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A Pobreza e o PRR

Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel

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A Pobreza e o PRR

Ideias

2021-05-11 às 06h00

Vítor Esperança Vítor Esperança

A pobreza pode ser medida de várias formas, mas sem grandes matemáticas podemos dizer que é pobre aquele que não consegue satisfazer as suas necessidades básicas de cidadão, ou com muita dificuldade o consegue fazer, o que leva imediatamente a ter cautela quando comparamos residentes em países diferentes, e nestes por regiões e localidades, mantendo-se verdadeiro o princípio na igualdade de direitos.
Portugal nunca foi um país de ricos, apesar de nos colocarmos no primeiro quarto dos países mais desenvolvidos em termos de PIB por habitante. Assim classificados, imaginamos um país onde existe uma classe média considerável que faria por manter o país ao nível do bom ranking dos países desenvolvidos.
Enganados. Quando vemos o é dito na recente publicação da Fundação Francisco Manuel dos Santos; “Pobreza em Portugal-Trajetos e Quotidianos”, trabalho de investigação científico coordenado pelo Professor da Universidade dos Açores, Fernando Diogo, ficamos apreensivos, mas não surpreendidos: “um terço dos pobres trabalha”.
Se a estes somarmos os desempregados (principalmente os jovens e os que provêm de rescisões de contratos precários afetados pela Pandemia) e lhe juntarmos os reformados, cuja maioria se apresenta com reformas muito baixas, então estaremos a falar de muita mais gente pobre neste país da União Europeia.
Do meu local de trabalho dou como certas as conclusões daquele estudo e confirmo a força dos números do desemprego e dos reformados.
Há pobreza em Portugal. Uma pobreza estrutural, pois quando uma família deixa de ter condições de sobrevivência, alimentando-se mal e fazendo o esforço terrível para ter um teto onde se abriga, estamos nos limites da dignidade de uma cidadania europeia.
Temos uma classe média de rendimentos baixos, confirmada pela sucessiva aproximação entre o salário mínimo e o salário médio nacional. Seja pela produtividade, seja pela cultura empresarial, seja pela baixa habilitação dos trabalhadores, ou muita má distribuição de riqueza produzida, a verdade é que se ganha mal em Portugal, onde o que comprarmos não difere muito dos preços pedidos nos outros nos países da União Europeia.
A pobreza em Portugal é endémica e histórica. A educação e a partilha de experiências com países de melhor resultado parece não ter sido suficiente para nos retirar deste “fado”.
O alargamento da educação obrigatória e o crescimento do número de cidadãos melhor preparados, não fez aumentar significativamente o salário médio em Portugal. A educação ainda não consegue servir de alavanca ao acesso a melhores rendimentos. Qualquer recém-licenciado se vê confrontado com uma oferta de trabalho com ordenado mínimo. Muitos deles aceitam profissões que não exigem habilitações para o qual foram qualificados. Mau investimento aquele que fizeram os seu pais. O melhor incentivo ao abandono escolar precoce é a ausência de expetativas de emprego melhor remunerado para os jovens qualificados, levantando-se a dúvida: Valerá a pena estudar? Sim, vale e valerá, apesar desta real e triste evidência. Os jovens não têm alternativa. Ou se preparam, ou empobrecem, ou emigram.
A minha maior preocupação vai para os menos preparados, aqueles que parecem condenados à pobreza tradicional. Nascem pobres e ficam aprisionados a esse estado de resignação social. Esta pobreza social parece não abandonar os seus indicadores de criação de riqueza/rendimentos.
Esta prisão social não abandona estigmas que parecem atrair outros problemas que fazem aumentar a pobreza. É ali que se verificam em maior número os problemas que desestruturam as relações de família, seja pela doença, pela precária empregabilidade, baixos rendimentos, atração por comportamentos desviantes. Aqui se registam o maior número de famílias onde apenas um dos membros do agregado trabalha, ou seja, com insuficiente o rendimento. Esta fragilidade é acentuada pelo crescimento das famílias monoparentais, com menores a cargo, em resultado de divórcio. Dificilmente alguma família consegue afastar-se dos limites de pobreza, quando estas situações acontecem simultaneamente e ambiente social de proximidade urbana.
Este tipo de pobreza tende a aumentar rapidamente em situação de crise económica. Ela está aí. Parece escondida por baixo de tantas medidas de apoio sociais do Governo e das Autarquias: sejam apoios aos trabalhadores (ainda) com programas como o Lay-off; aos empregadores (ainda com esperança); ou os apoios à quebra de rendimentos como os dados às famílias com guarda de filhos; ou a quem soube e quis aproveitar a facilidade das moratórias aos bancos e no arrendamento. Ocerto é que isto não lhes resolveu os problemas, apenas os deixou – momentaneamente- com menos aperto diário na solvência das suas obrigações.
As vacinas aí estão. Os casos de contágio pandémico em desaparecimento. Estamos todos ansiosos e esperançados. Queremos o regresso à normalidade, com o se fosse um recomeço de vida. Acontece que a vida não se repete.
Na Europa haverá muito dinheiro para recuperar a economia, mas temo que o dinheiro venha tarde e mal direcionado. As famílias de maior risco não verão os seus compromissos desaparecer, mas verão as suas dívidas aumentadas. Não terão a certeza de nova empregabilidade e muito menos com maiores salários. Os serviços comerciais e os ligados ao turismo abrirão com força redobrada, mas veremos a quantidade e a capacidade que trazem os seus clientes.
Haverá recuperação certamente, mas não será igual para todos. Temo que sejam justamente aquelas famílias que andam no limiar da pobreza, quem veremos aumentar as dificuldades e o risco de contribuir para o aumento do número de cidadãos e viver em pobreza.
Posso estar a ser pessimista, mas é o meu realismo perante aquilo que vou lendo e ouvindo dizer do famoso PRR, a tal “bazuca financeira”. Parece que já assisti a isto.
De estradas, passamos à ferrovia. Da renovação das infra-estrura do Estado (hospitais, escolas e grandes edifícios públicos) passamos para a modernização da administração pública. Da formação para todos, passamos para a formação mais qualificada, sem saber a quem é dirigida, para que fim e quem a ministra. Provavelmente mais do mesmo, com outras figuras na formação.
Qual é o grande desígnio nacional?
Saber aproveitar (gastar) rapidamente o dinheiro que nos puserem à disposição. O estado diz aos portugueses: lembrem-se que até 2026 teremos que executar (leia-se gastar) os milhares de milhões de euros que nos são colocados à disposição. Nós seremos os primeiros, diz o Governo!
Aos Portugueses devia-se dizer: Não gastem. Invistam. Invistam com o objetivo de ganhar dinheiro.
Todos aqueles que o conseguirem fazer, criarão riqueza. Espero que criem também mais emprego e melhor remunerado, pois da ambição do individualismo humano, também só se altera coim melhor educação.

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