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Braga, terça-feira

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A Política em cena

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

Ideias

2013-04-28 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Termina hoje o XIX Congresso do Partido Socialista. Durante três dias, os socialistas beneficiaram de um tempo e espaço mediáticos verdadeiramente excepcionais. É para isso que servem os congressos partidários: para consolidar uma imagem de poder junto da opinião pública.
Tudo é pensado ao pormenor por especialistas que tomam a seu cargo a produção de um congresso: o palco, os slogans, a imagem de fundo, a música, a disposição da sala... Congresso após congresso, dezenas de congressistas parecem estar ali a discutir ideias, mas o que importa, acima de tudo, são os jornalistas. É para eles que todos falam, principalmente para os canais de televisão que abrem a antena a infindáveis transmissões em directo.
Na sexta-feira, largos minutos antes de António José Seguro dar início aos trabalhos com um longo e marcante discurso, socialistas com notoriedade política e, consequentemente, mediática (ou vice-versa) desdobravam-se em declarações aos jornalistas. Em directo estavam a SIC Notícias, a RTP Informação, a TVI 24, o Porto Canal e a CMTV, ou seja, cinco canais temáticos de informação a que se juntavam vários jornalistas de rádio e de jornais. Às 20, surgiriam ainda os canais generalistas. Um pouco por todo o lado, viam-se muitos microfones estendidos para quem passava e os mais experientes sabem bem aproveitar essas oportunidades.
O secretário-geral do PS deixou para o discurso inaugural um ataque duríssimo às palavras proferidas pelo Presidente da República na sessão comemorativa do 25 de Abril. No dia anterior, deu uma longa entrevista destinada a sair na edição de sábado do Expresso, afirmando as mesmas críticas. Era preciso carregar na crítica para garantir a manchete do semanário que, como todos sabem, faz agendamento noticioso ao fim-de-semana. Ora aqui está como o ritmo dos jornalistas condiciona a ação dos políticos. De todos os políticos, sem exceção.
Percebendo que, por estes dias, os media noticiosos estão centrados em Santa Maria da Feira, o Governo ensaiou contra-ofensivas. Agendou para as 20h de sexta-feira uma conferência de imprensa no Ministério das Finanças destinada a falar do desfecho de negociações relativas aos contratos de 'swaps' de carácter especulativo feitos com empresas públicas, o que irritou profundamente as hostes socialistas que viram ali a subtração de um razoável tempo de antena em pleno horário nobre. E fez ainda algo mais estratégico: enviou esta semana uma carta ao secretário-geral do PS convidando-o para um novo encontro de trabalho para debater o plano do ministro da Economia para o crescimento, que incorpora propostas feitas pelo PS. Mas a missiva foi este sábado ampliada no Expresso que colocava esta notícia logo na página três, o lugar mais destacado do jornal. Eis duas formas de entrar, sem ser convidado, nas conversas dos congressistas e, simultaneamente, de lembrar aos jornalistas que há outros tópicos que extravasam o Congresso socialista.
Não falamos aqui de particularidades de determinado partido. Todos agem do mesmo modo, porque todos sabem que estes pseudo-acontecimentos ajudam a alavancar convicções, criando-se assim ondas que depois vão fazendo caminho por si. Mais do que a política, o que mais ordena hoje são as lógicas comunicacionais. Quem não percebe isso sucumbe rápido neste espaço público vergado às lógicas mediáticas.

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