Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2023-05-16 às 06h00
Qualquer Democracia transporta em si mesma a génese do seu suicídio. A eleição dos preferidos pode dar origem a péssimas escolhas, legitimando vencedores que não irão respeitar os seus princípios: A liberdade de informação e expressão, e a do direito de eleger e ser eleito. A História fala por si.
Hoje, dizem alguns, isso não é possível, pois, para além de os cidadãos terem maior literacia politica e acesso à informação, existem instituições públicas e órgãos independentes que limitam a arbitrariedade e o abuso de quem possa por em risco a Democracia. Teoricamente, sim. Mas basta-nos analisar o que aconteceu nos Estados Unidos: a Democracia com maior número de instituições para esse efeito, para duvidarmos do poder dos tais filtros, já para não falarmos na Hungria ou Brasil.
A força da Democracia não se avalia apenas pela forma legal como ela está implantada num determinado território, designadamente a realização de eleições para se escolher quem governa, mas sobretudo pela credibilidade e confiança que os eleitores demonstram ter nos seus eleitos, quando participam nos atos eleitorais, acompanham criticamente o trabalho desenvolvido e ajudam a promover a alternância de poder elegendo outros cidadãos. É a perda de credibilidade e de confiança que faz com que o número de abstencionistas ultrapasse a dos votantes, destruindo o principio da Democracia: a escolha de quem representa a maioria dos cidadãos.
A credibilidade dos políticos está a diminuir quando temos a perceção que há um sentimento generalizado que considera medíocre o desempenho das suas funções. O exercício da Politica passa ser confundido com a guerrilha verbal entre os eleitos, onde as tricas e afirmações negativas servem apenas para táticas da baixa política.
A confiança perde-se na avaliação dos resultados do seu desempenho, seja no incumprimento do prometido, seja na redução da qualidade de vida da maioria dos cidadãos. Sente-se que o objetivo da política deixou de se focar no serviço público, para passar a centralizar-se nas questões mediáticas que andam à volta de comportamento dos eleitos, nomeadamente na fidelização de clãs políticos e ligação a grupos de interesse.
A Democracia promete: liberdade, diminuição progressiva das desigualdades e maiores oportunidades para todos. Sim, temos liberdade, mas onde está a diminuição das desigualdades e o aumento da equidade nas oportunidades?
É aqui que reside o perigo das Democracias: Aumento das desigualdades e a falta de oportunidades para os jovens e os menos favorecidos da vida dos seus antepassados.
Haverá um tempo em que se aceita perder liberdade porque as desigualdades se tornam insuportáveis e a inexistência de oportunidade se transforma num ataque ao mérito de quem se esforça por ter um futuro melhor.
Com uma classe média a empobrecer e a desaparecer, sufocada pelo aumento das dificuldades em satisfazer as necessidades básicas, designadamente: alimentação condigna; cuidados de saúde confiáveis; emprego que não ofereça apenas baixos salários. Aos jovens falta-lhes a esperança no futuro. A uma geração bem preparada e capacitada são oferecidos salários que não lhes proporcionam autonomia, nem sonhos de melhor vida. Para além da perda de credibilidade dos políticos, perde-se a confiança no próprio país. Perde-se a credibilidade na Democracia.
Sabemos que há muitas razões a justificar tais resultados, mas há uma que todos apontam de imediato: A culpa é a falta de qualidade dos políticos que o atual sistema político escolhe.
A Democracia está doente.
- Dos políticos vai-se dizendo:
• Não somos nós que escolhemos quem se posiciona para ser eleito, mas o sistema (leia-se partidos políticos fechados).
• A qualidade e capacidade dos escolhidos apenas é medido pela lealdade (subserviência) perante quem os escolhe para eleição.
- Da política, vai-se ouvindo:
• Os partidos políticos comportam-se como tribos, onde dificilmente há oportunidades para novas ideias, nem oportunidade de participação para desconhecidos da “família”.
• Os interesses da política deixaram de estar centrados nas ideias e doutrinas, que distinguiam as suas diferentes estratégias e objetivos a atingir, para se centrarem basicamente nas táticas de acesso ao poder, nos rostos mais conhecidos, e na gestão de conservação do status quo.
- Da Democracia vai-se constatando:
• O sistema partidário não permite saudável alternância na escolha de opções de governação credíveis, uma vez que todos eles se consideram mutuamente incapazes. Nenhum deles reconhece capacidade e mérito aos seus concorrentes. Só ouvimos dizer mal uns dos outros, violentando a credibilidade de todos.
• Os tradicionais partidos da maioria ideológica (leia-se social-democracia europeia), não se unem em causas comuns de desenvolvimento do país, necessidades publicamente reconhecidas pelos sabedores e entendidos, preferindo antes servir os lóbis de quem os captura no mediatismo de informação.
Olhemos para os nossos governantes nos últimos meses. Para os nossos deputados nos últimos anos. Para a nossa economia nas últimas décadas. Talvez possa arriscar dizer que não nos sentimos satisfeitos.
Perante estes resultados em Democracia, quem pode vir a beneficiar com isto?
• Quem pede roturas, sem garantia de diferente atuação e melhor resultado.
• Os grupos de pensamento extremo, que se tornam nichos que nos lembram más experiências do passado.
• O populismo dos milagreiros e salvadores da Pátria.
• A rua e seus anarcas.
Lembrem-se sempre que a Democracia legitima os vencedores, mas nem sempre escolhemos os justos e melhores. Cabe aos eleitos a oportunidade de alterarem esta inclinação suicida da Democracia. Sem reformas no sistema político, na Justiça e na participação cívica, dificilmente se evitará a queda. Ainda tenho esperança.?
15 Junho 2025
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário