Correio do Minho

Braga, segunda-feira

- +

A passageira pouco católica

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

Conta o Leitor

2014-07-15 às 06h00

Escritor Escritor

Félix Dias Soares


Nos dias de hoje, são muitos milhares de pessoas que viajam todos os dias através das linhas aéreas, encurtando distâncias entre Continentes. Se muitos aproveitam a viagem para trabalhar, preparando dossiês e discursos! Outros fazem amigos ao longo de muitas horas de viagem, pois uma boa conversa, é bom motivo para matar o tempo, mas também para não pensar nos riscos da viagem.

Esta história começou no Aeroporto no Porto, tendo como protagonistas um Indiano com destino à longínqua India com escala em Frankfurt, na Alemanha. E uma Portuguesa que levava o destino, a deste último País. O Indiano já na quarentena com alguns cabelos brancos sentou-se no seu lugar, passava um olhar pelas revistas encontradas sobre a sua cadeira, quando uma senhora Portuguesa de postura altiva se foi sentar ao seu lado. Não deu bom dia e olhava o companheiro de viagem de soslaio, com manifesto desprezo. O Indiano manifestava uma aparente calma e poucos minutos antes de o avião deixar o parque de embarque para entrar na pista, o Indiano benzeu-se e tirou do bolso um pequeno livro onde leu em voz baixa uma oração.

A senhora do lado não o interrompeu, mas logo que o Indiano meteu o livro ao bolso perguntou! O senhor tem medo da viagem? O Indiano olhou a senhora nos olhos pela primeira vez e num Português pouco fluido disse não ter medo algum, apenas pediu a Deus boa viagem para todos. A senhora perguntou é Católico? O Indiano respondeu que sim, acrescentado: Faço parte do um por cento dos católicos do meu País. A senhora acrescentou, que não valia a pena fazer pedidos a Deus ou aos Santos, que estes, não se ocupavam de viagens nem de aviões.

O Indiano por sua vez devolveu à senhora a mesma pergunta: A senhora também é Católica? Ela respondeu, sou Católica não praticante. Ele disse não conhecer essa religião, então a senhora insistiu, sou Católica não praticante. O Indiano respondeu, isso significa que não vai à Missa nem pratica os Mandamentos! A senhora achou pouco elegante a observação feita pelo Indiano, afirmando que só acreditava em Deus, que os Santos não faziam milagres, mas que tinha a sua fé.

O Indiano pensou para si, para quê desperdiçar o tempo com esta senhora. E aos poucos conseguiu abstrair-se e admirar lá do alto, o verde perfeito daquelas paisagens, que contrastavam com o azul do Oceano, mostrando toda a beleza da terra.

A viagem correu normalmente até entrar em território da Alemanha, mas depois tudo se complicou, tendo como causa uma violenta tempestade que se abateu sobre a região de Frankfurt. O avião de pequeno porte, ameaçava partir-se na violenta turbulência dos ventos, todos os sinais informativos dos passageiros entraram em intermitência. As hospedeiras recolheram-se no seu reduzido local da Copa, não tendo sido dado qualquer informação aos passageiros.

A senhora muito perto de entrar em pânico, olhava o Indiano que transmitia uma aparente tranquilidade, enquanto isso, o piloto debatia-se contra todas as adversidades para manter o avião em direção à pista. A senhora, ao ver um dos raios da trovoada passar ao lado da sua janela, começou a gritar para que Deus fizesse um milagre, pedindo a proteção dos Santos, outras pessoas a seguiram na imploração de Santos, que o Indiano ainda não tinha ouvido falar no seu nome. Há muito que o Indiano esperava essa reação, levantando o sobrolho de vez em quando, para ver o desespero da senhora.

O avião apesar da turbulência seguia em direção à pista, que alguns minutos depois, já estava à vista dos passageiros, só nesse momento ouviram a voz do piloto anunciar a aproximação à pista. O avião precisou de todo o comprimento da pista para aterrar, mas estavam todos a salvo. Então o Indiano só depois do avião parar no parque de desembarque, gentilmente perguntou à senhora, afinal a senhora acredita nos Santos e em Milagres! A senhora ficou muito embaraçada, admitindo que pensava morrer sem um Padre para a confessar.

O Indiano esboçou um sorriso e disse: nunca devemos subestimar as pessoas que nos rodeiam, como vê, eu confiei em Deus. A senhora olhou o Indiano e agora já com um sorriso perguntou! Fica aqui em Frankfurt? Ele respondeu, apenas faço escala aqui. Vou à India fazer uma pequena visita à minha família e volto para Portugal, para a Paróquia que me foi confiada. A senhora perguntou! Mas, afinal o senhor é Padre? Ele respondeu, sim sou Padre, mas a senhora ainda não estava suficientemente arrependida para lhe perdoar os pecados.

Na despedida, a senhora pediu desculpa e prometeu fazer uma oração sempre que viajasse, o Padre sorriu e comentou, é a Deus que deve fazer a promessa. E despediu-se de mão levantada num gesto de paz, aceitando as desculpas da senhora…


Deixa o teu comentário

Últimas Conta o Leitor

21 Agosto 2022

O tio Pepe tem 50 anos

Usamos cookies para melhorar a experiência de navegação no nosso website. Ao continuar está a aceitar a política de cookies.

Registe-se ou faça login Seta perfil

Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.




A 1ª página é sua personalize-a Seta menu

Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.

Continuará a ver as manchetes com maior destaque.

Bem-vindo ao Correio do Minho
Permita anúncios no nosso website

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios.
Utilizamos a publicidade para ajudar a financiar o nosso website.

Permitir anúncios na Antena Minho