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A mentira tem Pedro curto

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A mentira tem Pedro curto

Ideias

2023-01-24 às 06h00

João Marques João Marques

Após semanas de novela mexicana de terceira qualidade, com acusações e inconseguimentos sobre quem, quando, onde e se sabiam de quê, quanto e como, os protagonistas vêm-se estraçalhando em praça pública à medida que a batedeira da verdade os converte em pastosa maionese.
Afinal, soube-se que o meio milhão de euros pago a uma administradora da TAP para deixar de o ser, terá sido não só sabida como autorizada pelo membro do Governo que tutelava a companhia. Cognominado de “Chefe” pela CEO da TAP, Pedro Nuno Santos disse e repetiu que não tinha sequer sido informado do pagamento da indemnização a Alexandra Reis, mas que, qual paladino, saía do governo pela responsabilidade objetiva que recai sobre qualquer Ministro da República.
Corrido menos de um mês após a demissão, eis que a “memória” se aviva e os backups de informação permitem refazer a “fita do tempo”, corrosiva expressão, que mais não faz do que remeter-nos para as inúmeras fitas que a irresponsabilidade e imaturidade que o “Chefe” foi deixando como rasto do seu percurso governativo e político.
Célebres foram as interjeições aos “banqueiros alemães” que, se hoje nos fazem rir, na altura nos deixaram estarrecidos. O ímpeto do jovem turco só é suplantado pelo seu desnorte. Atira a tudo que mexe, raramente acertando, sequer, no que se arrasta.
Depois foi o aeroporto. O Marquês de Pombal aeroportuário vinha com o projeto “chave na mão”, decidido e arrematado pelo punho decisor de quem não mandava, mas desejava um dia mandar.
Desautorizado no pelourinho da comunicação social e dependurado pela goela numa inenarrável conferência de imprensa em que, qual menino Tonecas, veio pedir desculpa pela triste figura e jurar, a pés juntos, que nunca mais haveria de fazer asneiras e desrespeitar o Professor Costa durante o que sobrava do período letivo.
O Professor Costa perdoou, mas não esqueceu. O povo português também não.
Eis que, pouco tempo depois de anunciar mais um projeto estratosférico de revolução (desta feita) da ferrovia, a aerovia voltou a trocar-lhe as voltas. A prova de que ter os pés bem assentes na terra não é garantia de equilíbrio.
O mesmo Pedro Nuno Santos, que, ainda em 2020, dizia "A música agora é outra na TAP", voltou ao enxovalho público. Ao despachar o “country” americano de David Neelman, recuperou o tradicional fado português. Retornou a míngua, a desgraça, os assombros, as mentiras, venturas e desventuras que o canto nacional tantas vezes evoca, com variações subtis.
O corolário do nosso triste descontentamento foi o fado da mentira. Já cantava Adriano Correia de Oliveira “Ninguém conhece no rosto, o que a nossa alma inspira”. Inspira, expira e exala, de tanto inexplicável ato de ocultação, dissipação e tormenta no exercício diário do “spin” político.
Com o caso do meio milhão de euros, Pedro Nuno terá encerrado a sua carreira política de vez, ou assim teria acontecido, caso Portugal fosse um país normal.
Não é possível que um político minta copiosamente sobre matéria tão importante aos portugueses, aos colegas de Governo, aos deputados, à comunicação social e a todos os seus correligionários socialistas, sem que obtenha como reação e consequência uma total e irreversível repulsa pela sua persona política, inviabilizando qualquer futuro no panorama da vida pública nacional.
Quem, de entre nós, admitiria que a pessoa que jurou, ainda em 2020, que "Qualquer intervenção do Estado na TAP implicará que o Estado acompanhe todas as decisões que são tomadas com impacto na vida da empresa", possa ter tentado desresponsabilizar-se por uma decisão tão impopular quanto indeclinavelmente sua?
Quem, de entre nós, entregaria qualquer tipo de responsabilidades políticas ou de gestão, nas suas empresas, nos seus negócios, nas suas escolas, a alguém assim?
E quem, de entre nós, subscreveria um desfalque de meio milhão de euros para o erário público (nem que indiretamente), sobretudo quando sustentado numa mera mensagem de Whatsapp?
O que mais assusta, porém, é que a leviandade com que esta personagem exerceu os seus cargos políticos não afastará a horda de fiéis seguidores que dela dependem. A captura do PS e povoamento da Administração Pública, direta e indireta, com Pedro Nunistas dos quatro costados, deve, por isso, deixar-nos em sobressalto e fazer-nos temer pelo país.
É, ainda, legítimo perguntar quantas meias-verdades e mentiras encobertas existirão? E que escola fará este estilo de exercício do poder, em que a lisura ética não tem lugar, afastada que está pela autossuficiente lei republicana e respetivas declinações em questionários tipo?
Por cá, Pedro Sousa é um conhecido indefetível do “Chefe” e diz-se que nele aposta para futuro líder do PS. Será que é nisto que se revê? Será que se mantém fiel a uma matriz de conduta deste género, assente na irresponsabilidade e infantilidade políticas? É isto que oferece a Braga?
Se assim for, nada mais resta senão voltar ao fado para constar o facto: “A vida é gosto e desgosto. Mentira tudo mentira.”

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