reino dos sérios, que levar seriedade ao reino do faz de conta é complicado. Quando se anda de reino em reino, de repente, que acontece? Pode-se não saber em que reino se está!

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